Capítulo 8

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Bree

Por um momento acredito que ouvi errado, mas Blake está com os braços cruzados e um sorriso diabólico nos lábios com a certeza de que vou sair correndo pela porta e não voltar mais.

Então é este o intuito dele? Me assustar para que eu não fique?

Certo. Estou assustada.

Sim, quero dar meia-volta e desaparecer, fingir que não me coloquei por vontade própria naquela situação bizarra.

Mas não quero dar aquele gosto ao Blake.

De repente uma cena volta à minha memória.

Acho que tínhamos uns 11 anos e eu e Blake estávamos andando de bicicleta e passamos por um casarão abandonado.

Blake parou e disse que ia entrar. Eu morri de medo e me neguei. Blake sabia que eu tinha pavor de fantasmas. Eu odiava filmes de terror e dormir no escuro. Blake se sentia em casa na escuridão. Ainda assim, sempre mantinha a luz acesa para mim.

Porém, o mesmo Blake que segurava minha mão quando eu tinha medo era o mesmo que me puxava para a escuridão assustadora, como naquele dia em que me arrastou até o casarão escuro enquanto eu gritava assustada e ele ria me chamando de boba.

— Você é muito boba, não tem nada aqui, olha... — gritou, sua voz fazendo eco e me deixando mais assustada ainda.

— Não quero ser corajosa, quero sair daqui! — Puxei minha mão e tentei correr para a segurança da luz, mas Blake me puxou de volta segurando firme minha mão. — Eu não vou entrar aí de novo!

— Então fique aqui sozinha, sua medrosa! — Ele sorriu de forma diabólica e piscou pra mim como provocação antes de voltar para casa.

Eu fiquei ali observando Blake desaparecer por alguns segundos antes de tomar coragem e ir atrás dele.

Eu o alcancei e segurei firme sua mão e ele a apertou de volta.

— Por que está fazendo isso? — indaguei sem entender aquela atração que tinha pelo perigo.

— Se não encarar seus medos, vai ter medo pra sempre — cochichou.

Eu não entendi e nem queria entender.

— Estou com medo, Blake. Vamos embora?

— Por que tem medo? Acha que eu deixaria alguém te machucar?

— Até você não pode com um fantasma!

Ele riu com vontade.

— Não existem fantasmas.

— Como pode saber?

— Ei, tem alguém aqui? — ele me provocou fazendo sons assustadores com a voz até que se cansou de sua aventura sem noção e nos levou para fora.

Este sorriso do Blake é o mesmo daquele dia.

Ele está me desafiando a ir com ele para a escuridão, pois sabe que estou com medo.

— Por que está fazendo isso? — repito a pergunta que fiz há tantos anos.

— Não queria entrar na irmandade? — É sua resposta irônica que me irrita ainda mais enquanto passa por mim e sobe as escadas devagar. — Mas se quiser pular fora, este é o momento.

Hesito, o medo e o desafio se debatendo dentro de mim, como naquele dia em frente ao casarão.

E o que posso fazer?

Algumas coisas não mudam.

Pego minha mala e sigo Blake escada acima.

Ele abre a porta pra mim, não mais sorrindo, e não consigo decifrar sua expressão. Ele não está feliz.

Toda Sua FúriaOnde histórias criam vida. Descubra agora