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terça

Um grupo de trinta pessoas invadiu a discoteca logo ás onze e meia da noite. Era o aniversário de irmãs gémeas. Para além dos clientes habituais, a chegada do grupo veio atordoar-nos.

Estávamos a duas horas de fechar, mas a intenção era cantar os parabéns e beber um copo, segundo uma das aniversariantes. Observei a Bea a tirar os pedidos de cada um, deixando-me meio perdida nos meus pensamentos.

Sentia o meu telemóvel a tocar no bolso de trás das calças de cabedal pela quinta vez, fazendo-me tirá-lo para saber o que se passava. Estranhei por ser a minha mãe. Tinha também duas mensagens por responder de João e uma de Joana. Alternei o olhar entre o aparelho e a Beatriz.

Enquanto o pedido não chegava ao balcão, agachei-me e retomei as chamadas. A voz alta e a panicar soou aos meus ouvidos, preocupando-me ao longo de chamar a Benedita.

Pedi-lhe para ficar no balcão, enquanto ia falar com a nossa mãe lá dentro. Assim aconteceu. Ela ficou também preocupada.

- Fala com calma, não consigo entender.

- É o pai. Começou a sentir-se mal. Estou no hospital, acho que foi um princípio de AVC. Mas, não sei nada. - Choramingou assustada. - Foram fazer-lhe uma tac e ressonância.

- Assim do nada? - Sentei-me numa cadeira a processar a informação. - Como é que aconteceu? Onde estavam?

- Estávamos em casa a ver a novela. Foi do nada Autora, mas algo não estava bem!

- Meu Deus. Nem sei o que dizer. Há quanto tempo estás no hospital? - Ouvi alguns barulhos e nada de uma resposta. - Mãe?

- Há quarenta minutos, mais ou menos. Pensava que era o médico do pai, mas não é.

- E tu? Como estás tu? Estás bem? A tensão?

- Agora estou melhor. Só estou preocupada com o meu marido. Não sei nada! Que desespero que estou a sentir. - Suspirou assustada. - Os médicos disseram que cheguei a tempo.

- Ainda bem! Agora temos mesmo que esperar. O que posso fazer por ti, aqui tão longe?

- Nada meu amor, nada. Desculpa preocupar-te, mas precisava de falar com alguém. Como estás tu e a mana? Estão a trabalhar?

- Sim, mas não importa. Desculpa não ter atendido antes, estávamos com trabalho. - Tentei manter-me sempre calma. - Liga-me assim que te disserem alguma coisa, ok?

- Fica descansada. Até já filha.

A porta foi aberta e Benedita passou pela mesma, aproximando-se rapidamente de mim.

Expliquei-lhe então o que se passava. A rapariga disse-me que estavam as suas amigas no balcão e que estava tudo calmo, que aquele era um pedido enorme, mas que era único. Sentei-me na cadeira a olhar para o telemóvel.

Devia ter atendido antes. Devia ter dado atenção, devia de a ter acalmado antes. Lamentava a mim mesma o que não podia mudar.

Respondi ás mensagens enquanto me acalmava o suficiente para voltar ao trabalho.

João Félix 

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