Capítulo Três

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Localização & horário
Achados e Perdidos do Metrô
34th St. e 8th Ave.

21/1/2012

Esse serviço não conseguiu encontrar meus objetos perdidos! Perdi um cachecol de vicunha vermelho na linha Q enquanto visitava um amigo na cidade. Liguei para o número 511 e falei exatamente onde tinha visto o cachecol pela última vez, e me falaram que eles não tinham nenhum item que correspondesse à descrição e nem procuraram nos trens, nem mesmo depois que falei o quanto o cachecol valia! A única pessoa solícita que encontrei nessa experiência extremamente decepcionante foi uma passageira simpática chamada Jeongyeon que me ajudou a procurar o cachecol no trem. Só me resta pensar que ele se perdeu para sempre.

O envelope está esperando no balcão da cozinha quando Nayeon entra na tarde de sexta, finalmente livre da aula e do trabalho até domingo. Passou o caminho de volta para casa pensando em fazer uma maratona de tutoriais de sobrancelha no YouTube até pegar no sono com uma pizza do lado.

— Chegou um negócio para você hoje pelo correio — Tzuyu diz antes mesmo de Nayeon tirar os sapatos para cumprir a regra rígida de Tzuyu e Sana quanto a não usar sapatos dentro de casa.

Nayeon ergue a cabeça por trás da pilha de ratoeiras que ela passou os últimos três dias desmontando. Não dá para saber se isso é para a mesma escultura que os ossos de sapos. A arte dela às vezes vai além da compreensão de Nayeon.

— Ah, valeu — Nayeon diz. — Você não trabalha hoje?

— Trabalho, nós fechamos mais cedo.

Por “nós” ela se refere à Rewind, a loja de artigos usados responsável pela parte dela do aluguel. Pelo que Nayeon entendeu, é um lugar extremamente bolorento e extremamente caro e tem a melhor seleção de eletroeletrônicos antigos do Brooklyn. Eles deixam Tzuyu desmontar tudo que não vende. Tem metade de uma tv dos anos 70 ao lado do micro-ondas.

— Caralho de asa — Tzuyu xinga quando uma das ratoeiras prende seu dedo. — Enfim, é, você recebeu um envelope gigante. Acho que veio da sua mãe…

Ela aponta para o envelope de plástico grosso perto da torradeira. Remetente: Im Sooyoung, Belle Chasse, la.

Nayeon o pega, sem fazer a menor ideia do que sua mãe poderia ter enviado dessa vez. Na semana passada, foram meia dúzia de doces de nozes e um chaveiro de spray de pimenta.

— Então, por um segundo, pensei que minha mãe tivesse enviado coisas para o Ano-Novo Lunar — Tzuyu continua. — Comentei que meus pais são chineses, certo? Enfim, minha mãe é professora de artes e esse ano ela pediu para os alunos fazerem cartões de Ano-Novo Lunar, e ficou de me mandar um junto com um fah sung thong de um restaurante que… Eita, o que é isso?

Não são docinhos, nem itens de defesa pessoal, nem um presentinho festivo de Ano-Novo Lunar feito por criancinhas do segundo ano. É uma pasta de arquivos em papel pardo, como as outras milhões do apartamento da mãe de Nayeon, recheadas de registros públicos, classificados e páginas de listas telefônicas. Tem um bilhete preso com um clipe na capa.

Sei que anda ocupada, mas encontrei uma amiga de Junho que pode ter ido parar em Nova York, o garrancho desleixado diz. Pensei que você poderia dar uma olhada.

— Meu Deus, sério? — Nayeon resmunga para a pasta.

As pontas esfarrapadas retribuem com um olhar imparcial de esguelha.

— Opa — diz Tzuyu. — Má notícia? Você está parecendo Momo quando o pai mandou o lance sobre cortar a poupança dela.

Nayeon ergue os olhos para ela, sem entender.

One Last Stop - 2yeon Onde histórias criam vida. Descubra agora