As minhas olheiras denunciavam a minha exaustão física e mental mas eu me mantinha atenta na tela do computador, óculos sobre o nariz e cafeína correndo pelo meu organismo.
Eu precisava apenas disso pra fazer o que precisava ser feito
Por algum momento ou outro minha mente percorria por Camila, a pele bronzeada e o vestido preto em fenda na coxa e a maneira como ela abriu as pernas sendo completamente obscena estavam me deixando maluca, as memórias daquele dia insistiam em permanecer no meu pensamento e por mais que eu não queira, era inevitável não pensar maquilo. Principalmente quando ela caminhava por aquele escritório, a pose ereta e imponente com os mais diversos e variados trajes de grife esbanjando charme e energia sexual.
E eu nem mencionei seu perfume, aquele maldito cheiro singular e atraente como o inferno.
Apenas a olhava de rabo de olho enquanto o restante dos funcionários faltavam babar na diretora e logo depois despistavam fingindo estarem executando alguma tarefa, eram péssimos em disfarçar o quanto ela era gostosa.
E de fato, ela é.
Enfim, decidi abandonar meus devaneios e focar na revisão dos textos a minha frente, logo as horas passaram voando e percebi todos indo embora. Fiquei mais alguns minutos para finalizar tudo, odiava deixar qualquer coisa para depois, e então finalizei meu trabalho do dia. Levantei da cadeira de couro e peguei meus pertences indo até a porta, tranquei minha sala e vi uma figura feminina na escada a minha espera com um olhar predador, um arrepio percorreu minha espinha e eu respirei fundo.
— Dia cansativo Sra. S/s? – perguntou cínica tirando os óculos escuros e eu soltei uma risada nasal.
— Muito. – concordei. — Os seus pais têm um histórico bem sujo, sabe? – vi seu maxilar travar com a resposta inesperada. — É difícil revisar todos aqueles casos e matérias sobre o quanto eles são "íntimos" de políticos questionáveis.
— Imagino que sim e concordo. – arqueou as sobrancelhas tentando esquivar daquele assunto. — Estive pensando... – comentou se aproximando perigosamente. — Podemos conversar?
— E não estamos conversando? – franzi o cenho e ela revirou os olhos.
— Não. – umedeceu os lábios alternando o olhar entre minha boca e meus olhos deixando bem claro suas mais sujas intenções. — Não do meu jeito.
— Não tenho interesse em nada que envolva você. – travei a mandíbula naquela luta intensa de olhares. — Entenda de uma vez por todas Camila, eu tenho uma esposa.
— Você tem uma esposa e daí? – deu ombros. — Você a ama S/n? Você a ama do jeito que me amou? – perguntou com uma certa raiva em seu tom de voz, desviei meu olhar do seu e meu coração batia tão forte que podia jurar senti-lo há metros.
— Cam-
— Me responde. – cerrei meus olhos voltando a atenção para aqueles castanhos que me consumiam por inteira, naturalmente íamos nos aproximando e percebi apenas quando nossos lábios estavam próximos de se tocar.
— Eu preciso ir. – umedeci meus lábios passando a mão pelos meus cabelos saindo daquela situação. — Tenha uma boa noite Sra. Cabello. – recuperei o fôlego e sai a olhando pela última vez de canto de olho, notei o sorriso ladino em seus lábios e a mordida que deu em seu lábio inferior.
A vadia estava se divertindo
Ela sabia que ainda me tinha em mãos
— Espera. – disse e eu parei aonde eu estava. — Você aceitaria um jantar?
— Um jantar? Com você? – perguntei um pouco incrédula com a audácia da latina.
— Não estou incluindo mais ninguém além de nós em meus planos, você está? – perguntou e eu soltei uma risada irônica.
— Que vadia insana... – sussurrei baixo rindo.
— O que?
— Nada. – balancei a cabeça me dispersando dos pensamentos. — Eu achei que tínhamos prometido manter isso no profissional.
— E eu disse que não seria profissional? – se aproximou colocando os óculos de sol dando uma risada cínica. — Não entenda mal, por favor. – mordeu o lábio inferior antes de me analisar de cima a baixo. — Meu único interesse é esse. Até porque, você mesmo disse que tem uma esposa e eu respeito isso.
— É claro. – concordei completamente sem palavras. — Se esse é o caso, então não vejo problemas.
Eu via diversos problemas ali, mas apenas quis ignorá-los enquanto mandava uma mensagem de texto para minha esposa avisando que iria fazer hora extra e chegaria mais tarde em casa.
(...)
— Vamos querer a sugestão do chef. – a latina pediu ao garçom, me analisou como se pedisse minha validação e eu assenti. — E duas taças do vinho mais exclusivo, por favor.
— Eu não vou beber. – comentei. — Ainda preciso voltar dirigindo. – ela concordou e suspirou.
— Apenas uma taça então. – ofereceu um sorriso simpático ao funcionário que anotou os pedidos e saiu do nosso campo de visão educadamente.
— Você também não deveria beber. – comentei e ela abaixou o olhar área com a minha fala. — Eu digo porque é perigo-
— Eu sei, mas acredite, eu estou acostumada. – me limitei ao silêncio ao perceber o tom de irritação em sua fala, observei o local por cima dos ombros e percebi o quanto era um ambiente totalmente fora da minha atual realidade. — Gostou do local? – perguntou cortando a atmosfera constrangedora.
— Ah sim, é só um pouco... – procurei as palavras. — Elegante demais para mim.
— Jantei aqui algumas vezes, a comida é tão boa quanto. – comentou dando um sorriso casto. — Pensei que fosse gostar.
— Posso te perguntar algo?
— Sim.
— Por que agora?
— O que? – ela franziu o cenho confusa.
— Por que decidiu voltar agora?
A expressão da latina morreu enquanto vi suas mãos delicadas com as unhas bem cuidadas e pintadas apertarem os punhos com força.
— Eu- – sua fala foi cortada pelo garçom servindo seu vinho e nosso contato visual se mantinha. Logo que o homem saiu do local, ela tomou um gole significativo da bebida e continuou em silêncio. — Ainda é um jantar profissional S/n. – respondeu claramente desconfortável, concordei com o olhar baixo e ela começamos divagar sobre a situação do jornal e de sua família.
(...)
Após o jantar, caminhamos até o estacionamento em silêncio. Um silêncio estranhamente reconfortante, parei em frente ao meu Jeep Compass e ela a sua BMW, ainda estávamos perto e de frente uma a outra.
— Foi uma noite satisfatória S/n. – ofereceu a mão para um aperto amigável e eu o fiz.
— Concordo. – sorri tímida.
— Tenha uma boa noite. – desejou antes de entrar no automóvel e eu fiz o mesmo.
— Se cuide, Camila. – eu disse quase em sussurro e dei partida no meu carro ao vê-la dirigir a BMW importada em alta velocidade pensando em nossas conversas.
"Você a ama S/n? Você a ama do jeito que me amou?"
Você é uma incógnita Camila Cabello e cada célula do meu corpo odeia admitir que não...
Jamais alguém seria capaz de te substituir.
[n/a: oi lindes!]