As verdades dissonantes de Álice Dias*

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Aos meus grandes amigos, Lucas Afonso e Palas Paola, a quem sempre vem acompanhando e apoiando em meus escritos, dedico este breve conto!

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* As Verdades Dissonantes de Álice Dias foi um dos selecionados como ganhadores do "Concurso Farol Cultural - Contando histórias de Goiás a Paraty" de 2014.

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Muitas vezes penso que tudo não passa de um pesadelo. Mas não, tudo que passei e estou passando é o mero destino. Não sei como vai ser daqui para frente, se bom ou ruim eu simplesmente não sei. Além disso, o amor me prendeu de jeito, o que não era e não podia ser se tornou uma verdade dissonante.

Em plena década de 80 em uma cidadezinha pequena e pacata, com uma família conservadora sinto-me perdida, desolada e amaldiçoada pelo destino...

Depois do falecimento do meu pai não sei como agir e pouco tenho vontade de viver. É um melancolismo inevitável, partindo do meu interior e exteriorizando-se nos meus modos de enxergar o mundo. Minha mãe decidiu que mudaríamos para outra cidade e assim ficaríamos mais próximos dos meus avós maternos, todos nós estamos sofrendo. Ainda que seja o melhor a fazer não me conformo em ter que deixar os meus amigos para viver em outro lugar com desconhecidos é, eu disse que era meus avós, mas não disse que eu os conhecia ou mesmo se eles tinham preocupação com a gente, eles nunca demonstraram, ligaram, responderam nossas cartas ou nos visitaram. Minha mãe nunca disse nada a respeito, ela também sentia muito em ter que mudar, ela gostava de onde vivia e além disso sabia o quanto meus amigos eram importantes para mim.

Ao chegar na casa, minha avó, conhecida por Dona Cida, nos recebeu muito bem, meu avô, o Seu Raimundo, por outro lado estava com uma cara carrancuda e estranha, parecia não querer nossa presença. Saí e minha avó levou-me para o quarto que eu iria ficar, era simples, ou melhor, toda a casa era simples.

Como forma de cortesia, minha avó preparou um jantar e chamou alguns familiares. Coloquei um belo vestido azul, o mais lindo que tinha e o mesmo que ganhei de aniversário do meu pai. Quando estava pronta, alguém me chamou: "Álice? Venha aqui! Quero que conheça a filha da sua tia Dora."

Deixei minha escova de cabelo sobre a penteadeira, passei a mão na barra do vestido, olhei-me pela última vez no espelho e fui me encontrar com ela.

- Oi! - Disse abraçando-a como se já a conhecesse, era bonita, tinha cabelos longos e loiros, olhos negros, pele branca e tinha a minha altura, parecia ser muito meiga e aparentava ter uns quinze anos, tal como eu.

- Oi. Fiquei sabendo que você vai morar aqui, pois o seu pai... Bem, me chamo Juliana, Juliana Álvares da Silva - disse mudando de assunto repentinamente.

- Prazer! Chamo-me Álice Dias.

- Você já conheceu todo mundo? Fiquei sabendo que vocês são novos nessa parte da família.

- Para falar a verdade, só conheço o vovô e a vovó.

Ela pegou em minha mão e me puxou, senti algo estranho. Ela me apresentou todo mundo. No final da noite, quando todos já tinham ido embora, minha avó sentou junto comigo na varanda e começou a conversar.

- Você gostou?

- Claro, foi muito bom - fiz a melhor cara que podia e sorri.

- A Juliana contou-lhe a história dela?

O Reino de Lino CristhieOnde histórias criam vida. Descubra agora