Neblina

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Quando era pequena Lauren tinha medo do escuro, dizia que os monstros estavam a espreita prontos para devora-la.

O matriarca dos jauregui era um homem sábio e rígido, Lauren amava o avô, mas odiava os finais de semana quando tinha que dormir na casa deles no topo da colina.

Era frio, e muitas vezes ela jurava ouvir ranger de dentes vindo do quarto trancado que havia no final do corredor. Em uma noite ficou com tanto medo que correu até o quarto dos avós implorando para dormir junto à eles.

Seu avô a recebeu de bom grado e lhe disse a coisa que Lauren nunca esqueceu "Seja esperta e devore eles primeiro."

Devorar os seus medos não parecia uma tarefa tão fácil para uma criança de sete anos, mas foi quando o mais velho morreu que Lauren teve que sim devorar qualquer medo.

Era cruel mas Lauren era apenas uma criança, ter medo do próprio avô não parecia certo.

Tinha medo de voltar na casa do avô e encontrar o seu espírito vagando por lá.

Por anos se recusou a ir até a casa agora abandonada, achava que teria uma crise quando colocasse os pés na porta e seus piores medos a engoliriam, mas agora era como se novamente fosse aquela criança de sete anos com bastante medo.

As sombras que via quando era criança eram mais visíveis durante o nevoeiro, os galhos de árvores formavam figuras assustadoras.

E o homem pálido que a encarava era o pior de tudo, seu avô sorria de uma forma macabra.

"Ela está brincando com a sua cabeça, não caia nessa."

Não conseguia falar, tinha os pés atolados pela lama que agora a engolia, se fechasse os olhos talvez tivesse uma morte mais rápida.

Uma mão fria segurou o seu pulso e quando abriu os olhos o cenário mudou, agora estava rodeada de árvores. Eram tão altas que era quase impossível ver o topo. Suas folhas balançavam sincronizadas enquanto cantavam uma canção.

"Ajude-nos."

Sentiu a pele arrepiar, árvores poderiam cantar?

- Não questione o que não entende, ajude essas árvores que lhe pedem por socorro. - A voz da mulher ressoava pelos cantos das florestas, de todos os lados como um vento que beijava a sua pele.

- Quem está aí? - Virava-se procurando, rolando os olhos por cada vasto canto daquela imensa floresta esverdeada.

- Acorde, Lauren. - E antes de abrir os olhos ela viu os cabelos tão negros quanto a noite saindo de sua visão.

Abriu os olhos assustada, era um sonho no final das contas. O homem ruivo tinha um semblante assustado e se perguntava em que momento da noite Lauren foi parar ali, no fundo da caverna coberta de folhas e cheia de pinturas pelos braços e rosto.

- Essa é uma péssima hora para brincar de ritual, Lauren. - Ele a repreendeu.

A questão era que nem Lauren sabia oque havia acontecido, suas últimas lembranças eram a de uma borboleta que agora se encontrava morta ao seu lado.

- Eu não fiz isso, seu idiota. - Tinha os pés enrolados por alguma espécie de galho e se sentia fraca. Poderia rebater com David e lhe explicar sobre oque viu e ouviu na noite anterior, mas o conhecia o suficiente para saber que ele era medroso demais.

Levantou-se ainda tonta e teve a ajuda do homem, se sentia fraca. Pegou a mochila do chão e tirou de lá uma garrafa com água, tomando tudo de uma só vez.

- Você voltou a usar? - David se referia a cogumelos alucinógenos, a mulher só havia feito uso uma vez e fazia bastante tempo. Então foi fácil de associar o seu estado a algum de letargia, estavam cercados de cogumelos em todos os lugares.

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⏰ Última atualização: Oct 31 ⏰

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