Vida Vazia

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Capítulo 4

Vida Vazia

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Barcelona, Espanha | Abril, 2033

Vermelho significava paixão, ardor, sangue, luxúria. Preto carregava consigo o fardo de ser mal interpretado, entre tantas cores, é apenas ele que tem os significados encarados de maneira equivocada. Pessimismo, energias negativas, morte, luto.

Mas não para Myoui Mina.

Não... Para Mina, preto significava luxúria, cada pensamento condenável, cada palavra imoral que abandonava seus lábios, as fantasias sujas que lhe fariam queimar, se ousasse sequer sentar em frente à Santa María del Mar para tomar um café.

Preto era desejo, porque era desejo que havia nos olhos enegrecidos daquela mulher, enquanto ela escalava o seu corpo, lhe encarando profundamente. Aquela cor negra era desejo, porque a vontade que tinha por Hirai Momo não lhe permitiu ter tempo para se livrar do sutiã em seu corpo antes de empurrá-la para entre suas coxas.

No entanto, Mina adorava quando ela vestia vermelho, porque significava que Momo a pertenceria por mais tempo.

Myoui não tinha nada desde que abandonou o seu lar e sua família, pelas igrejas e bares de Barcelona, também não tinha motivos para ficar.

Imaginava, todos os dias quando acordava, se terminaria sua vida sozinha, se para sempre se sentiria tão vazia. San Diego provou o contrário, mas ainda acordava todas as manhãs esperando que ela ainda estivesse entre os emaranhados dos lençóis. Que a noite anterior não fora apenas um sublime sonho e que não voltara a chatice de ser humana mais uma vez.

Mina só não acordava sozinha quando ela usava vermelho. Como naquela tarde.

Eram 13h54 quando Momo adentrou a cobertura, lhe tomou nos braços e começou a amá-la no sofá, como se a saudade que tinha no peito fosse a matar se esperasse por mais um único segundo que fosse.

O quarto número sete do Hotel San Diego se transformou em sua casa por um tempo. Mina deixou o seu antigo apartamento apertado e cheio de morfo após Momo a convencer com palavras doces enquanto a tocava de forma íntima por baixo das roupas surradas que vestia, apenas invadindo sua calcinha lentamente.

Nas primeiras noites, Momo levou outras pessoas, Mina aceitou, e não decorou todos os nomes, não tinha porquê. Não era sobre conversa, não os veria novamente.

Depois de quase dois anos, se mudou para a suíte principal do segundo hotel, a cobertura, com varanda e acesso a um terraço luxuoso. As paredes de vidro ofereciam uma vista para toda a cidade. Desde então, apenas Momo aparece, com as mãos cheias de sacolas de roupas caras e joias deslumbrantes.

Tudo por ti, cariño. — era o que ela sussurrava, enquanto beijava seus lábios carinhosamente e acariciava os fios de seu cabelo com delicadeza.

Mina negou no começo, estava ganhando bem com seus quadros, era a única coisa próxima de um trabalho que Momo ainda a permitia fazer. Mas, com o tempo, deixou de se importar e passou a se convencer de que receber tudo aquilo era o preço justo por ter que dividi-la. Se Momo usava o dinheiro do novo marido para lhe dar o que quisesse, então Mina merecia tudo.

E ele merecia morrer por tocar o belo corpo daquela mulher.

Porque Hirai Momo pertencia a Mina.

Por isso, vermelho significava luto. Um luto para o qual Mina não dava a mínima. Sentada ao colo dela, sentindo a movimentação fervorosa daqueles dedos dentro de si, lhe preenchendo enquanto a boca dela se apossava de seu seio. Suas unhas agarravam os ombros dela, finalmente podendo marcá-la outra vez.

Mina nunca mais implorou, nem por perdão, nem por misericórdia. Sabia que não receberia mais a salvação que todos falavam, porque era uma cúmplice.

Entretanto, ela sempre implorava pelo amor daquela mulher. E sabia que o tinha só para si, sabia que o anel de ouro e o sobrenome que ela carregava não importava. Porque era somente ao seu corpo que ela adorava, era para Mina que ela corria. Enquanto deixava outro homem agonizar sozinho.

Hirai não precisava dizer, mas ela fazia questão. Fazia questão de fazer Myoui Mina se sentir amada e Mina fazia questão de mostrar o quanto pertencia a ela.

— Momo... — gemeu, a encarando, sentindo aqueles olhos queimarem a sua pele como brasa. Eles ainda eram negros, sim, mas não eram mais opacos ao olhar para Mina.

Te quiero, mi cariño.

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