Carne Viva

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Capítulo 3

Carne Viva

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Barcelona, Espanha | Setembro, 2019


Ele tinha razão quando disse que aquele vestido ficaria perfeito.

Mina se surpreendeu como a cor verde esmeralda abraçou sua pele pálida tão bem. Arco disse que tinha dúvidas sobre o seu tamanho, mas ao ver em frente ao espelho o tecido suave lhe caindo bem em cada curva bem desenhada do corpo esguio, se perguntou se ele estava só tentando ser modesto.

Arco tinha olhos para aquilo, tinha talento.

— Uau! — ele exclamou, abrindo os braços exageradamente, escorado em uma Mercedes Benz prateada. — Eu avisei, não avisei? Está magnífica!

Ele a segurou pelos ombros e beijou-lhe a face, a olhando de perto com um sorriso aberto, admiração brilhava nos olhos esverdeados. Mina sabia que na realidade ele só estava orgulhoso de si mesmo.

Os dedos dele em sua pele não eram ásperos, o que poderia esperar de alguém que nunca trabalhou duro na vida, afinal? Myoui não conhecia o que era aquilo antes, mas estava aprendendo agora. Vendendo sua arte por um preço muito baixo, fazendo bicos como garçonete, lavando pratos e carregando caixas pesadas. Tudo pela primeira vez. Não estava satisfeita, mas não tinha outra saída.

Então, Mina se permitia, ocasionalmente, ter um pouco do luxo que o seu amigo sempre lhe oferecia. Sentada no banco de couro com o cinto de segurança em seu torso, batucava em sua coxa exposta a melodia de Agnus Dei, tocando através das caixas de som enquanto Arco dirigia rápido demais. Mina nunca reclamou sobre aquilo, gostava da velocidade, era uma pena somente que naquele momento não pudesse abrir a janela e aproveitar o vento. Demorou quase uma hora para fazer o penteado em seus fios castanhos e lisos, estragá-lo não era uma opção.

Não ainda.

Não até vê-la.

Se entrosando entre o grupo de conhecidos do seu melhor amigo, foi quando teve o mero vislumbre daquele vestido vermelho passeando entre os convidados. Arco estava distraído com a conversa, embora sempre fizesse questão de inserir Mina no assunto.

Arco estava se esforçando dessa vez, porque ele sabia que Mina esteve presa no apartamento velho por semanas, com aquela desculpa esfarrapada de que estava pintando. No entanto, dessa vez, seria Mina a desaparecer das vistas. Ele não ficaria sozinho, afinal. E Mina estava torcendo para que ela mesma não ficasse, para que conseguisse chamar a atenção daquela mulher outra vez.

Aquele vestido vermelho contrastava com a pele dela — mais bronzeada que a última vez—, aquilo a destacava na multidão. Poderia haver quantas outras mulheres fossem com aquela mesma cor, somente a dona dos olhos negros conseguia de fato chamar atenção.

Olhos negros que atingiram Mina como uma flecha de metal. Frio, direto.

Era uma festa realmente luxuosa, para variar, nenhuma pessoa ali vestia algo menos do que esplêndido, pareciam prestes a receber o rei com tantas camadas de tecidos caros. Mina bebia o suficiente, mas o champanhe era bom demais para desperdiçar. Estava pronta para pegar outra taça com um garçom quando aquela mão lhe tocou suavemente o braço.

— Que tal uma dança antes de mais uma taça?

Mina sorriu, não só pelo convite, mas porque naquela pequena fala, teve certeza de que estava sendo observada todo o tempo.

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