Capítulo 1
Rosa Desmanchada
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Barcelona, Espanha | Julho, 2018
O seu corpo estava sendo encurralado contra uma das paredes daquele enorme quarto. Apesar da varanda aberta, estava abafado e caótico, a luz vermelha fazia cegar os olhos uma vez que houvesse substâncias nas veias, envenenando o cérebro e confundindo todos os sentidos. Menos o tato.Não, ele estava aguçado demais.
Sensível demais.
Myoui Mina estava sentindo todo o seu corpo formigar como se não aguentasse mais, seus pulmões imploravam por ar como se estivesse prestes a desistir de vencer uma maratona quando já estava próximo a faixa de largada e dando mais sentido a isso suas pernas fraquejaram naquele exato instante.
Seus joelhos quase cederam quando a mulher à sua frente pressionou a coxa entre as suas. Pressionou as unhas nos braços daquela mulher lhe tomando e arrastou para baixo, não tinha noção o suficiente para se preocupar se estava machucando. No entanto, não pareceu fazer efeito nenhum sobre ela, que apenas pressionou seu corpo com mais força.
Ela era forte demais ou Mina estava realmente tão fraca àquele ponto?
Havia outras pessoas ali, assistindo-as. A desconhecida não demonstrava qualquer desconforto sobre isso, ela não se importava nenhum pouco em estar sendo observada tão intimamente. Na verdade, ela parecia ainda mais incentivada a dominar o seu corpo.
Mina se lembra de ser 22h em ponto quando adentrou o salão do elegante hotel para aquele baile de roupas elegantes, seu amigo deveria tê-la avisado sobre aquilo. Ao invés disso, Myoui estava casual demais, simples demais, as pessoas a olharam quase com desprezo.
Exceto ela.
A mesma mulher com ela ali naquele momento, se exibindo. Descendo a língua pelo seu pescoço como se conhecesse cada ponto fraco de seu corpo.
Uma noite de verão, uma brisa morna, uma taça de vinho tinto. Eram 23h42 quando aquela mulher finalmente se aproximou, em um vestido preto colado e elegante, abraçando cada curva e valorizando os seios fartos. Ela cheirava a Miss Dior e cigarro de menta. O olhar enegrecido e opaco contrastava com o sorriso ladino no canto dos lábios.
— Está sozinha? — ela perguntou, com aquele espanhol afiado, e Myoui quase se deixou intimidar.
Quase.
— Meu amigo parece ter se ocupado. — respondeu, olhando para longe, porque queria evitar aqueles olhos.
— Então, você está sozinha.
No entanto, não pôde evitar a surpresa tomar sua expressão neutra quando aquela desconhecida pronunciou japonês ainda melhor do que a língua espanhola.
Mina descobriu naquele instante que não era tão boa quanto pensava em disfarçar o sotaque ainda um pouco desleixado, embora tenha se dedicado àquele idioma por anos.
Bebidas, amigos e algumas coisas a mais. Foi o que ela disse em poucos minutos de conversa, apontando para uma mesa afastada que aparecia no grande salão através das paredes de vidro até o chão.
Elas estavam do lado de fora, era uma varanda, se é que poderia chamar assim, era grande demais para uma varanda comum. Mas tudo ali era grandioso, afinal. De qualquer forma, Mina estava se sentindo sufocada com a presença daquela desconhecida.
Lá de dentro vinha a Sinfonia No. 6, de Tchaikovsky, abafada pelos vidros.
Agora, Mina se perguntava se alguém poderia ouvir seus gemidos através daquelas paredes. Tudo o que ela queria era poder gritar o nome daquela mulher. Mas sequer havia perguntado, sequer havia de fato pensado sobre aquilo até o momento. Myoui não pensou em nada enquanto se permitiu ser guiada por aquela desconhecida através das mesas, seguida por um grupo dividido entre homens e mulheres. Notou como aquele movimento chamou atenção de praticamente todos daquele salão gigante.
Mais olhares de desprezo e nojo.
Não se importava mais com aquilo, já estava acostumada, afinal.
Tinha certeza que não era culpa do que tinha fumado quando chegou ali, sabia que não era culpa do vinho vermelho como sangue e tão caro quanto o seu coração. Nem mesmo poderia dizer que era culpa de sua mente enevoada. Pois não tinha esquecido, apenas não sabia o nome dela. Assim como não sabia o nome de nenhum dos outros seis corpos nus dentro daquele quarto.
Três dedos, e seu corpo convulsionou de prazer. Mina estava mais do que pronta para aquilo, porém quando finalmente veio, sentiu que poderia enlouquecer pelas sensações esmagadoras em seu ventre. Pelo arrepio enraivecido atravessando a sua espinha. Pela cena daquela mulher lambendo os dedos da mão completamente encharcada. Aquilo, sim, era sua culpa, culpa do seu corpo completamente entregue aos caprichos de uma desconhecida qualquer.
— Eres impressionante... — ela sussurrou, com aquela voz rouca e aquele espanhol perfeito.
Mordeu o lábio, encarando a boca daquela mulher com desejo, a ouvindo enquanto ela seguia com aquela maldita voz, colocando em palavras as coisas mais obscenas que Mina jamais imaginou ouvir e se deliciar.
Os lábios daquela mulher eram genuínos, enquanto falava ou enquanto a destruía. Mina aproveitou cada segundo em que eles estiveram em seu corpo. Aproveitou cada segundo naquele enorme e luxuoso quarto de hotel, cercada de pessoas que tinham mais a mostrar em baixo daquelas luzes vermelhas do que sob os lustres de cristal. Myoui imoralmente esteve na mão de cada uma daquelas pessoas. No entanto, era àquela mulher que se sentiu pertencer e foi aquela mulher que a possuiu como se o seu corpo pertencesse somente a ela. Como se fosse uma propriedade, um troféu, pouco menos que um objeto para a desconhecida se satisfazer como bem entendesse. E Mina se deixou ser e sentir daquela forma. Porque foi inevitável, porque ela queria e queria mais...
Quando o sol nasceu, preenchendo aquele quarto através das cortinas abertas. Myoui Mina estava sozinha, acordando e esticando o corpo naquela enorme cama vazia, de lençóis brancos sedosos e bagunçados.
Ali, nua e sozinha, não restou para ela nada além de lembranças sujas e uma rosa desmanchada sobre o colchão.
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Barcelona
FanfictionUma noite de verão, uma brisa morna, uma taça de vinho tinto. Estava sozinha quando aquela mulher se aproximou, em um vestido preto colado e elegante, com uma única proposta. Myoui Mina aceitou e, no dia seguinte, sequer sabia o nome dela.