contos de fodas

Enigma - I

Em mais uma de suas andanças por terras longínquas, Asmita, o jovem príncipe do Reino de Virgo, acompanhado de seu mais devoto súdito, Defteros, desbravava uma terra inexplorada que há muito atiçou o interesse da coroa. Juntos eles estudavam o local por dias, coletando a maior quantidade de informações possíveis e enviando ao Reino que decidia se tomaria ou não a posse das terras.
Asmita por ser cego, sequer era cogitado na linha de sucessão do trono. Visto como um puritano, o belo príncipe era bastante influente entre o povo e foi designado por seu pai, o Rei, a viajar o mundo em busca de boas terras para o Reino. Porém o que a coroa não imaginava e sequer desconfiava era que Asmita usava essas viagens para satisfazer os próprios caprichos, experimentar novos ares e até mesmo embarcar em uma aventura memorável para contar aos nobres quando retornasse.
Tudo isso estando sempre acompanhado por Defteros, seu guia incomparável, seus olhos e ouvidos, aquele que lhe jurou a vida e o coração.

Naquele dia em específico, após passarem por um vilarejo um tanto inóspito e sem qualquer atrativo, eles decidiram prosseguir para encontrar um local apropriado, segundo Defteros teria de ser algo belo a altura do príncipe. Para o azar de ambos, até o fim da tarde não encontraram uma alma viva durante toda a busca, acabando por fim isolados em meio a uma floresta esquisita.

— E então, o que meu amado guia tem a me informar? — o príncipe percebendo a falha de seu condutor o questionou irônico, aproveitando o tempo para parar alguns instantes e dar um descanso ao seu cavalo. Sentia como o pobre animal ofegava cansado, desde que saíram daquela vila eles não haviam parado uma vez sequer.

Defteros baixou a cabeça derrotado, também parando e descendo do cavalo em seguida. Ele foi até o príncipe e ajudou-o a descer. — Lamento minha Alteza, mas não encontrei nada. — cuidadosamente o homem o colocou no solo, mirando seu rosto vermelho pelas horas a fio debaixo do sol. Imaginou que sentisse sede e logo tratou de buscar água para ele.

Defteros possuía um cuidado extremo com Asmita e por muito tempo a figura do príncipe para ele foi a de um salvador.
Anos atrás, Asmita havia o comprado do Reino de Geminis como um escravo pessoal e o permitiu se tornar um homem livre, por conta disso Defteros nunca deixou de admirá-lo por tê-lo livrado do destino cruel que o aguardava.
Após se tornar um cidadão de Virgo imaginou que nunca mais fosse ficar ao lado dele, há muito tempo servir o príncipe havia deixado de ser uma obrigação para se tornar um privilégio.

Então quando menos esperou, Asmita lhe ofereceu a oportunidade de ser seu guia pelo mundo, oportunidade que ele aceitou sem pensar duas vezes.
Dali em diante o homem apenas confirmou suas suspeitas, amava o príncipe, era inegável esse sentimento por aquele que salvou sua vida.

Embora houvesse momentos em que Defteros questionava toda a adoração que sentia por Asmita. Ele amava as conversas, o tempo que passavam juntos, o cheiro, a voz e principalmente as coxas fartas de sua Alteza.
Seu corpo não se contentava apenas com a figura dele ao seu lado, muitas vezes teve desejos estranhos pelo príncipe e sempre se repreendia por ser indigno de ter esses sentimentos. No início foi vergonhoso para o homem mentir para seu Senhor apenas para poder tocar nele.
E para sua sorte, ou azar, Asmita não era ingênuo.

O príncipe percebeu muito cedo o que ele disfarçadamente fazia.

— Onde estamos agora? — após beber um pouco de água e abrandar a sede, Asmita procurou por Defteros com as mãos. Como sempre ele estava lá… imóvel, relutante a tocar sua Alteza com desejo de possuí-lo. Asmita gostava de testá-lo ao extremo, até o ponto em que não aguentariam com brincadeiras e acabariam em uma noite de sexo e declarações de amor. O príncipe sentia-se necessitado já que seu homem vinha negando esse desejo há bons dias.
Da boca dele apenas ouvia que nenhum lugar era adequado.