A princesa prefere garotas - ROMANCE LÉSBICO

Baile de Cortejo

Nove horas da noite, dentro do baile.

- Sara - Xavier segura minha mão. - Sentiu minha falta?

Nossos olhos se encontram, e lá no fundo dos seus, não vejo nada além de frieza, crueldade.

- Sabes que não - abaixo meu tom de voz. - Nunca.

-Também sei que, se eu estivesse em teu lugar, teria mais educação - ele sorri, me provocando. - Seria uma pena se uma princesinha egoísta mandasse o reino por água abaixo.

Encaro ele com raiva, sem dizer uma palavra sequer.

- Prefiro você quieta mesmo, deveria sorrir mais, princesa - ele me puxa para perto. - Vamos dançar?

Com isso, as festividades oficialmente começam. Dançamos juntos rodopiando pelo salão, minhas unhas apertando suas costas, como um protesto silencioso. Trato esse ato como algo mecânico, deixando minha mente fugir, só lembrando os passos decorados. Um, dois, cima, baixo, gira, repete.

- Princesa - Xavier diz cantarolando. - Estão nos esperando.

- Como assim? - sussurro, percebendo que somos os únicos ainda dançando e todos em volta nos observam.

- Um beijo.

Um beijo, um beijo que sela o nosso cortejo, que confirma nossa união, como se fosse um convite ao casamento, ou melhor, uma confirmação que haverá um.

Assim, nossa união é confirmada. O que durou três segundos pareceu durar uma eternidade. Imediatamente depois, fujo para o lado de fora do baile, sentada em uma escada curta de pedra do jardim, tendo apenas a noite como testemunha, choro. Choro muito, muito mesmo. E para pensar que existem garotas que invejam a minha vida, a qual vou ter que passar inteiramente com Xavier.

- Princesa? - uma garota que desconheço, mas parece ser da minha idade, se aproxima. Ela tem cabelos curtos e loiros, junto com olhos escuros.

- Quem é você? - digo, ainda de cabeça baixa.

- Perto de ti, sou ninguém- ela diz. - Estás bem?

- Pareço bem? - retruco.

Ela se aproxima, sentando-se ao meu lado.

- Sabe, realeza, talvez falar sobre o que está acontecendo te ajude.

Levanto a cabeça, encarando seus olhos escuros.

- Odeio Xavier, ele é rude, esnobe. E agora sou noiva dele, nem tenho escolha.

Ela suspira.

  - Xavier tem beleza exterior, mas é vazio por dentro - digo.

- Ele é diferente de você, então - ela diz. - Que é linda de qualquer jeito.

Eu sorrio um pouco.

  -Tu já teve a vontade de... fugir? - questiono. - Me pergunto se não seria mais feliz em algum lugar, bem longe.

 - Quer a verdade, princesa? - ela ri. - Sou uma mera ladra, entrei aqui disfarçada para roubar o que podia.

Ajeito minha postura

 -E o que me impede de entregar-te, neste momento?

 -Nada, mas tu não vai.

 Ela se aproxima de mim, e em um impulso corajoso, sem sentido, eu a beijo, como se mostrando ao mundo que não me importo. Que ironia, a princesa roubando um beijo da ladra. De qualquer jeito, mesmo sendo contra tudo que eu aprendi, me joguei no seu toque proibido.

Depois nos afastamos, meu rosto quente e minha expressão chocada.

 -Eu...me desculpa, eu não deveria - fico sem palavras, o que faz ela rir um pouco.

 -Tu gostas mais do meu do que do dele, não é? - ela sorri.

Tento meu melhor para compreender tudo o que aconteceu nos últimos trinta segundos. A pior parte é que seu beijo é diferente do de Xavier, como um choque elétrico no corpo inteiro. Não sei se tenho coragem de dizer isso para ela, somos duas mulheres, e todos me ensinaram que esse tipo de união é errado, criminoso. 

As mesmas pessoas que me ensinaram isso são as que apoiavam aquele casamento, sem escolha, forçado, então... talvez elas não tenham o mínimo de razão.

- Sim, gostei mais do teu toque, de ti - digo. - Mas terei de me casar com Xavier, não tenho poder de escolha, é pelo bem dos reinos. 

- E enquanto ao teu bem? - ela retruca. - Tua felicidade importa, tu tens sim poder de escolha.

Ela me entrega um papel, nele há escrito: 

"Junte-se a nós, liberte-se, escolha. Entre na corte dos plebeus."

Do outro lado do papel encontra-se um endereço e horário.

 - Quer ser livre? -ela pergunta. - Venha conosco.