Eu sou uma criança sem nome. Não me lembro de nada dos meus primeiros 7 anos de vida. A minha primeira memória desenvolvida é de um moleque alto para caralho e um outro, bem menor.
Eu não me lembro do rosto deles, mas lembro de estarem abismados, um se desmoronava em lágrimas e o outro mordia fortemente o lábio inferior, ao ponto de sair sangue.
"Eu vou estraçalhá-los." Essa é uma frase dita pelo maior, não sei por que eu me lembro dela. Ele tinha um ódio mortal e sede de sangue, o outro tinha pena, muita pena. Eles olhavam para o meu corpo caído no chão...
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A minha segunda memória, era em um beco próximo a uma confeitaria, eu estava morrendo de fome, largado e quase morto. Até que então, aparece um garoto uns 10 centímetros mais alto que eu, ele para e me olha, puxa de um saco o que parecia ser um... Bolo. Não sei como ele guardou bolo em um saco.
Minha comida preferida é bolo, talvez se desencadeie desse fator. Lembro também de seguir esse garoto por um tempo, ele era um sem teto também. Me ensinou a falar e a roubar, isso explica o porquê de ter um bolo em um saco, e não em um pote.
Ele era apaixonado na filha do confeiteiro local, apesar de ele ser um verme sem caráter, ela era um "doce de pessoa". Perdão, eu não sou de fazer piadas.
Mas... A minha terceira memória... É algo aterrorizante até mesmo para psicopatas.
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Em um certo dia, tive dificuldades para achá-lo, imaginei que estaria na casa da filha do confeiteiro, não me pergunte como eu sabia onde era. Eu entrei na confeitaria escondido, mas havia algo errado, aquele balofo não estava lá. Saí da cautela quando percebi estar sem perigo, nos fundos do estabelecimento havia uma porta que levava para a casa deles.
Estava estranhamente quieto, a família era bem barulhenta, era extremamente bizarro esse silêncio. Ao andar e andar, piso em algo úmido. Era sangue, sangue fresco. Senti minha respiração ficando pesada. Eu ouvia grunhidos estranhos vindo da porta do quarto da garota.
Abro a porta e me deparo com um horror que ficou cravado na minha memória. O garoto gentil que me deu comida... Estava devorando as tripas da garota que ele amava, a cama estava cheia de sangue e a garota morreu sorrindo. Permaneci em silêncio, mas graças a minha respiração pesada, ele vira para mim.
Ele desce da cama agarrando o cadáver pelos cabelos e arrastando até minha direção.
"Você sabia? Os olhos são as partes mais saborosas do corpo humano." Ele crava as unhas nos dois olhos da garota, arrancando-os.
"Serei gentil, tome um pra você, esse é meu." Ele estende a mão com o olho da garota. Eu nego com a cabeça.
"É rude recusar a gentileza de alguém." Ele enfia o olho na minha boca, me forçando a engolir aquela merda.
"Viu? É o melhor dos pratos gourmet."
Minha visão fica escura e eu desmaio ali mesmo. Só acordei com a porta da casa sendo aberta, percebo os passos leves, é uma mulher.
Pego a faca da cozinha, e ao ouvir os gritos de desespero ao ver o sangue e tripas na cama, chego por trás dela e corto seu pescoço. Por causa de seu apavoro, ela nem sentiu minha presença. Não sou nenhum psicopata, mas deixar essa mulher morta no chão é mais seguro.
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Os vizinhos são velhos gagás que mal conseguem sair da cadeira, com certeza não ouviram nada. Me dou o luxo de tomar um banho e, percebo que minha roupas estão uma merda, não são mais úteis. Pego então as roupas do armário da garota e coloco em sua mala. Não tem mais dono mesmo.
Sendo bem sincero, eu peguei toda a tralha que ela carregava, maquiagem, roupas, calçados e tudo o que você possa imaginar que uma mulher tenha. Ela era bem mimada. Não posso esquecer que a faca da cozinha também ficou para mim.
A confeitaria era muito bem sucedida, então eles ganhavam uma grande quantia de dinheiro, por essas e outras, eu roubei toda a grana que tinha naquele caixa, sem contar o que tinha na casa também. Dá para fazer muita coisa com essa quantia.
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Mesmo depois de anos após aquele acontecimento, eu ainda sinto o cheiro do sangue. Eu vivi uma vida anormal depois daquilo, roubando moradores e roubando seus lares. Um genocídio contínuo que virou parte de mim.
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Na busca de um novo lar, encontrei uma boa casa que era meio isolada do pessoal da cidade, daria para viver uns anos ali. Invado então e encontro a vítima da vez em uma poltrona, pela estatura corporal, é um homem e alto. Sinto que se falhar, morrerei.
A casa está com pouca iluminação e mal enxergo alguma coisa, mas há uma lamparina na mesa em frente a vítima. É um morcego é?
Pulo e esfaqueio seu peito, mas... Há algo errado, por que isso parece... madeira?
"Procurando alguém?" Ao ouvir a frase que vinha da direita, percebo que o homem que era para estar na poltrona, está ao meu lado.
Antes que eu possa fazer algo, recebo um chute nas costelas e voo na parede. Estou sem fôlego, como isso pôde acontecer? As luzes são ligadas, e percebo que aquilo que esfaqueei era um manequim com uma peruca. nada parecida com seu cabelo.
Ele é alto, possui um cabelo volumoso, louro com pontas rosas, seu corpo é largo e suas pernas compridas, isso explica a força do chute.
"Como isso é possível? Eu nunca faço nenhum barulho..." Começo a questionar meus passos, será que cometi algum erro?
"Está dez anos adiantada se queria me assassinar, eu soube que minha vida estava em perigo só de você olhar para minha casa."
"Responda com cuidado, se eu não gostar da sua resposta, considere-se morta." Avisa.
"Seu nome." Permaneço em silêncio.
"Eu não tenho um nome..." Ele arqueia a sobrancelha ao me ouvir.
"Estranho, pelas suas roupas, julguei que você tinha pelo menos nome." Ele explica.
"Me diga, quantas casas você já roubou até chegar aqui?" Ele sabe?
"Como você sabe que eu roubo casas?" Pergunto.
"Você tem malas que deixou do lado de fora, provavelmente pretendia trazer pra dentro quando terminasse o serviço. E essa faca está desgastada e cega. Significa que você fez algumas coisas anteriormente." Ele sabe bastante do assunto.
"Eh? Pra você deduzir isso só por olhar, deve ter experiência, né?" Ele afia o olhar, peguei ele.
"Você quer morar aqui, né?" Ele pergunta.
"Gostaria."
"Gostei de você, pode ficar." Ele vai até o lado de fora e pega minhas malas, jogando-as para o lado de dentro.
"Suas malas estão aí, coloca no quarto de cima, é seu quarto agora."
Que? Não entendi nada, ele vai me deixar morar aqui? Mesmo depois de tentar matar ele???
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No dia seguinte, ele veio até mim, com documentos.
"Tá aí, agora você tem identidade. São falsos, mas ninguém liga." Agora eu sou alguém com nome.
