Atena

374 25 31
                                    

Atena estava acostumada com a solidão, afinal, havia construído a vida toda dessa maneira. Desde a morte da mãe e da eterna ausência do pai, ela estava acostumada a lutar pela própria sobrevivência. Fazendo o que fosse necessário para isso. Ela era bonita, gostosa e, com o tempo, começou a entender que poderia usar isso a seu favor.

Começou a aplicar seus golpes, ganhar seu dinheiro e colecionar inimigos. Era tudo fácil, era tudo lógico, racional. Embora Atena tivesse toda a passionalidade do mundo dentro de si, ela se restringia. Negócios eram negócios. Até ele aparecer e bagunçar completamente todas as estruturas e crenças que ela tinha dentro de si.

Naquele dia no bar, observando o escândalo de longe, ela logo percebeu pela reação da mulher que ele fazia o tipo cafajeste. O tipo que levava mulheres para locais públicos a fim de evitar o drama de um término. Ela percebeu também, que ele era incrivelmente bonito e fazia o tipo dela. Ela o que queria e Atena sempre consegue aquilo que quer.

- Prazer, Atena.

- Muito Prazer, Atena. Romero.

Entrou nessa por sexo, era sobre desejo, carne e cama. Não queria romance, apenas uma noite agradável e ponto. Mas desde a primeira vez que eles dormiram juntos, ela sentiu algo que não soube explicar. Na época chamou de química, mas ao se encostar na parede do elevador ao ir embora, ainda com cheiro dele grudado nela...sabia que tinha arranjado problema. Não podia ser normal ele saber cada ponto sensível do corpo dela sem nunca a ter visto antes. Não podia ser normal a maneira perfeita como seus corpos se encaixaram, como ele não queria que ela fosse embora e como ela, também, não queria sair daquela cama.

Nada do que houve depois daquilo foi controlável. Descobrir que ele, potencialmente, tinha uma cobertura imensa tinha sido acidente. Ele ser membro da maior facção do país, também tinha sido acidente. Não estava nos planos ouvir da boca dele que estava apaixonado. Não estava nos planos ela corresponder o sentimento. Numa bola de neve que Atena não conseguiu controlar, tudo fugiu do controle.

Abandonou a racionalidade, abandonou a lógica. Não importa o quanto ela tentasse convencer a si mesma que estava nessa por dinheiro, ela sabia que era algo mais. E pela primeira vez ela deixou a passionalidade gritar. Agir. Dominar. Num misto de sentimentos desconhecidos, o relacionamento deles evolui para algo que se tornou vital para que ela conseguisse respirar. Ela precisava de Romero de um jeito que nunca precisou de ninguém na vida.

Tentou, mesmo de um jeito torto, mostrar que ela estava ali pra ele. Não pelo dinheiro, não pela facção, nem por nenhuma outra motivação além de um amor que ela nem conseguia entender de onde havia nascido. Mas a indiferença de Romero a matava pouco a pouco por dentro. Tão acostumada a ausências, a única que ela não estava preparada para sentir era a pior delas: a ausência de alguém que está ao seu lado, ao alcance das suas mãos.

Do jeito Atena de ser, ela fez tudo por ele. Tentou se aproximar, entender seu jogo, suas motivações. Tentou fazer com que ele crescesse dentro da facção e nunca, em momento algum, deixou ele duvidar que ela o amava de todo coração. Existiam momentos que ela sentia reciprocidade, onde sentia o mesmo olhar que havia recebido dele sentado no chão, ainda bêbado, quando ele admitiu o amor que sentia. Ainda sentia o olhar de desejo que ele deixava escapar quando achava que ela não estava olhando. Ainda se lembrava medo que ele sentiu quando a achou que ela havia morrido nas mãos da facção.

Ela sentia que ele podia gostar dela, mas sempre tinha algo que o segurava. Como se admitir o amor Atena fosse jogá-lo de um precipício sem volta. Como se isso causasse uma dor física nele e isso era cruel, já que ele não podia imaginar que a dor nela era muito, era infinitamente, maior. Sentada no chão da sala com Ascanio, no dia do seu aniversário, ela nunca se sentiu tão sozinha. Olhava para a porta cada vez que pensava ter escutado um barulho, esperando-o entrar na cobertura para, finalmente, dar os parabéns para ela. Como ela havia feito para ele.

ausênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora