life after you

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— NÃO! – acordei de mais um pesadelo chorando e hiperventilando, Lily acordou assustada ligando o abajur.

— Eu tô aqui, meu amor olha pra mim. – disse me abraçando e eu continuei a chorar como uma criança em seus braços, desde que meu ensino médio acabou eu tenho esses pesadelos com Camila.

Ela é como uma maldição

Mesmo após 10 anos desde que tudo aconteceu, desde que ela foi embora, eu venho vivido normalmente. Eu me casei com Lily, me formei em letras e trabalho em um jornal renomado, meus amigos continuam as mesmas pessoas incríveis desde sempre e tenho uma família unida.

Mas algo parece errado

Talvez seja a monotonia do casamento, do trabalho e da rotina em geral mas há algo, existe algo errado. Eu realmente não sei o que é mas quando tenho essas sensações recorro ao meu antigo e fiel amigo, meu bloco de notas, lá eu transfiro todos os meus sentimentos em forma de poemas ou, ás vezes, pequenos textos melancólicos, o que ajuda bastante e eu consigo continuar sem perder o juízo de vez. Enfim, após eu chorar por quase uma hora eu acabei adormecendo e acordei com o barulho do alarme, minha esposa resmungou ainda dormindo e virou para o outro lado, dei um beijo em sua bochecha e fui fazer minhas higienes e tomei um banho quente logo que sai vesti uma calça preta, camisa social branca e um suéter cinza por cima. Por fim, coloquei meu coturno e finalizei com meu perfume. Esse era meu ritual diário e depois de tudo, eu fui para cozinha tomar um café antes de enfrentar um dia de trabalho caótico e estressante, eu não me arrependo de ter feito letras mas trabalhar nesse escritório é um verdadeiro castigo.

Há suas ressalvas, como o salário por exemplo, eu realmente não posso reclamar porque tenho uma boa posição de supervisora geral e isso, infelizmente, é um milagre para quem é formado nesse curso. Mas, é um saco de qualquer forma, meu emprego é basicamente barrar ou publicar determinadas notícias, ou como os estagiários dizem, a carrasco da Miami Herald. Enquanto pensava em meus devaneios, uma figura de uma Lily completamente descabelada e sonolenta surgiu vindo do corredor, ela bocejou e veio até mim se aconchegando em meu abraço, dei um sorriso casto e beijei sua testa.

— Bom dia. – eu disse e ela suspirou indo até a cafeteira pegando sua caneca enchendo-a com o líquido preto.

— Bom dia. – tomou um gole e um silêncio instalou-se no local. — Você está melhor?

— Uhum, não se preocupa comigo. – dei ombros colocando minha caneca da TARDIS na pia e indo até o chaveiro pegar as chaves do carro, ela então se aproximou e segurou meu pulso com aquele olhar que eu conheci muito bem. — É sério, eu tô bem. – revirei os olhos, ela sempre me importunava com a ideia de que eu deveria procurar algum psicólogo para entender esses sonhos e "tratar meus traumas".

— Você sabe o que eu penso.

— Sei e eu tô atrasada- – já estava caminhando para abrir a porta quando ela veio atrás de mim colocando-se na minha frente.

— S/n-

— Mais tarde conversamos sobre ok? Eu realmente preciso ir agora. – sorri forçadamente e sai do apartamento, fui até a garagem e dei partida no jeep compass.

(...)

— S/n! Minha pequena grande garota! – George, o diretor do jornal veio até mim, repreendi o homem mentalmente e me perguntei por qual motivo tamanho desgosto logo de manhã. — Estava comentando com nossos patrocinadores como você é genial.

— Uhum. – continuei caminhando até a minha sala e o homem grisalho veio atrás de mim.

— Sabe, eu consegui reservas para um hotel caríssimo-

— Não. – cortei o homem e entrei na sala fechando a porta na sua cara, desde que eu entrei nesse escritório como estagiária ele faz suas jogadas para mim, o que no mínimo é nojento e constrangedor para uma pessoa da idade dele. Pelo menos ele não é meu chefe, diretamente, existe o verdadeiro "chefão" que é o dono do jornal mas aparentemente não sabe-se muito sobre ele, apenas que é alguém extremamente influente e com alto poder aquisitivo. Respirei fundo e me sentei na poltrona ligando o computador e vendo as pautas diárias, existem estagiários extremamente competentes mas outros tão imaturos. Franzi meu cenho a descartar uma notícia sobre um cachorro que havia sido adotado por macacos, após horas fiz o esqueleto do noticiário impresso e mandei para a equipe de edição e montagem.

Olhei o relógio de meu celular e marcavam duas horas após meu horário de almoço, suspirei e peguei um café, ás vezes eu ficava tão imersa em meu trabalho que esquecia dessas coisas, pedi um lanche qualquer antes de receber a visita de uma garota ruiva, ela era estagiária mas basicamente ficava para a "garota do café e dos recados", me lembrava um pouco de mim na minha época de estágio.

— Sra. S/s? – ela chamou minha atenção e eu lhe dei meu olhar. — Perdão atrapalhar seu almoço mas o diretor Williams pediu para reunir a equipe de superiores na sala de reuniões daqui há meia hora.

— Você não atrapalhou, obrigada por avisar. – lhe ofereci um sorriso e vi suas bochechas ruborizarem, ela saiu meio atrapalhada e eu continuei a comer meu sanduíche de atum.

(...)

Cheguei no local e me assentei, cumprimentei Lucas e Ashley da equipe de design com um sorriso e esperei o que viria a seguir. George começou a falar, eu estava muito focada em meus devaneios e pensando em maneiras de acabar não enlouquecendo que apenas saí dali quando escutei uma salva de palmas, até ver ela. Eu estava petrificada, senti um aperto no peito e minhas mãos suaram frio, engoli em seco e nossos olhares se encontraram.

Camila.

A dona do rosto que tanto me assombrou estava bem na minha frente, mas ela estava diferente. Sua expressão estava mais séria e mais madura, ela estava bem vestida e não mostrou-se abalada ao me reconhecer ali.

Mas o que ela estava fazendo de volta a Miami?

not so good girl | book two - cc + youOnde histórias criam vida. Descubra agora