Frio.
É tudo o que sinto.
É como se eu estivesse destinado a sentir essa coisa. Eles dizem que o frio é psicológico, que não passa de uma mera ausência de calor, tolos. Não sabem o que é o Frio de fato, é a pior sensação que se pode sentir nesta terra. Ou pelo menos é o que meu pai me contou.
Aqui estou eu de novo, vestindo essa bota que mantém meus pés aquecidos, luvas, luvas essas que quase não cabem em minhas mãos.
Mas não diria que é culpa do artesão ou quem quer que tenha feito isso.
Muito menos de meu pai por não ter me comprado umas novas.
É minha culpa por ter essas mãos estupidamente grandes.
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??? (Masculino): Belac, essas luvas já não mais te cabem, te dei elas em seu aniversário, mas já encolheram? Papai compra mais quando estivermos voltando para casa, está bem?
Belac: Ok, pai. Só peço que pare de falar assim comigo, já não tenho mais 8 anos.
Após ouvir isso vindo de mim, ele ri estupidamente.
Pai: Já estamos saindo, Belac. Na volta a gente se diverte.
E lá vamos nós, saindo de casa neste fatídico dia, hoje é Halloween, 31 de Outubro de 2018. Esse dia supostamente é para ser divertido para alguns, ou assustador para outros. Já para mim, se tornou monótono, tornou-se tradição eu e meu pai sairmos pela manhã do Halloween.
Essa cidade é estranha demais, eu nunca fui muito com a cara dela, não que a cidade tenha de fato um rosto, mas é que, nesse imenso Brasil, o Halloween nem é comemorado como lá fora. Mas esse lugar é exceção, aqui as ruas são decoradas com seus respectivos aparatos.
Finalmente me encontro no destino esperado, eu só visito esse, então não sei muito bem sobre, mas é realmente suposto um cemitério ter uma recepção?
"Recepção". Sim, entre grandes e enormes aspas, pois é uma espécie de saguão.
Aqui vai uma teoria: Esses tipos de lugares devem ser lugares ruins para pessoas sensíveis, então este cômodo foi criado para os visitantes descansarem. Apenas uma teoria.
Após entrar nessa "recepção", meu pai ordena que eu me sente, ele recebe uma ligação, atende e parece depositar sua atenção no telefone, e então ele guarda o mesmo, pede para eu o esperar e sai do saguão.
Em situações comuns, eu esperaria tranquilamente, sou um garoto paciente.
Gasto meu tempo observando o tipo de visitante que esse lugar recebe, passando o olho por cada um, meu olhar se cruza com os de um garoto loiro.
Ele possui características típicas de uma criança, mas seu cabelo é bem claro, sua pele é branca, seus olhos são vermelhos, e vazio.
***
Vazio.
Neste exato dia, 31 de Outubro.
Meu coração é Vazio.
Neste ano de merda, 2018
Meu olhar é Vazio.
Encontro-me em um transe, num saguão de um cemitério, acompanhado desse homem que se diz meu pai.
