As nuvens estavam começando a ocultar o por do sol que partia naquele fim de tarde, as luzes das ruas acesas iluminavam as casas de tijolos e telhados de madeira que a região do Lago Azul, zona sul de São Paulo capital tinha.
O clima é ameno, o som está poluído por ruidos de sirenes políciais, tiros, gritos de bandidos desesperados, mães em prantos e bebês assustados. Já o ar estava contaminado com cheiro de pólvora, bombas e gás lacrimogêneo.O clima de medo já era comum na região, principalmente nos últimos meses mas nada se descreve como o terror que estava sendo visto naquele dia.
Os policiais invadiram pelo norte, e foram conquistando o território a medida que avançaram pelos becos, entre as casas e as ruas. O cenario lembrava o que já acontecia frequentemente no Rio de Janeiro, mas Jonathan jamais pensou que estaria no meio deste fogo crusado.
Ali sentado atras do muro que o protegia dos tiros de fuzil com a mesma eficiência que um bloco de isopor, ele refletia enquanto o sangue escorria pelo abdômen.
"Não deveria ser assim!" ele disse
"Quando foi que chegamos a isso?" ele também voiciferou mas dessa vez foi diferente
"Não era pra estar sendo desse jeito... essas pessoas não tem culpa do que esta acontecendo aqui..." ele continuou
"Aquele garoto..." sua voz mudou novamente "Porque tinha que ser assim?"Ele olhou para o sangramento, estava ardendo em chamas e ele mal conseguia olhar as férias por baixo de seu uniforme. Pensou em tirar a mascara e usar para estancar a ferida mas no mesmo instante achou melhor manter a sua identidade oculta.
"Vamos, seja forte!" ele disse "Se levante! Essas pessoas precisam de você!"
"Pra quê?" ele perguntou a si mesmo cansado "Pra matar mais pessoas? Não sou um assassino e nunca quis ser..."
"Mas você precisa fazer! Precisa ir lá!"
Não queria ir. Não queria mais lutar. Estava cansado, gasto, com dores e baleado, mas principalmente abalado. Ele não sabia o que esperar, mas tinha um ideal de moralidade que não foi visto, muito pelo contrário, foi destruida cada pedacinho de esperança que ele teve em seu peito.
Ele não consegia deixar de pensar nos gritos, no choro daquele menino...
Ele ouviu um ruído logo abaixo e usou o buraco feito por um projétil para olhar a rua discretamente. Havia um pelotão de políciais progredindo por aquela rua, apontando o armamento para todas as direções possíveis em busca de alvos em potencial. Bandeirinhas, bandidos, traficantes, crianças assustadas, mães desesperadas...ou um vigilante.
Ele fechou seu olhos e respirou profundamente, se permitindo sentir o cansaço. Ele sentiu a ardência em cada músculo desgastado com as investidas do confronto, a fadiga nas suas pernas que ja não queriam mais ficar de pé, o desespero em seu coração que batia com tanta intensidade que parecia que iria sair do seu peito e o medo que o paralisava alí, sentado e confortável em meio a todo o tiroteio.
Ele lembrou, por fim, de Erick. Viu o rosto do garoto na sua cabeça, assustado, confuso e com medo. Por fim se lembrou de sua mãe.
Respirou profundamente...
Se reergueu com dificuldade...
Engoliu tudo que estava sentindo...
E se jogou de lá de cima.
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A Saga HOPE - Livro 1
AdventureJonathan (NT) esta começando a construir sua vida em São Paulo. Acabou de se mudar e esta quebrando a cabeça para conseguir um emprego e uma rotina saudável. Isso naturalmente já é complicado e consegue ficar ainda pior quando ele tem que equilib...