A Biblioteca da Meia-Noite

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"— Entre a vida e a morte, há uma biblioteca — disse ela. — E, dentro dessa biblioteca, as prateleiras não têm fim. Cada livro oferece uma oportunidade de experimentar outra vida que você poderia ter vivido. De ver como as coisas seriam se tivesse feito outras escolhas... Você teria feito algo diferente, se houvesse a chance de desfazer tudo de que se arrepende?"

"— Fazer uma coisa de maneira diferente é, com frequência, o mesmo que fazer tudo de maneira diferente."

"Uma pessoa é como uma cidade. Não se pode deixar que algumas áreas menos aprazíveis provoquem uma repulsa generalizada pelo todo. Pode ser que haja algumas partes das quais você não goste, umas ruas e uns bairros perigosos, mas as coisas boas fazem o todo valer a pena."

"Você já se perguntou alguma vez 'como eu vim parar aqui?' Tipo, você está no meio de um labirinto, e totalmente perdida, e é tudo culpa sua, porque foi você quem pegou cada um dos desvios? E você sabe que existem muitos caminhos que poderiam ter te ajudado a sair, porque você ouve todas as pessoas do lado de fora do labirinto que conseguiram passar por ele, e elas estão sorrindo e gargalhando. E, às vezes, você as vê de relance através das cercas vivas. Uma silhueta fugaz entre as folhas. E elas parecem tão felizes por terem saído, e você não se ressente delas, mas de si mesma, por não ter a mesma capacidade que elas tiveram em achar a saída? Já? Ou esse labirinto é só pra mim?"

"— Nunca subestime a grande importância das coisas pequenas."

"Ela havia pensado, em suas horas noturnas e suicidas, que a solidão fosse o problema. Mas isso porque não tinha sido uma solidão de verdade. A mente solitária na cidade movimentada anseia por conexão porque acredita que a conexão humano-humano é o sentido de tudo. Mas, em meio à natureza pura (ou o "tônico selvagem", como Thoreau o chamava), a solidão assumia um caráter diferente. Tornava-se, em si mesma, um tipo de conexão. Uma conexão entre si mesma e o mundo. E entre ela e ela mesma."

"Você pode ser qualquer coisa que quiser. Porque em alguma vida, você já é."

"— Existem padrões na vida... Ritmos. É tão fácil, quando presos numa vida só, imaginar que períodos de tristeza, de perdas, de fracasso ou de medo são resultado daquela existência em particular. Que é um subproduto de viver de uma determinada maneira, em vez de simplesmente viver. Quer dizer, as coisas seriam bem mais fáceis se a gente entendesse que não existe um certo modo de viver que nos torne imunes à tristeza. E que a tristeza é parte intrínseca do tecido da felicidade. Não dá pra ter uma sem a outra. Obviamente, elas vêm em diferentes graus e doses. Mas não há uma vida sequer em que a pessoa possa existir num estado permanente de felicidade absoluta. E imaginar que existe uma vida assim só acrescenta mais infelicidade à nossa vida."

"É uma revelação e tanto descobrir que o lugar para onde você quis fugir é exatamente o mesmo lugar de onde fugiu. Que a prisão não era o lugar, mas a perspectiva."

"O paradoxo dos vulcões é que eles são símbolos de destruição, mas também de vida. Assim que a lava reduz a velocidade e esfria, se solidifica. Com o tempo, se decompõe, transformando-se em solo — um solo rico e fértil. 

Ela não era um buraco negro, decidiu. Era um vulcão. E, como um vulcão, não podia fugir de si mesma. Ela teria de continuar ali e cuidar daquela paisagem desoladora. 

Ela poderia plantar uma floresta dentro de si."

- A Biblioteca da Meia-Noite, de Matt Haig -

Memórias Escritas - Coletânea de Frases (#1)Onde histórias criam vida. Descubra agora