Hunter
Eu tinha feito uma escolha perigosa e sabia disso. Mas quando a chuva começou a cair sobre a montanha, não havia alternativas. Não podia mandá-las para a tempestade lá fora, mesmo sabendo dos riscos dentro da minha própria cabana.
Dentro do celeiro improvisado, começo a cortar os galhos do último abeto que derrubei, enquanto tento não pensar muito nisso. Também tento não repassar na mente a promessa que fiz à mulher e à criança.
"Nada de mal vai acontecer enquanto estiver sob este teto."
Saíra tão involuntário quanto a minha respiração. E a parte mais incompreensível foi a certeza que me envolveu quando eu disse aquelas palavras. Eu nunca tinha sentido algo nem remotamente parecido. Um instinto protetor. Não; uma necessidade de proteger alguém. Proteger era uma emoção humana que eu pensei ter desgastado nas frentes de guerra, onde a ordem era sempre destruir.
Hunter, Hunter... As chances de tudo isso acabar mal...
Arranco com força um galho grosso e o lanço na pilha onde estão separadas as madeiras que uso para construção. Depois as deixo de lado e vou até a peça em que passei o dia trabalhando.
A pesca controla o orçamento no verão, mas grande parte do dinheiro que tenho vem das fabricações de móveis de madeira. Um ofício que herdei do meu pai, quando pensava que seguiria os passos dele no futuro. Tinha começado quando éramos apenas nós dois na decrépita fazenda da família que sobrevivia desde a Grande Seca, bem no meio do Texas.
Naquela época, o serviço militar não me passava pela cabeça. Meu pai cresceu muito com sua oficina de móveis. Seu trabalho impressionou tanto que um sujeito de Nova Iorque se interessou em investir. Eu já era um rapaz de quatorze anos e fiquei tomando conta da nossa loja enquanto ele cruzava o país. O encontro que mudaria as nossas vidas iria acontecer no World Trade Center.
O 11 de setembro amanheceu para mim como qualquer outro dia. Eu segui para a nossa oficina e assumi o trabalho. Comecei o dia martelando o velho armário de um amigo da família, consertando-o. Quando finalmente o deixei de lado para o almoço, atravessei o campo de trigo e cheguei ao quintal. John Miller, o melhor amigo do meu pai, estava lá. Esperando entre dois lençóis de elástico que secavam, enquanto apertava seu chapéu de feltro nas mãos.
"— Aviões caíram — ele disse enquanto suava sob o sol texano. — As torres gêmeas estão queimando."
E foi isso. Duas frases desmoronaram toda a vida que eu ainda poderia ter.
Fui recebido por uma tia que morava na mesma cidade, mas sabia exatamente quanto tempo minha estadia no Texas ainda ia durar.
Quatro anos depois, meu nome estava inscrito no alistamento das Forças Armadas Americanas. A perda se transformou em uma concentração que afinou minha pontaria de fuzileiro. Nos anos que se seguiram, eu recebi e obedeci a ordens. Enfrentei a morte e a olhei nos olhos por tanto tempo, que ela me roubou a alma, deixando-me completamente oco por dentro. Não restou nada para oferecer a alguém. Eu percebi, quando tentei, que minhas feridas não poderiam ser divididas com outra pessoa. Tinham se tornado um fardo que eu devia suportar sozinho, pelo resto dos meus dias.
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Corações Selvagens: Protegidas pelo Fuzileiro ( Apenas Degustação)
RomanceHunter Eu sei o que todos pensam sobre mim em Bear Valley. Sei que as mães atravessam as ruas com os filhos e os homens se calam quando entro na taberna. Minha fama de rude e insensível é boa para mim porque através dela consegui o que os anos no...