O reencontro

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Cinco anos. Ela havia se preparado durante 5 anos pra esse momento. Trabalhando num processo interno cansativo para que Romero Romulo não a afetasse mais. Para que, quando voltasse ao Rio de janeiro e precisasse olhar no olho dele, não sentisse mais nada. Cinco anos era tempo mais do que suficiente para fazer com que o amor dela por ele diminuísse. Para que ela parasse de sentir tudo que sentia. Amor, raiva, rancor, dor, saudade. Tudo.

O processo de tirar Romero de dentro de si não tinha sido fácil e tinha lhe custado muito. Mas ela achava que tinha feito um bom trabalho. Até aquele momento.

- Atena?

Bastou um som, bastou seu nome saindo da boca dele depois de tanto tempo para ela saber que não. Ela jamais conseguiria parar de amar Romero e era irritante o efeito que ele, ainda, tinha sobre ela. Mas ela não precisava que Romero soubesse que a voz dele ainda tinha o poder de fazê-la tremer dos pés à cabeça. Ela não precisava que ele soubesse o que ela mesma sempre soube: não existia distância ou tempo suficiente para fazer com que ela parasse de amá-lo.

Dando tudo de si para se manter no controle, ela disse com a voz inabalável.

- Tio, eu mandei abaixar a arma.

- Vitória na guerra, Irmã – disse o Tio pra ela antes de abaixar a arma lentamente, olhando para Romero como quem deixa o recado: Se ela não tivesse chegado, Romero estaria morto agora.

Mas Romero, já não se importava com a expressão do Tio, com facção ou com o fato de que esteve muito perto da morte à menos de 2 minutos. Ele queria se virar para encarar Atena, para vê-la de novo e ter certeza de que era real e não algo fruto da sua imaginação.

Mas ele não conseguia se mexer. Era como se mover um único músculo fosse acabar com a magia da possibilidade. A possibilidade de ver aquele rosto novamente, de poder abraçá-la, de poder dizer pra ela tudo que não disse anos atrás. A possibilidade de dizer fica, de dizer sempre foi você. Eu te amo. E ele precisava, mais do que tudo, dessa possibilidade.

Ele ouviu passos vindo em sua direção, sentiu o perfume ficando mais forte e fechou os olhos para tentar aguçar os outros sentidos. Ouviu os passos diminuindo até pararem e, então, tomou coragem para abrir os olhos.

Como era possível, ele pensou consigo, ela ter ficado ainda mais linda ao longo desses cinco anos? Seus longos cabelos loiros continuavam nas ondas sempre perfeitas, o corpo parecia de alguma forma ainda mais definido e marcado no vestido preto, com alças finas, e com a abertura lateral que, ela com toda certeza sabia, valorizava suas pernas.

Ela era uma visão. Ela era, realmente, uma deusa.

Pela primeira vez em 5 anos seus olhares se cruzaram. Atena tentou segurar o impacto de ver o amor da sua vida novamente, mas não pode deixar de respirar fundo. Talvez os outros presentes nem tenham percebido, mas ali, no mundo particular dos dois, Romero acabara de fazer a mesma coisa. Como se terem de visto depois de tanto tempo tivesse os tirado o ar. Ficou difícil respirar.

Eles se encaravam como quem olham para uma janela do passado se questionando tudo que não foram. Tudo que poderiam ter sido e, principalmente, se questionando como as coisas seriam dali para a frente.

Foi Atena quem quebrou o silêncio entre eles, sem direcionar uma única palavra à Romero. Não por indiferença ou arrogância, mas por conhecer seus limites. Ela não sabia se teria forças pra isso ainda. Olhando para o Tio, Atena falou calmamente.

- O Romero vai fazer exatamente o que Pai tá mandando. Não vai, Romero? – olhou pra ele mas não esperou uma resposta, direcionando a sua atenção novamente ao Tio – Ele vai ser seguir o plano e a gente vai receber o carregamento como deve ser. Eu vou ficar até o carregamento chegar, pra organizar a bagunça que anda por aqui. O Pai de meu deu carta branca pra agir como eu achar melhor.

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