Capítulo 1

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  Um estrondo vindo do andar de baixo me desperta de um sono agitado

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  Um estrondo vindo do andar de baixo me desperta de um sono agitado. Parece que estou sendo tirada de um nevoeiro profundo e persistente que paira em algum lugar no fundo do meu cérebro.
  Ao abrir os olhos, meu olhar se fixa na porta fechada, tentando focar no seu contorno fraco até o meu cérebro processar o que ouvi. Porém, meu coração está à frente, batendo acelerado dentro do meu peito, enquanto os pelos da minha nuca se arrepiam.
  Uma sensação de desconforto invade meu estômago e só depois de alguns segundos percebo que o som que ouvi foi a porta da frente se fechando.
  Devagar, sento-me e saio de debaixo das cobertas. A adrenalina agora corre pelo meu sistema e estou completamente desperta.
Alguém estava dentro da casa.
  Meu pai está em sua "jornada sagrada", abençoando os prostitutos locais com a sua porra divina. Não pode ser ele.
  O som poderia ter sido qualquer coisa. Poderia ter sido a estrutura da casa se ajustando. Ou, droga, até mesmo alguns fantasmas brigando. Mas assim como nosso instinto nos alerta quando algo ruim está prestes a acontecer, o meu está me dizendo que há alguém na minha maldita casa.
  Tremendo, levanto-me da cama e um vento frio percorre minha pele, causando arrepios. Trêmula, pego meu candelabro, já que a vila é afastada o suficiente para ainda não ter os luxos da eletricidade. Abro a porta lentamente e me encolho com o alto rangido que ressoa pelo ambiente.
  Claramente preciso de um pouco do óleo do Homem de Lata para lubrificar as dobradiças da minha porta, tanto quanto preciso da coragem do Leão. Estou tremendo como uma folha no meio de uma tempestade, mas me recuso a me acovardar e permitir que alguém vagueie livremente pela minha casa.
  A fraca luz das velas falha, iluminando o corredor apenas o suficiente para minha mente criar ilusões e conjurar figuras das sombras que habitam além da luz. Enquanto caminho lentamente em direção à escada, sinto os olhos das pinturas dos meus ancestrais, que revestem as paredes, me observando enquanto passo.
  Observando enquanto cometo mais um erro estúpido. Como se estivessem dizendo - Garota tola, você está prestes a ser morta. Cuidado. Ele está bem atrás de você.
 Esse último pensamento me faz engasgar. Eu sei que não há ninguém atrás de mim, caso contrário já teria encontrado no meu aterrorizante caminho até aqui. Meu maldito cérebro está imaginando coisas demais.
  Acelero o passo e desço as escadas. O vento frio do primeiro andar me faz estremecer. Como eu detesto casas antigas.
  Ao não encontrar ninguém na sala ou na cozinha, viro-me e giro a maçaneta da porta da frente, que está trancada. O que significa que ninguém poderia ter entrado. Sorrio para mim mesma, suspirando aliviada. Deve ter sido apenas um sonho idiota.
  Ainda respirando profundamente, atravesso a sala de estar e entro na cozinha, indo direto às facas.
  Porém, vislumbro algo sobre a bancada da ilha da cozinha em um canto do meu campo de visão, o que me faz congelar no lugar. Meus olhos se fixam naquilo e um palavrão escapa dos meus lábios ao ver uma carta dourada ali.
  Olho para a carta como se fosse uma aranha viva, olhando diretamente para mim e desafiando-me a me aproximar. Se assim fizer, certamente irá me devorar viva.
  Suspirando, trêmula, pego a carta e a observo. Ela está lacrada com uma pequena fita vermelha e meu nome está escrito do lado de fora.
  Abro-a, minhas mãos ainda trêmulas, como quando se recebe um presente de Natal muito aguardado.
  Já faz meses desde que o misterioso homem não aparece para me observar, o que me deixou aliviada, mas também apreensiva. Não poderia ser ele, poderia?
  Assim que abro a carta, as palavras se tornam turvas em minha mente, como se eu estivesse prestes a desmaiar.

