Converse só comigo

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           Era mais um dia cão, acordando ás 5h da manhã para pegar o primeiro ônibus da linha e ir para faculdade. Apesar de toda a dificuldade, minha mãe me lembrava de ser grata por está podendo fazer um curso superior,  mais ainda na capital e de graça - por mais que o estresse e ansiedade não queria me deixar, sei que ela tem razão - chego a esta conclusão quando termino de calçar o tênis.

Estou na parada do ônibus e não tem muita gente - ou eu não vi o grupo de aviso ou a galera decidiu trancar o curso - não importa, eu irei, quero saber como é ir com pouco mais de conforto e tranquilidade. 

Eu me sento no assento do meio, perto da janela, porque não basta ser desafortunada tem que ter problemas de enjoo se não ficar olhando para janela. Um menino inventa de sentar do meu lado quando havia um monte de cadeira vazia, a voz da minha cabeça: querido, vc está estragando a minha melancolia matutina; mas infelizmente isso não é considerado crime, então me volto para janela e finjo que tudo permanece do mesmo modo que entrei. 

- Eu só sentei aqui pq lá na frente vai subir muitas pessoas - fala o menino do nada, sem nem dizer um bom dia, será que fiz cara feia para ele tá dizendo isso?!

- e? - respondo, isso não justifica ele não ter sentado em outro lugar, alguma estrelinha de Belém ia mandar ele levantar para sentar no lugar dele? e ele ia prontamente obedecer? 

- Eu sempre me sento aqui e este corredor de passagem ficar mais vago, pq todo mundo se amontoa perto das portas. - ele responde como se fosse uma coisa série e obvia e mesmo que fosse, qual é a relevância dessa conversa toda, afinal ele não vai sair e eu não tenho como  expulsa-lo.

- ok! - digo e forço um sorriso, espero que isso baste para encerrar o assunto.

O trajeto segue sem mais incômodos e sim, a medida que ônibus vai passando pelos pontos de embarque, vai ficando cada vez mais cheio, acho que nunca vou pegar esse ônibus vazio e hoje eu aceitei isso. 

- Alô, mãe?! Eu esqueci de avisar, já estou no onibus a caminho da facul, por favor, deixe um pouco almoço para mim, eu como quando chegar de noite. - o menino do meu lado inicia uma conversa com mãe pelo celular, a voz dela me é familiar. 

Quando ele termina a ligação - Sua mãe é a professora de matemática do Colégio.. - falo, mas sou interrompida por ele 

- Sim - Diz sorrindo - Todo mundo reconhecem facilmente ela pela voz e quando saímos juntos temos que parar e cumprimentar ex- alunos dela, ela foi sua professora? - fala com uma empolgação, como ele já tem neurônios já despertos, uma hora dessa? 

- Não, mas já ensinou a minha irmã e até hj é lembrada - não preciso diz a ele que é lembrada pelo trauma que ela causou na irmã que nunca aprendeu funções. 

- Eu sei pq, apesar dela ser minha mãe, matemática nunca foi meu forte, sempre preferir história, para a tristeza dela. - comenta com muita tranquilidade e com mais sorrisos.

- Ah! então vc faz história? - vou "roubar" um pouco da personalidade extrovertida, antes que ele me faça perguntar sobre a minha irmã, família... 

- Não, faço engenharia da computação e vc?! - me pergunta como se conhecer pessoas fosse algo divertido para ele, não sei se minha bateria social vai suportar ou vai me fazer parecer mau educada, respiro e continuo...

- Mas... engenharia... tem matemática e da computação?! não significa mais matemática?! 

- kkkkkkk vc está certa! Gostaria de ter ido fazer história, mas eu teria mais possibilidade de emprego se escolhesse este curso - depois de alguns instantes continua - eu não podia escolher um curso baseado em desejos e sonhos, tenho que pensar a longo prazo. 

Apesar da segurança e da confiança ao falar isso, não posso deixar de ficar  triste, não especificamente por ele, não ter nascidos com todos os privilégios da vida é uma coisa, mas ter que moldar a sua vida futura baseada em necessidades futuras é um pouco difícil de engoli.

- Não é tão ruim assim, se conseguir um bom emprego, um bom salário eu vou poder ter acesso as coisas que eu quero ter e ir para onde eu quiser...

- Me desculpe, mas fiquei pensativa como que vc disse, eu nunca sonhei em trabalhar, nem considerei sonhos ou vontades futuras, eu só estou aqui pq é aqui que a gente tem que está depois do ensino médio. 

- Como assim?! então vc está aqui pq seus pais disseram para fazer faculdade?! - ele agora ficou sério.

- kkkkkk - dessa vez, foi a minha de ir - Jamais faria algo só para agradar meus pais, minha eu adolescente vai mais me permitiria tamanho conformismo - paro um pouco para pensar em como me expressa - Trabalhar, ser CLT ou não, nunca quis, contribuir, fornecer minha mão de obra quando eu sei que eu não terei a mesma riqueza que eu gero... não cara! - ele fez cara feia, com certeza pensa que eu sou anarquista kkkk - Eu escolhi meu curso baseado no ambiente de trabalho que quero, um ambiente tranquilo e uma vida tranquila. Escolhi medicina veterinária.

- kkkkk Cachorros latindo?! é sinônimo de uma vida tranquila?! 

- Ora, sim, são lindos e fofos! Eles agem por impulso, mas não tem a maldade ou a dissimulação das pessoas. Tenho 6 bichos de estimação e são impulsivos, mas são muito carinhosos e companheiros, se há doenças, dinheiro ou não, não faz nenhum diferença para eles, continuam sendo leais e amando seus donos do mesmo jeito. 

- Nossa, 6?! eles sentem muito ciúmes?! São 6, devem ser difícil dar atenção igual para cada animal.

- Não, eles são bem cariosos entre si, ás vezes rola uns cacetinhos, mas são esporádicos e eles acabam mais se divertindo do que de fato brigando.     

Proletários que amamOnde histórias criam vida. Descubra agora