Capítulo 1

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Quatro anos depois

Bree

O ruim do álcool é que tudo parece uma boa ideia.

— Ei, está bêbada? — Audrey ri ao meu lado quando tropeço na primeira pedra da alameda que leva a casa à nossa frente.

O que me faz lembrar que Audrey havia bebido antes de sairmos do dormitório e me convenceu a fazer o mesmo.

— Não, eu não bebo. — Eu havia recusado quando ela serviu meu copo enquanto estava sentada em frente ao espelho, com meus cabelos sendo enrolados por seu babyliss — Quer dizer, até bebo um pouco de vinho com meu pai, mas...

— Para de ser boba, é só pra chegar na festa animada — insistiu me passando o copo de plástico do Mickey. Nossa, que elegante!

Tomei aquela bebida horrível, que acho que era whisky, fazendo careta enquanto Audrey voltava a enrolar meus cabelos e tagarelar sobre a festa da irmandade que ela estava louca para entrar e hoje seria um dos testes.

— Por que quer entrar numa irmandade? Isso me parece tão arcaico! Você vai pagar para ter amigos, literalmente!

— Bem se vê que morou no fim do mundo por muito tempo. A Beta Kappa é a irmandade mais incrível do campus. São as mais populares, a que tem a casa mais legal, as melhores festas. Fazer parte é uma honra. Quero começar minha vida universitária com o pé direito.

— Eu te acho incrível, não precisa de um monte de garotas más sem cérebro te fazendo passar vergonha só pra estar entre elas.

— Não são garotas más sem cérebro.

— Eu vi nos filmes.

Ela riu mais ainda, como se eu estivesse falando uma bobagem.

— Pobre Bree, tão inocente! Vai ser legal, vai ver.

— Eu não quero ir, não posso ficar de fora disso? Não quero entrar numa irmandade ou coisa do tipo.

Eu vinha falando isso há vinte e quatro horas para minha companheira de quarto desde que a conheci ontem, quando meu pai me deixou no meu dormitório da universidade, com um ano de atraso.

E ainda não tenho certeza se deveria estar aqui, mas papai foi enfático em dizer que eu precisava sair do meu exílio ao seu lado e ir para o mundo.

Era engraçado que ele quisesse "me liberar" agora sendo que foi ele quem inventou que devíamos nos enfiar em uma ilha no fim do mundo.

Ainda me recordo daqueles primeiros dias vazios e terríveis, a saudade que eu sentia de Seattle, da minha casa, da minha escola.

Do meu melhor amigo.

Porém, com o passar do tempo, minha nova vida foi ficando mais fácil e a saudade foi enterrada bem fundo no meu peito.

Aprendi a apreciar os dias tranquilos no pequeno vilarejo escocês, com poucos habitantes, a maioria com idade para ser meus avós. Estudei em casa para terminar o colégio e passei meus dias ajudando meu pai na pesquisa dos seus livros.

A vida foi ficando fácil e cada vez menos perdia meu olhar no mar infinito sabendo que do outro lado do oceano deixei meu coração.

Acho que esperei que em algum momento o telefone tocaria, ou receberia um e-mail, uma mensagem, qualquer coisa, nem que fosse com raiva, por eu ter ido embora sem nem me despedir.

Mas Blake nunca entrou em contato.

Eu dizia a mim mesma que era melhor assim. Eu e Blake éramos dependentes demais um do outro, percebia agora, como se fôssemos partes separadas de algo que deveria ser único. E talvez papai tivesse razão, Blake poderia ter um lugar no meu coração pra sempre como meu amigo de infância. E só.

Toda Sua FúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora