Bee
Dor pode ter diferentes significados. A vida tinha me ensinado essa lição a duras penas. Mas a dor que sinto agora tem cheiro também.
Salmão e salsicha de rena.
Posso sentir o aroma enquanto ando para a cozinha. Os ratinhos de sempre se escondem nos cantos e atrás das botas manchadas que papai usa para trabalhar na pesca durante o verão. A meio caminho, eu paro. Algo está faltando. Mas isso muda rápido, porque a mão pequena de Juliane se encaixa na minha.
— Vamos jantar todos juntos hoje? — Ela pergunta, um cacho caramelo caindo sobre a sua sobrancelha grossa demais para uma garotinha.
— Vamos estar sempre juntas — prometo.
— Onde estão as minhas garotas? — É a voz de papai. — Venham comer. Temos muito trabalho pela frente.
Suspiro, aliviada. A voz dele está gentil. É um dia bom.
Puxo Juliane comigo para a cozinha compacta, bem embaixo do mezanino que nós duas dividimos. Quando está perto o suficiente, Juliane me deixa para se atirar nos braços de papai.
Fico ansiosa de imediato. Mas ele ri e a beija. Então a coloca gentilmente em seu lugar na nossa mesa.
— Você também, princesa. Venha.
Sorrio. Estou realmente feliz. Ele deve estar melhorando, prometeu que isso aconteceria se nós déssemos mais uma chance. Por amor. Papai diz que nosso amor vai curá-lo, e eu acredito nisso.
Eu o abraço também e depois vou para o meu lugar. Logo nós três estamos comendo. Papai conta histórias engraçadas, como a de um tal Bola-Que-Rebola que caiu das escadas, mas ainda assim se casou com uma princesa.
Juliane e eu rimos. Felizes e seguras, nós estamos em família.
Então acontece.
De repente, há um trovão. A cozinha deixa de ser aconchegante e fica escura quando a lareira se apaga. O frio entra sem pedir, e percebo que papai não está mais na mesa conosco.
Ele abre a porta da frente com um chute. Procura por nós e seus olhos estão ruins.
— Não! — Grito e tento me jogar na frente da minha irmã, mas ele a alcança primeiro.
— Suas garotinhas ingratas, vocês são como a sua mãe! Parem de me olhar como se eu fosse um monte de merda! Eu lutei por essa droga de país!
Papai empurra Juliane, mas eu entro em seu caminho antes que ele a atinja. Levo um soco forte no queixo por isso. Cambaleio, mas me mantenho firme na frente da minha irmã. Espero os outros socos que virão. Mas eles nunca chegam.
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Corações Selvagens: Protegidas pelo Fuzileiro ( Apenas Degustação)
RomanceHunter Eu sei o que todos pensam sobre mim em Bear Valley. Sei que as mães atravessam as ruas com os filhos e os homens se calam quando entro na taberna. Minha fama de rude e insensível é boa para mim porque através dela consegui o que os anos no...