𝐄𝐋𝐎𝐈, 𝐄𝐋𝐎𝐈, 𝐋𝐀𝐌𝐀 𝐒𝐀𝐁𝐀𝐂𝐓𝐀𝐍𝐈?
Aquelas foram as últimas palavras proferidas pelo homem de pele pálida, Fyodor. As palavras que Fyodor ditou antes de morrer. Ou pelo menos, era o que acreditavam.
Fyodor estava deitado em uma cama espaçosa, ele abria os olhos lentamente, tendo uma visão clara do ambiente em que estava. Era um quarto com paredes de aparência rústica. Ao seu lado, havia uma pequena mesinha com alguns remédios, um vaso com flores e um pouco de água. Seria bonito se todas as flores não estivessem mortas.
─── Vejo que acordou, Fyodor. ─── Pronunciava com sotaque o platinado, que ainda não havia sido notado presente no quarto. Nikolai estava sentando em uma poltrona, diferentemente do habitual, seu olhar não era sorridente e expressivo, ele olhava para baixo, mas por vezes, levantava o olhar para garantir que Fyodor estivesse em condições aceitáveis. Naquele momento, Nikolai não utilizava a carta que escondia um de seus olhos. Talvez porque não precisaria esconder as verdades de seu olhar de Fyodor.
─── Estou aqui há quanto tempo? ─── Fyodor pronunciou com a voz enfraquecida, seus cabelos escuros estavam bagunçados, com alguns fios grudados em sua testa. Ele se ajeita na cama, notando sua situação, algumas ataduras se faziam presentes. Ele realmente havia perdido um braço. Afinal, aquela era a consequência para o homem que fugiu da morte.
Nikolai levanta seu olhar para encarar o pálido, ele estava preocupado, aquilo era irônico vindo do homem que queria matar Fyodor.
─── Está desacordado há quase 5 horas, Dos. ───Ele dizia, seus olhos notavam a fragilidade de Fyodor no momento, o homem sempre tivera seus problemas de saúde, mas aquela situação o deixava ainda mais frágil.
─── Dazai me vê como morto, estou correto? ─── Fyodor perguntava baixo, fechando os olhos lentamente. Nikolai se levanta e pega um copo de água para o mesmo, sentando-se na borda da cama, o que faz com que Fyodor o lance um olhar desconfiado.
─── Correto. ─── O platinado solta um riso leve e leva o copo de água até os lábios ressecados e machucados de Fyodor que, de primeira, lança um olhar desconfiado para o platinado, mas aceita.
─── Já está preparando seu retorno, Dos? ─── Nikolai acaba soltando um comentário provocativo, o que faz com que Fyodor apenas fique em silêncio.
Nikolai pega novas ataduras em uma estante próxima e pede o braço de Fyodor, que não tem outra escolha a não ser ceder. E assim ocorre, Nikolai começa a remover as ataduras antigas com cuidado, ele limpa o local e passa um tipo de pomada cicatrizante específica na região, cobrindo-a com novas ataduras.
─── Achei que quisesse me ver morto. ─── Fyodor murmurava enfraquecido, cortando rudemente o silêncio. Ele não se importava com sua fragilidade momentânea, ia direto ao ponto que obtinha interesse. Típico de Fyodor.
Aquelas profundas palavras pegaram o platinado de surpresa, ele não admitiria o real motivo, não para Fyodor. Nikolai rapidamente se afasta de Fyodor. O platinado estica o braço, pegando a carta que costumava ficar em seu olho direito e começa a posicioná-la ali, mas desiste no meio do caminho.
─── Dos... ─── Nikolai suspira, tentando procurar as palavras corretas para o que iria vir a proferir, mas nem mesmo ele sabia.
─── Por que? ─── O homem de saúde abatida retoma a pergunta em um tom mais forte.
O silêncio paira no quarto, Nikolai tentava formular uma boa resposta, nem ele entendia. Estava muito confuso. É claro, para Nikolai, Fyodor era o único que conseguia compreender seus sentimentos e objetivos mais profundos. De acordo com o platinado, Fyodor era seu melhor amigo. Fyodor era o único que realmente sabia o que a verdadeira liberdade significava para o platinado. Devido à esse sentimento de se sentir preso a alguém, Nikolai ansiava matá-lo. Mas por que o salvou? Por que utilizou sua habilidade de manipulação de espaço para retirar o corpo de Dostoevsky do helicóptero antes que esse explodisse? Por que ele se importava tanto? Ele queria apenas se livrar de Fyodor, mas seus sentimentos foram aprofundados, o oposto do que Nikolai queria.
─── Hora do remédio, Dos-kun! ─── Nikolai fala com espontaneidade, em uma tentativa falha de desviar do assunto anterior. Mas Fyodor sabia que o mesmo tentava desfiar da pergunta. Afinal, aquele homem era como o próprio diabo.
Nikolai se levanta e pega uma cartela de remédios, retirando um comprimido e entregando para Fyodor, que segura com as pontas dos dedos de sua mão. Agora, sua única mão. Ele rapidamente coloca na boca e engole, sem dar um gole na água. Antes que Nikolai pudesse se afastar, Fyodor segura em seu punho, fazendo Nikolai o olhar surpreso. O olhar de Fyodor era intenso, poderia fazer Nikolai estremecer a qualquer momento, era como se ele estivesse encarando a alma do platinado.
