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terça

Deitada na cama, sem almoçar ou lanchar, olhava para o teto, enquanto a minha mente estava vaga, sem qualquer pensamento.

Não me conseguia focar em nada. Desde o internamento do meu pai que sentia um vazio em mim, um nó na garganta. Mostrava-me forte para as pessoas, mas no fundo, estava desgastada. Não conseguia entender o porquê.

Quando achava que a minha vida se estava a endireitar, estava de volta a casa com o meu pai a sofrer numa cama de hospital. Sentia-me até uma das principais culpadas pelo que acontecia. Sai de casa e o meu pai descompensou. Tudo me ocorria pelas noites mal dormidas, as visitas dolorosas ao quarto 34 e o choro da minha mãe.

Tudo o que estava a acontecer era injusto. A minha família merecia mais. Eu merecia mais. As lágrimas ameaçaram deslizar pela minha pele, no entanto, não vacilei. Sentei-me, sequei os olhos e, nesse instante, a campainha tocou.

O meu coração palpitou com o som. Não estávamos à espera de ninguém. Ouvi a Benedita, tal como a minha mãe, a porta a ser aberta e uma delas a gritar o meu nome.

Com os cabelos completamente despenteados e presos no cimo da minha cabeça, umas olheiras e um pijama largo quente, desci as escadas. Não foi preciso chegar ao final das escadas para perceber o porquê de me chamarem.

Com um pequeno e simples ramo de flores, ainda que colorido e cheio de vida, João e a minha mãe, surpreendida, trocavam sorrisos.

- O que estás aqui a fazer?

Foi a única coisa que consegui verbalizar. Vê-lo, a sentir-me completamente fragilizada era a junção ideal para começar a chorar.

- Que modos são esses, Aurora?

- Desculpa, não estava nada à espera de te ver.

- Eu sei, podia ter avisado. Aqui a Sra. Gabriela fez-me um convite irrecusável e estou aqui para o aceitar antes de voltar para Barcelona. - Devolveu o brilho dos olhos à minha mãe.

- Chegaste hoje? - Ele balançou a cabeça, sendo convidado a entrar. Despiu o casaco para o deixar pendurado à entrada, aproximando-se. - Foi uma má ideia? - A minha irmã e a minha mãe olharam uma para a outra e deixaram-nos sozinhos. - Vais dizer alguma coisa? Podes abraçar-me? Ou então, manda-me embora...

- Desculpa. - Desci os últimos degraus para o abraçar. Assim que encostei a cabeça contra o seu ombro, não me consegui conter. - Estou exausta e não tenho descansado nada.

- Está tudo bem, babe, estou aqui. - Envolveu-me num abraço apertado e confortável.

Descansei a cabeça no peito dele. Chorei até todas as lágrimas se secarem e o meu peito ficar a sentir-me mais leve. Foi então que o encarei. Um ar totalmente desanimado no seu rosto, por estar a ver-me igualmente desanimada.

Forcei um sorriso, secando os meus olhos e rosto por onde as lágrimas escaparam. Ele colou a boca à minha testa, sem me largar.

- Obrigada por teres vindo.

- Não tens nada que me agradecer. Estou prestes a voltar para Barcelona, não quero estar longe de ti enquanto não for.

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