"Sejam sóbrios, estejam vigilantes! O Diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem devorar. - 1 Pedro 5:8"

  Aperto meu punho, jogando a carta no chão, e então retomo minha missão original. Abro a gaveta, com os talheres tilintando no silêncio, e depois a fecho após escolher a maior faca. Estou irritada demais para ser silenciosa e cautelosa.
  Quem quer que esteja escondido aqui vai me ouvir chegando de longe, mas eu não me importo. Não tenho vontade alguma de me esconder.
Estou fervendo de ódio agora.
  Não gosto que pensem que podem simplesmente invadir minha residência e me enviar uma carta boba sem que eu tome alguma atitude. E, acima de tudo, não gosto que ninguém me faça sentir vulnerável na minha própria casa.
  E ainda tem a audácia de deixar um versículo como um maldito fanático religioso? Posso ter tornado essa carta impotente quando a joguei no chão, mas mostrarei com prazer que um versículo ainda é mortal quando empurrado goela abaixo.
  Eu vagava pelos corredores sombrios da velha casa, procurando incansavelmente por alguma presença. Meu olhar percorria atentamente cada canto, ansiosa por encontrar uma resposta, mas fui deixada com o vazio como única companhia. Até que, finalmente, ao chegar à porta dos fundos, o medo tomou conta de mim.
  Meu corpo inteiro se petrificou, relutante em dar um passo adiante. Minha mente bradava para que eu não me aproximasse daquela porta. Quanta aflição eu encontraria se ousasse desafiá-la? Meu pai, o padre James, sempre fora severo em relação às minhas saídas noturnas. E havia uma razão para isso: o amplo e assustador bosque que cercava nossa moradia. Durante o dia, seu apelo era inofensivo, mas à noite, sua escuridão sinistra aterrorizava minha alma.
  Eu não tinha coragem suficiente para enfrentar aquela escuridão. Meu entusiasmo havia se esvaído junto com a descarga de adrenalina, enquanto a exaustão pesava sobre mim como uma âncora. Suspirei, arrastando meus pés até a porta. Uma fina camada de suor umedecia minha testa, e meu corpo tremia funestamente quando minha mão encontrou a maçaneta fria.
  A pessoa se fora, mas havia deixado algo dentro de mim. Como se tivessem invadido minha mente e semeado o terror. De súbito, um lampejo de coragem me fez abrir a porta, encarando a varanda. Segurava um facão firmemente nas mãos. Deixei a porta aberta atrás de mim enquanto adentrava aquele sombrio desconhecido. Parecia-me que eu estava diante de uma vastidão selvagem, onde a luz do sol havia sido sufocada por árvores gigantescas e as sombras dançavam ao som do vento. Minha respiração se assemelhava a um trovão em meio ao silêncio opressor.
  Avancei cautelosamente, o punho firme ao redor da faca. Subitamente, ecoaram passos próximos à sacada, à minha esquerda. Respirei fundo, sentindo cada passo como uma dança com a morte. Virei-me rapidamente, desesperada para desvendar a identidade daquele fanático que havia invadido minha casa. O que encontrei foram botas negras e uma calça social, semelhantes às que meu pai usava em suas pregações na igreja.
  Levantei o olhar com cautela, a faca ainda segurada com firmeza. Meus olhos encontraram os seus, castanhos e penetrantes. Era somente Henry. Ele me observava com uma intensidade avassaladora, como se eu fosse a única pessoa existente no mundo, deixando um vácuo ao nosso redor.
  Sorri aliviada, tola por ter suspeitado de algo tão sinistro. Era óbvio que meu velho amigo de infância estava apenas me pregando uma peça. Mas talvez não devesse ter abaixado a guarda tão rapidamente. Meus olhos me enganaram.
  Antes que eu pudesse sequer formar um pensamento coerente, tudo se apagou. O golpe veio rápido, atingindo-me em cheio. Henry havia batido em minha cabeça com uma maldita pedra.

*

  Gradualmente, minha visão começou a clarear, permitindo-me ter consciência do peso que carregava em minha cabeça. Uma dor excruciante se dilatava, tornando-se quase insuportável. Meus olhos estavam pesados, mas meus sentidos começavam a despertar.
  Sentia o frio do chão sob meu corpo. O odor desagradável de ferrugem invadia minhas narinas, enquanto o sabor metálico do meu próprio sangue se fazia presente.
  Henry não havia me tirado a vida. Mas certamente havia infligido algo pior.

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⏰ Última atualização: Oct 15, 2023 ⏰

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