Capítulo 2 .

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PRESENTE - REPÚBLICA DE TCHIOWA

O João fica em silêncio por uns instantes, ele parece pensativo. Até que ele mesmo quebra este silêncio — Então... Apesar de serem tempos difíceis como o senhor disse. Vocês tinham uma base familiar sólida — diz o João.

O homem olha para o neto e esboça um leve sorriso misturado de tristeza e responde — Sim! Nossa família sempre foi unida mas, como dizem, a alegria do pobre dura pouco.

O João olha preocupado para o avô e pergunta — Isso quer dizer que...

— Sim, isso mesmo...

1961 — TCHIOWA - TANDO-ZINZE

A noite escura envolvia a aldeia, iluminada apenas pelas tochas penduradas na porta das casas. Enquanto caminhávamos de volta para casa, meu pai segurava minha mão com cautela, seus olhos atentos observando cada canto da aldeia. A incerteza pairava no ar, e eu não pude deixar de perguntar — Está tudo bem, papá? E se aqueles soldados voltarem?

Ele tentou disfarçar sua preocupação, forçando um sorriso reconfortante enquanto respondia — Está tudo bem, filho.

Mas eu conhecia meu pai o suficiente para saber que ele estava temeroso pela nossa segurança.

Finalmente chegamos em casa. Meu pai abriu a porta devagar, cuidadoso para não fazer barulho. Eu o seguia de perto, sentindo o coração acelerado dentro do peito. A porta se abriu e nos deparamos com minha mãe, em pé no interior da casa, segurando um pau com as mãos trêmulas. Seus olhos se arregalaram de alívio ao nos reconhecer e ela correu para nos abraçar.

— Tata Nzambi( Deus Pai), pensei que algo terrível tivesse acontecido! Ainda bem que estão bem — exclamou minha mãe, seus braços apertando-nos com força.

Meu pai respondeu com voz suave — Está tudo bem, nkázi (esposa). O Nzola aprontou, mas ele não vai fazer isso de novo, não é? — Ele olhou sério para mim e eu assenti com a cabeça, incapaz de proferir qualquer palavra.

A mãe sorriu, aliviada, e disse — Vocês devem estar com fome. Vou servir um pouco de nsaca madezo( folhas de mandioca e feijão) com banana.

Meus olhos se iluminaram ao ouvir aquelas palavras. Era meu prato favorito, e a simples menção dele fez minha boca salivar. Nos sentamos no chão em volta da mesa de madeira, enquanto minha mãe servia a refeição com destreza e um sorriso afetuoso no rosto.

O aroma delicioso da nsaca madezo misturado com o perfume da banana invadiu o ar, despertando ainda mais meu apetite voraz. Minha mãe colocou os pratos à nossa frente e, com um olhar de amor materno, disse — Comam, meus queridos. Está tudo bem agora.

E assim, entre conversas tranquilas e o sabor reconfortante da comida, senti-me seguro e protegido no abraço caloroso do lar.

Mas, como eu disse. A alegria do pobre dura pouco. Eu estava deitado na esteira no chão da sala, após terminar o jantar. O cansaço pesava no meu corpo, mas o sono teimava em não chegar. Enquanto tentava adormecer, ouvi vozes baixas vindas da cozinha. Era minha mãe conversando com meu pai.

— Meu marido, temos que sair daqui, não estamos seguros — disse minha mãe, com uma ponta de preocupação em sua voz.

Eu me mantive quieto, apenas observando o diálogo entre eles.

— Eu sei, nkázi. Estou cuidando disso — respondeu meu pai em tom tranquilizador. — Tenho algo para te contar. Esta noite virão nos buscar, a nossa família e a família do Kwame. Vamos sair desta aldeia e ir bem longe daqui, onde podemos continuar com os nossos planos.

O coração acelerou dentro do meu peito ao ouvir essas palavras. O que estava acontecendo? Para onde iríamos?

Minha mãe parecia preocupada, mas confiante na decisão de meu pai. — Tenho a certeza que tudo vai dar certo — ela disse suavemente. — Nzambi sempre nos cuidou e vai continuar nos cuidando.

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