Resfriado de um Deus

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"Sou para sempre seu..."

Aquelas palavras e a voz aveludada sobrevoaram a cabeça cansada de Xie Lian, o deixando confuso e inquieto sem a frase completa. O que era dito depois? Aquilo era um bordão? Hua Cheng estava se declarando para ele?

Ah! Xie Lian abriu os olhos.

Hua Cheng.

"San Lang?" chamou e tentou alcançar a primeira peça de vermelho que viu pela frente, mas era apenas o seu cobertor. "San Lang..." de novo, sua voz um pouco rouca por conta das horas e horas que sofreu com uma tosse terrível antes de cair no sono. Ele continuou a chamar seu marido, mas não obteve sucesso.

Eles estavam na Mansão Paraíso, então Hua Cheng poderia estar em um dos muitos cômodos distantes do quarto principal. Nunca que ele ouviria Xie Lian, a não ser que ele gritasse.

E sua garganta maltratada não iria permitir isso.

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Já era a quarta vez que ele queimava a sopa.

Tudo por culpa daquele demônio verde.

Hua Cheng não era desatento. Como ele poderia? Ele tinha que ser o mais perspicaz possível para garantir a segurança de Xie Lian e impedir que ele sofresse qualquer dano por conta de armadilhas ou inimigos.

Mas aquela praga insistia em atrapalhar.

"Não ouse encostar um dedo em mim, Hua Cheng, pois você precisa de mim pra tratar aquele cachorro fudido!"

"...Você o chamou de quê?"

Qi Rong só não levou um murro de Hua Cheng porque ambos ouviram um curto estrondo vindo dos corredores da mansão. Os dois sabiam o que, ou melhor, quem era.

Hua Cheng deixou tanto Qi Rong e a sopa que ele estava fazendo de lado, pois, acima de tudo estava Xie Lian.

Xie Lian, seu marido, a luz da sua vida e o motivo de Qi Rong estar na Cidade Fantasma.

Quem diria que o mais forte dos deuses marciais ficaria doente?

Há dois dias, Hua Cheng e Xie Lian foram visitar a Mestra da Chuva, consequentemente Shi QingXuan e Ban Yue (e Pei Xiu). Quando chegaram, os aldeões estavam debatendo sobre o tempo estranhamente frio que fazia em pleno verão e como isso seria ruim para colheita.

Depois de mais e mais boatos, o casal descobriu que o tempo ruim era culpa de um demônio que desceu uma montanha próxima e com ele trouxe o frio. Foi uma batalha simples, mas Xie Lian foi atingido duas vezes por uma espada encantada ao proteger Pei Xiu e Ban Yue.

Seus grilhões amaldiçoados podiam ter desaparecido, mas sua má sorte não.

Hua Cheng ficou preocupado de imediato, mas nada parecia errado, Xie Lian o assegurou.

Até a noite de ontem.

Era noite de lua crescente, estava quente e os grilos cantavam alto para preencher o silêncio. Hua Cheng abraçava seu marido por traz na nova cama do templo PuQi enquanto o boi mugia do lado de fora.

Os dois dormiam tranquilamente, até que o fantasma ouviu um espirro. E outro. E mais um.

"Gege?" chamou, se sentando na cama e coçando o único olho.

"Hmm... San Lang... volte a dormir" Xie Lian virou-se para abraçar o quadril do marido. Então ele espirrou de novo.

"Gege, você está com alergia? Talvez seja o perfume das novas flores na mesa de oferendas."

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