Verão Mediterrâneo

31 9 0
                                    

Capítulo 2

Verão Mediterrâneo

____________________________________________

Barcelona, Espanha | Setembro, 2019

Aomori costuma ser uma das cidades mais frias do Japão, a neve é densa e insistente em todos os anos. Neve... era a única lembrança concreta que Mina tinha guardada em sua memória, talvez, unicamente, porque ela adorava tanto o verão mediterrâneo. Poderia sentir falta de casa, é claro, era inevitável, no entanto se a mera ideia de retornar soprasse em seus pensamentos, ela se recordava da neve. Então, a ideia era empurrada para trás de sua cabeça, porque seu cérebro se dedicava de imediato em fazê-la se deliciar com o calor que sentia em dias quentes. O suor cobrindo sua pele.

Myoui Mina conhecia o que era adoração, apesar disso, não estava acostumada com tanta fé. A cada rua e viela da cidade existia uma pequena capela ou uma grande catedral, sempre com todos os seus adereços, estátuas e vitrais magníficos.

Eram 9h32 da manhã, pelo corredor que caminhava, estava a Igreja de São Severo, ao final daquele corredor sabia que encontraria a Capela de Santa Llúcia, no quarteirão em frente a Plaça Garriga i Bachs, indo além poderia chegar à Catedral de Barcelona.

Estava ali há três anos, porém em nenhuma de suas longas caminhadas matinais, teve curiosidade o suficiente para entrar em qualquer templo que fosse. Apenas os observava de longe, sempre tão movimentados.

A não ser naquela noite, há um ano atrás. Mina queria reencontrar aquele grupo de sete pessoas. Não, queria reencontrar ela. Aquela mulher de olhos negros e mãos firmes, mãos pelas quais o seu corpo sonhava em ser tomado outra vez.

- Não faço a mínima ideia de quem fala, Sharon.

Arco, seu melhor amigo naquele país ainda desconhecido, disse pela segunda vez, soprando a fumaça de seu cigarro barato. Não porque não tivesse dinheiro, porque ele era filho de um lojista bem sucedido, mas porque gostava.

Miguel Arcos tinha gostos baratos, para cigarros, para whisky, para cerveja, mas não para mulheres ou homens. Ele era exigente até demais quanto a isso.

- Nunca vi uma mulher tão bonita, eu saberia muito bem, acredite em mim.

Naquela madrugada, depois de beber um pouco além, Mina não sabe como chegou tão longe, mas lembrava nitidamente de sua oração perante a Sagrada Família, fechando os olhos e juntando as mãos em frente ao corpo. Mina queria piedade, queria salvação, mas as portas estavam fechadas àquele horário.

Isso foi um pouco pessoal demais para uma mente bêbada.

Suspirou pesado.

Naquele instante o seu celular vibrou dentro do bolso da calça.

- Alô? - disse assim que colocou o aparelho sobre a orelha.

"Mina!" - era a sua melhor amiga, com aquela voz irritantemente alegre, Mina podia sentir a vibração de energia lhe tomar de repente.

- Oi, Nay. - um sorriso se abriu em sua face.

"Você não liga se eu não ligar, né?"

- Estive ocupada, desculpe.

"Tudo bem..." - ela estava mastigando alguma coisa.

Mina parou de andar e olhou em volta com calma, apenas para ter certeza que estava indo na direção correta.

"O que tem feito? Vendeu algum quadro?"

Isso, isso era o que a Myoui fazia para se manter. Para ter o básico, desde que suas economias acabaram.

BarcelonaOnde histórias criam vida. Descubra agora