─── Por vezes, você consegue ser um excelente ator, mas agora, está sendo medíocre.
Oh, tão fofo com as palavras.
─── Dos-kun, sempre tão engraçado! Esses seus jogos são divertidos. ─── A tentativa de disfarce de Nikolai fazia Fyodor revirar os olhos, até que, com um único braço, ele tenta puxar Nikolai para mais perto bruscamente. É claro que Nikolai poderia se soltar, Fyodor não estava em suas melhores condições. Mas quem havia dito que ele queria?
─── Quanto mais amo a humanidade em geral, menos amo os homens em particular, ou seja, em separado, como pessoas isoladas. No entanto, gostaria de experimentar os sentimentos que isso viria a me proporcionar. ─── Fyodor se pronuncia com a voz fraca. Nikolai estava em choque. Eles estavam tão próximos, Nikolai estava quase que apoiado no peitoral de Fyodor, mas não faria isso, era capaz do pálido ter uma crise asmática apenas com a pressão no local. Enquanto Fyodor falava, os olhos de Nikolai não desviavam, nem mesmo por um segundo, dos lábios ressecados de Fyodor, que tinha total ciência disso.
─── Então, eu poderia mesmo fazer isso? ─── Perguntava Nikolai, com os olhos heterocromáticos brilhando.
Fyodor apenas assente lentamente, sua expressão é neutra, seus olhos estavam quase que hipnotizados pelos de Nikolai. Ocorria o mesmo com o platinado.
E por fim, algo que Nikolai jamais esperou presenciar aconteceu. Seus olhos se fecham junto aos de Fyodor. Ambos já conseguiam sentir as respirações quentes um do outro contra suas peles. Por fim, Nikolai gruda seus lábios de forma desajeitada, afinal, não é como se ambos já tivessem feito isso, era algo novo para os dois.
Com um selar lento, ambos corações já batiam em sincronia, eles não entendiam, mas gostavam do momento. Nikolai elevou sua mão e acariciou gentilmente a bochecha frágil de Fyodor, como se fosse a pedra mais preciosa do mundo e que fosse quebrar com um simples toque. Fyodor permanecia parado, ele não sabia muito bem o que fazer, mas durante aquilo, uma vontade imensa de acariciar os cabelos brancos de Nikolai surge. E assim ele fez. Nikolai podia sentir o gosto de remédio vindo da boca de Fyodor, mas ele não ligava.
─── Até que isso... não é tão ruim. ─── Fyodor sussurra entre o beijo, fazendo Nikolai se separar e o olhar extasiado. É claro que muitas pessoas não considerariam um "não é tão ruim" como um ataque pessoal, mas para aqueles dois, pouco importava. Afinal, receber um comentário "positivo" vindo do pálido era mais difícil do que sua morte, e a esse ponto, Nikolai começava a acreditar que Fyodor era imortal ou coisa do tipo.
─── Dos, eu gosto disso. ─── Nikolai exclamou com os olhos brilhando. Aquilo poderia fazer até mesmo Fyodor Dostoevsky rir. Nikolai apenas segurou na mão de Fyodor, e ao ver que ele não havia recuado, começou a brincar com os dedos dele delicamente.
─── Igualmente. Refaça! ─── Se Nikolai não o conhecesse tão bem, encararia aquilo como uma ordem. Bem, era uma ordem, mas Nikolai não levaria em consideração, afinal, o platinado também ansiava por aquilo. Nikolai, como resposta, apenas se aproximou novamente de Fyodor, ele podia sentir tudo, a respiração, o toque, o olhar.
De forma desajeitada, Nikolai acabou subindo as mãos em direção ao rosto do pálido, acariciando cuidadosamente as bochechas do mesmo, e por fim, sela os lábios. No entanto, o momento é interrompido por um brusco empurrão vindo de Fyodor, deixando Nikolai confuso. O homem de pele pálida cobre a boca com a mão, mas é claro, ele não conseguiria controlar o sangue querendo sair de sua boca. Morrendo. Ele estava morrendo aos poucos. Ambos sabiam disso. O olhar de Nikolai demonstra um certo desconcerto no momento.
Pobre Nikolai, por que ele se sentia tão mal vendo o homem morrendo? O homem que ele ansiava matar.
1412 palavras ✶
AMOELES AMOELES AMOELES AMOELES
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𝐒𝐀𝐋𝐕𝐀𝐓𝐎𝐑𝐄 | fyolai
Romance𝐄𝐋𝐎𝐈, 𝐄𝐋𝐎𝐈, 𝐋𝐀𝐌𝐀 𝐒𝐀𝐁𝐀𝐂𝐓𝐀𝐍𝐈? ─── Pegue me se for capaz. Salvatore. Morrendo nas mãos de um homem estrangeiro alegremente. fyolai obs: a história se passa no contexto pós capítulos 111/112 do mangá de bsd. 12/11/23 ✶