Lynn estava andando por aquele frigorífico escuro, com cheiro de sangue e carne podre.
Ela não via Amanda há um tempo, e isso a assustou ao mesmo tempo que a aliviou. Isso porque ela se sentia desconfortável com a presença da mulher, mas agora não podia saber o que ela estava fazendo ou esperando para fazer. O próximo passo dela nunca conseguia ser premeditado, visto o quão rápido Amanda podia oscilar entre extremos emocionais.
— Amanda?
Lynn andou mais um pouco e viu um rastro de sangue no chão, ainda molhado. Eram pingos e listas vermelhas que seguiam um caminho para algum lugar. Quando Lynn a chamou mais uma vez, Amanda veio da direção em que o sangue seguia.
— O que você quer?
Nem ela sabia o que queria com Amanda.
— Tem sangue no chão. Não pode ser de John, ele não saiu daquela sala desde que eu cheguei aqui.
— E o que eu tenho haver com isso?
— Ele é seu. E é recente. — Amanda deu de ombros, como se aquilo fosse completamente desnecessário. — Me mostra.
— Mostrar o que?
— O que você tá fazendo com você mesma.
— Você não tem porra nenhum com o que eu deixou ou não de fazer comigo. Seu trabalho é mantê-lo vivo.
— Porra, Amanda. Eu sou médica. Não vou saber que por baixo dessa roupa você está sangrando e não vou fazer nada.
Lynn aumentou o tom de voz ao dizer isso, e a fez sentir medo de qual seria a reação de Amanda, mas diferente do que ela pensou que Amanda faria, ela simplesmente se virou e saiu andando. Lynn pensou que fosse para ela a seguir, então foi atrás dela.
Amanda caminhou até um lugar que Lynn não tinha estado ainda. O lugar de onde Amanda veio quando Lynn a chamou. Era um cômodo pequeno com uma cama de metal que não parecia ser tão confortável. Havia prateleiras com várias coisas, como facas, correntes e seringas. Havia também uma foto solta, jogada ali perto. Lynn se aproximou e reconheceu Amanda e John na foto, em um raro momento em que pareciam felizes.
Lynn percebeu que esse lugar era provavelmente o mais próximo de uma casa que Amanda poderia ter. Ela se sentiu triste por Amanda.
Sem nenhuma cerimônia, Amanda abaixou as calças e se sentou na cama. Lynn pode ver várias cicatrizes em sua coxa. Algumas mais antigas e algumas mais recentes. Uma delas era tão nova que o sangue ainda nem havia secado.
— E então, vai ficar aí me olhando ou vai me ajudar, doutora?
Lynn viu ali uma caixa com alguns remédios e gazes. Pegou também um recipiente com água limpa. Ela começou a limpar os cortes, devagar com medo de machucá-la ainda mais. Quando terminou achou um antiséptico.
— Isso talvez doa um pouco.
Amanda não gemeu de dor, não teve nenhuma reação, ficou apenas olhando Lynn terminar o que estava fazendo.
— Você não precisa continuar. Tem outras formas de lidar com isso. — Diz devagar e baixo o suficiente para apenas Amanda escutar (mesmo que de qualquer jeito nenhuma outra pessoa escutaria).
— Não me diga o que fazer.
— Só quero te ajudar.
— Não, você não quer. Só tá fazendo isso porque tem a porra de um colar metálico no seu pescoço pronto pra explodir.
Lynn subiu o olhar para os olhos de Amanda que a encaravam. Lynn viu raiva em seus olhos, mas ainda mais que isso, viu tristeza. Uma tristeza profunda, que sabia que Amanda estava lidando há tempos. Lynn queria ajudá-la, mas não conseguiria se Amanda não pedisse ajuda.
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Despedida prazerosa
Fiksi PenggemarLynn está finalmente livre, mas Amanda ainda quer se despedir dela. • Esta história aborda de forma explícita ou não automutilação, síndrome de Estocolmo, sexo e cortes com lâmina. +18