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terça

- Disse-te que precisava do carro.

- São onze da manhã, João. - Resmunguei por me ter acordado, bocejando ensonada.

Entreguei-lhe só as chaves, vendo-o a arquear a sobrancelha.  Creio que as suas intenções ao estar na minha casa eram de ficar e não de lhe entregar as chaves e despacha-lo. Estava a brincar com ele e a tentar obter uma reação.

Estava um clima um pouco estranho como era de esperar após ter sido ignorado durante dias. Dava para perceber que estava pensativo e com receios de dar passos em falso comigo. Porém, deixei-me de brincadeiras e beijei-lhe no canto da boca para que percebesse que estava tudo bem. Antes de ser presa pelos seus braços, entrei na cozinha. Seguiu os meus passos até à mesma.

Tirei uma garrafa com água fresca do frigorífico, coloquei duas fatias de pão na torradeira, virando então o meu corpo para o dele. Encostado à porta com os braços cruzados, observava com atenção a forma como me movimentava.

- Pareces inofensiva em roupa larga e sem qualquer maquilhagem. - Comentou observador, deixando-me intimidada. - Habituava-me. - Olhei para ele desconfiada. - Mas tu não queres admitir que, no fundo, até me curtes. - Nada lhe consegui responder, pois ele aproximou-se.

- Tens um ego elevadíssimo, não tens? - Senti as mãos firmes do atleta na minha anca. - Félix, não achas que já tiveste dramas suficientes por causa de namoradas/curtes?

- É suposto deixar de ter vida amorosa porque os jornais não me largam? Não vai acontecer. Agora, é um problema para ti, Aurora?

- Não, não é um problema para mim. - Encostou a sua testa à minha, beijando os meus lábios. Um beijo lento, suave e calmo. O som das torradas foi o que nos afastou um do outro.

- Ótimo. E a Margarida?

- A tua ex namorada, atual amiga? - Largou-me para que fosse barrar manteiga nas torradas. Ele olhava-me divertido com a questão.

- Sim. Atual amiga que se vai manter. - Encolhi os ombros. - Admite a ti mesma que és ciumenta, é que as tuas atitudes denunciaram-te. - Pousei o prato na mesa, sentando-me.

- Não sei, até agora não conheci ninguém que me fizesse sentir ciúmes. - Ripostei firme.

Apontei para a torradeira e para o pão, incentivando-o a comer algo. O rapaz negou, pois tinha comido no aeroporto e estava bem.

- Até agora porque me conheceste?

- Até agora porque não conheci ninguém que me fizesse sentir ciúmes. - Repeti-me novamente. - E se tu vais ser o primeiro? Não sei. João, relaxa, já te disse que foi uma estupidez. Esta conversa não precisa de continuar.

- Precisa sim. - Afastou a cadeira para se sentar ao meu lado, virado para mim. - Porque vou jogar em casa e quero que estejas lá.

- Porquê?

- Porque me ouviste e incentivaste. E porque o after jogo pode ser empolgante.

A sua piscada foi o suficiente para entender.

- Vá Aurora, temos uma cena fixe, não vamos começar com entraves e essas merdas. Queres ter outras pessoas? Ficamos por aqui. Se não queres, se queres manter o que temos, melhor.

CÚRAME  ➛  JOÃO FÉLIX Onde histórias criam vida. Descubra agora