Pronta pra desagradar

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O Brasil é muito vasto e eu muito Mona Lisa

Pela primeira vez na sua vida, Philipe ficou feliz em ouvir pessoas cantando parabéns pra si. Ele achava aquela música irritante e na maior parte do tempo, fingia que ela não existia, principalmente quando era direcionada para ele

Mas ali, no meio daquele tanto de gente, ele conseguiu até sorrir. Eles tinham um segundo verso pra música, algo sobre Deus, mas que não parecia ser exatamente sobre isso. Eles não cantavam como um louvor de uma igreja, adorando seja lá quem for. Na verdade essa parte tinha gosto de tradição. Uma coisa que alguém carregou da própria família, e fez daquilo parte deles

"Com Deus ao seu lado
E um novo por vir
Que a vida te seja
Um eterno sorrir"

Se seus pais cantassem aquilo pra ele, provavelmente sua reação seria um revirar de olhos e um sorriso debochado. Mas o acolhimento no meio daquelas pessoas só o fez desejar que aquelas frases fossem reais. Que a vida fosse mesmo um eterno sorriso.

Eles começaram a comer e várias pessoas vieram conversar com ele, perguntando banalidades, fazendo ele se sentir em casa, contando histórias antigas e relembrando piadas. A campainha do casarão tocou e Luciano se levantou da mesa dele para ir atender. E quando voltou, havia mais três pessoas atrás de si

- Ei, foi mal o atraso - o homem que falou era meio alto, tinha os cabelos pretos em um topete e uma cara meio rabugenta

- A gente ficou preso na orla, tinha um pessoal estranho com uns carro esquisito lá - o outro cara era um pouco menor, tinha uma vibe completamente diferente, cabelo cacheado, olhos relaxados e um estilo bem praieiro

Philipe olhou as duas figuras por algum tempo antes de olhar para o terceiro que entrou logo atrás. Imediatamente ele se levantou da cadeira, chamando a atenção de todo mundo. O corpo ficou tenso e a respiração pesada, ele sentia o coração bater na garganta, enquanto olhava o cabelo pintado de loiro e os olhos azuis. Quando o outro garoto também olhou para ele, a reação foi quase a mesma. Ele travou no lugar, e prendeu a respiração, antes de engolir em seco e apertar os olhos, como se contesse as lágrimas

Todos em volta olhavam a cena confusos e esperando o pior. Luciano se mexeu um pouco, tentando ficar próximo de Philipe, talvez pra impedir que ele saltasse no loiro. Mas ele queria ver onde aquilo ia dar

- Lipe? Cara, é tu mesmo? - aquele sotaque meio arrastado destruiu o coração do moreno. O loiro deu um passo incerto pra frente

- Cadu - ninguém soube ao certo quem deu a iniciativa. Mas os dois corpos se bateram com tanta força no meio do caminho que talvez tivesse sido mútua

O abraço apertado e os olhos molhados fizeram todos dar um suspiro de alívio. O moreno rodeava o pescoço do outro enquanto o loiro apertava sua cintura com os braços. Philipe se sentiu em casa naquele abraço. Ele se sentia em casa naquele lugar, mas ver seu melhor amigo de infância ali fez com que a sensação crescesse ainda mais

- Não acredito que você tá aqui. Eu achei que tinha te perdido pra sempre - Philipe confidenciou no ouvido do outro

- Eles bem que tentaram, mas eu não ia cair sem uma boa luta - eles se abraçaram ainda mais forte, como se pra ter certeza que o outro estava ali, inteiro, bem. Cadu afastou o moreno pelos ombros - Como você tá vivo? E como caralhos você chegou aqui?

- Na verdade é uma história engraçada - eles se olharam e sorriram, sabiam bem que "história engraçada" era o Philipe dando uma de Philipe e fazendo alguma loucura

- Senti tanto a sua falta, irmão - eles limparam as lágrimas do rosto e sorriram abertamente

- Eu também, bocó - uma mão parou no ombro do moreno, que se assustou levemente, mas logo relaxou ao ver Luciano olhando curioso e sorrindo para os dois

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⏰ Última atualização: Apr 02 ⏰

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