TRÊS

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— Kallias… —Nyhad deu um salto da cama, e correu para os braços dele, sentindo o calor de seu corpo contra o seu. Ela sabia que tinha pouco tempo, pois logo Poak voltaria a tomar o controle. Precisava aproveitar cada segundo ao lado dele, antes que fosse tarde demais.

— Eu sinto muito por tudo que esse desgraçado tem te feito passar, meu amor. —Ele explicou com uma voz rouca, encostando sua testa na dela.—Tanto ele, quanto o maldito do meu pai. Não sabe o quanto é horrível presenciar tudo e não poder fazer absolutamente nada.

— Senti tanto a sua falta…p-pensei que não fosse voltar para mim nunca mais.—Lágrimas quentes e incontroláveis tomaram conta dos olhos, sentiu seus pulmões falharem e suas pernas estremecerem.

        Kallias a puxou para mais perto, segurando-a com o braço esquerdo pela cintura enquanto a outra mão massageava seu rosto e enxugava suas lágrimas. Queria poder tirá-la dali logo, mas como faria isso? Ainda mais estando preso ao corpo do irmão. Ele sabia que não iria demorar muito para que Poak voltasse, porém precisava ser otimista ou pelo menos demonstrar isso a ela…

— Ei, eu tô aqui agora, não tô? Poak pode ser forte, mas não pode me impedir de possuir o controle do seu corpo para sempre.—disse numa tentativa falha de acalmá-la.

—Ele achou que se livraria de mim, mas esqueceu que matar alguém sangue do seu sangue o traria consequências.

—Sempre que eu tentava dominar, Poak dava um jeito de me impedir, mesmo que isso o causasse dor.—explicou cabisbaixo.—Meu irmão é orgulhoso e não aceita dividir seu corpo comigo, se pudesse já teria dado um jeito de se livrar dessa maldição.

— Mas corremos algum risco dele conseguir fazer isso?—questionou arqueando as sobrancelhas com preocupação. Ela sentia um nó na garganta ao pensar na possibilidade de perder Kallias para sempre.

— Não, nenhum. As consequências de sujar as mãos com o sangue de alguém de sua família são eternas.—Ele respondeu com firmeza, abraçando-a pela cintura e puxando-a para mais perto

— Então, o que vamos fazer agora, Kali?— perguntou aflita enquanto tentava controlar a respiração.

       Ele percebeu o seu desespero e, então, liberou sua energia para acalmá-la, fazendo com que ela pudesse ouvir o barulho dos rios e sentir o aroma de sua flor favorita, o lírio, que invadia o quarto. —Esse era um de seus dons: a incrível manipulação da natureza. Ela se sentiu envolvida por uma sensação de paz e segurança, como se estivesse em um belo bosque.

— Ei, ei — ele sussurrou, massageando seu rosto agora com as duas mãos. Ele olhou em seus olhos e sorriu. — Lembra do que combinamos quando crianças? Quando um de nós estiver triste devemos...

— Lembrar do nosso primeiro beijo — ela completou a frase, deixando escapar uma leve risada. Ela se aconchegou em seu peito e sentiu seu coração bater.

— Ah, nossa! — ele exclamou, dando altas gargalhadas. Ele abraçou-a com força e beijou sua testa. — Você não sabe o quanto eu fiquei nervoso naquele dia. Eu achei que ia te machucar com os meus dentes ou te sufocar com a minha língua.

— É, você me evitou por quase uma semana! — ela disse, irritada, lhe dando um leve soco no peitoral. Ela fez um bico e cruzou os braços. — Eu achei que você não tinha gostado e eu tinha feito algo de errado.

— Que nada! — ele disse, ironizando.— Você foi incrível, foi o melhor beijo da minha vida. Eu só fiquei com vergonha de ter estragado tudo.

— Estragado? Foi incrível! Assim como todos os momentos que temos juntos, até mesmo os cômicos.— Nyhad exclamou, com os olhos brilhando.—Lembra do dia que quase morremos afogados?

—E tem como esquecer??—perguntou entre risos.— Eu adorei cada segundo da nossa aventura, tirando a quase morte, claro.

        Ela fez uma careta ao lembrar do susto, mas logo sorriu de novo.

— Ainda bem que a gente conseguiu escapar e voltar sem ninguém perceber. — Ela disse olhando nos olhos de Kallias.— A Avena foi uma ótima cúmplice, né?

        Kallias assentiu, mas estava mais interessado em observar o rosto de Nyhad do que em conversar. Ele a agarrou em um abraço apertado que a fez tirar os pés do chão.

—Me põe no chão, Kali!—disse tentando manter-se autoritária.

—Você é leve como uma pena.

—Se você não me soltar agora…

—Hã, vai fazer o que?—perguntou com deboche.

—Não vai ganhar beijo!

—Como é?!—Ele exclamou surpreso.

        Imediatamente, Kallias pôs Nyhad no chão e, sem enrolações, selou seus lábios em um beijo. Ela sentiu o calor do corpo dele contra o seu, o gosto doce da sua boca, o carinho dos seus dedos em seu cabelo. Ele sentiu o coração dela bater no mesmo ritmo do seu, a maciez da sua pele, o perfume do seu pescoço.

        Nyhad se entregou ao beijo esquecendo-se de tudo que havia passado naquela manhã, esquecendo-se do perigo de Poak voltar, esquecendo-se de Major, esquecendo-se que estava a onde um dia seus pais tiveram suas vidas ceifadas. Tudo que importava era que ele estava ali, ainda havia esperanças.

— Que bom que isso não é um sonho.—Ela sussurrou em seu ouvido.

— Eu estou aqui, meu amor, estou aqui e vou cumprir minha promessa. Vou tirá-la daqui.

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SOMBRA E FÚRIA (Vol. 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora