A princesa prefere garotas - ROMANCE LÉSBICO

Confiança

[Esse cap contém um pouco de hot]

Acordo acabada da noite passada, com o cabelo bagunçado e pés doloridos do salto alto. Minha cama nunca pareceu tão atraente, mas sei que tenho que me levantar.

Ainda apertado forte na minha mão, me deparo com o papel entregado a mim ontem a noite por aquela garota. Nem perguntei seu nome...

Observo a data e o endereço: dia após o baile, 00:07 em ponto, no leste do jardim do castelo, entrada para a praia. 

Pergunto a mim mesma se é mesmo uma boa decisão, não conheço essas pessoas, nem entendo muito do que querem, mas é melhor que aturar o futuro que se aproxima.

 - Sara - minha mãe entra no quarto, e eu escondo o bilhete. - Tu sumiste do baile ontem, tremenda falta de educação. Sorte a tua que ninguém da família Norta percebeu.

Pensando bem, talvez a noite passada foi o destino se manifestando, me dando uma chance de escapar. Eu aceito essa chance. 

- Me desculpa, de verdade, não foi intenção minha fugir desse jeito - digo.

- Que isso não se repita, então. 

No momento em que ela fecha a porta, começo a me arrumar. Tomo banho, ajeito o cabelo, passo perfumes e loções corporais, depois me visto.  Coloco uma blusa apertada branca com mangas semi-transparentes que são cortadas nos meus ombros e uma calça azul escura de couro. 

Apesar de vários pensarem que as princesas ficam o dia descansando, indefesas, para mim é o contrário. É esperado de mim saber lutar com uma espada, caso um dia nosso reino entre em guerra, saber me localizar onde quer que eu esteja, e entender as relações geopolíticas dos reinos entre si. 

Meu dia se resume nisso, até chegar o horário de me encontrar com aquele grupo.

Ás 23:50, levanto da cama pé por pé, sem fazer um barulho sequer. Coloco as mesmas roupas que usei no dia, escondendo um canivete na minha bota, abro a janela do quarto. É mais alto do que me lembro...

Usando uma junção de várias blusas antigas e artigos de roupa velhos de corda, desço pela janela enquanto engulo meus medos. Depois ando até o local combinado, chegando cinco minutos cedo. 

Lá está ela, porém do outro lado do portão de grades que divide a praia do território do castelo.

- Não pensei que tu viesse.

- Parece que sou cheia de surpresas - retruco. 

Passo a mão nas grades brancas, com tinta descascada e poeira.

- É mesmo. - ela provoca. - Talvez eu também seja.

 - Ainda não sei teu nome, querida ladra.

 - A ladra de quem o beijo tu roubaste - ela ri. - Me chamo Alice.

Me aproximo ainda mais da grade, nossos olhares presos um no outro. Minha barriga gela e me sinto estranhamente leve. 

- Desse jeito vou ter que roubar outro. 

Levo as mãos a minha bota, de onde tiro o canivete. Uso um utensílio especial para abrir o cadeado velho. O portão range e abre com o vento. 

Quando atravesso, ela me escora contra o muro alto de pedras que envolve a grade, sua boca colada na minha.

Já havia lido cenas de romance e beijo em livros, com damas e cavalheiros, é claro. Não imagino que isso seja muito diferente com duas mulheres, espero que não, porque lembro de tudo que já li e  uso como um guia.

Posiciono meus braços atrás de seu pescoço e ela põe os dela em minha cintura. Uma junção de emoções flui como líquido pela minha mente, quase me deixando em um estado de transe enquanto me derreto por dentro. O que sentimos uma pela outra nos une, como se nós nos tornássemos uma pessoa só por um momento marcante, cada toque dura uma eternidade e cada momento de distância torna-se irrelevante, doloroso. 

Seguro sua mão direita e levo para dentro da minha blusa. Seu aperto e apalpe me enlouquece como uma droga proibida, da qual eu experimento pela primeira vez. Ela passeia pelo meu corpo e conhece ele por inteiro, descobre ele e mapeia como uma cartomante.

 - Volta para dentro - ela quebra o momento. - Estão vindo.

Com isso, nossos corpos se separam e eu volto para dentro do portão, fechando o cadeado. 

Uma mulher alta, intimidadora se aproxima. Ao seu lado, um grupo de pessoas encapuzadas e irreconhecíveis. 

 - Princesa Sara - ela diz, seu tom rígido e forte - não ouse pensar que somos idiotas, confiança é ganhada e tu não receberás a nossa facilmente. 

Respiro fundo. 

- Entendo, mas farei o que for preciso para impedir minha união com Xavier - retruco. - Nesse quesito, o que querem de mim?

 - No momento, informações - Alice responde.

- Tu já conheceste nossa agente, que te trouxe até aqui - a mulher se aproxima da grade. - Ela manterá os olhos em ti, não tente nada.

Alice pisca para mim discretamente.

 - É um prazer estar trabalhando com você - sorrio.