Eu acordo de um sonho.
Era um daqueles invernos que em novembro a neve já se acumulava nas janelas, caindo em grossos flocos pela praia. Eu estava deitada na cama da casa de férias de Rhode Island, no quarto preferido de Joe. Me lembro de sentir os lençóis me abraçando para mais perto, os travesseiros me cercando como rodovias. Não havia sol, somente frestas de luz passando pelas cortinas. Ouvia alguns esquilos rondando a varanda, os preguiçosos que não pegaram alimento para o inverno durante a primavera.
Eu inspirava e sentia o cheiro de Gentlemen da Givenchy e vinho floral por todo o quarto, o cheiro de Joe. Ao longe, conseguia ouvi-lo fazendo café na cozinha enquanto murmurava uma canção antiga irlandesa. Eu me levantava e me espreguiçava sem esforços e sem pressa. Caminhava até a cozinha, abraçava Joe enquanto ele comandava a cafeteira e os ovos na frigideira.
Esperava ele terminar a rodada de atenção a esses objetos ansiosamente, desejando seus braços ao redor da minha cintura, seus dedos se emaranhando no meu cabelo. E meu coração se enchia de muita satisfação, sentia como se solidão não fosse algo tão palpável, tão inerente.
E então eu acordo. Não estou em Rhode Island, estou em Greenwich Village. Não estou na casa de férias, estou no apartamento da Cornelia Street. Não sou acordada pelos sussurros cantados de Joe, mas sim pelo meu celular vibrando com uma mensagem. Sinto vontade de chorar quase que imediatamente.
Eu pego meu celular na mesa de cabeceira com uma parte pequena e idiota minha dizendo que pode ser Joe.
"Bom dia, Tay. Para hoje: fitting no Oscar de la Renta às 12h30, almoço comigo às 13h30 na Via Carota, reunião com o time às 18h30 pelo Facetime. Tudo confirmado?"
Tree, minha PR, faz questão de me mandar um SMS todos os dias com todos os meus compromissos, mesmo minha agenda online já funcionando muito bem. Eu me sento na cama e digito:
"Mais que confirmado! *emoji de gatinho*"
Eu entro no banho sentindo a cabeça pesar. O Grammy é em poucas semanas e, apesar de todas as indicações, não me perdoaria se não levasse o prêmio nas categorias principais. Tem algo de ridículo em levar nas categorias de pena, onde te colocam só para você não ficar de fora. A água escorre e tento fazer uma oração silenciosa para que eu não surte até a premiação. A voz de Tree invade a minha mente e procuro me acalmar:
- O tanto que você se coloca pressão é proporcional a quão talentosa você é. Relaxa e confia!
Saio do banho e pego meu celular a procura da combinação de roupas daquele dia que Joseph, meu stylist, sempre me manda. Coloco uma camiseta da Shania Twain pela Free People e tênis New Balance. Penso no quão deprimente é saber que não posso escolher nem mesmo as minhas próprias roupas. Tudo é orquestrado para que tudo seja perfeito e se eu escolhesse não seria perfeito. Meu gosto não é confiável, minha personalidade muito menos. Somente o que é fabricado é confiável.
Afasto o pensamento porque sei que nada produtivo vem a partir daí. Preciso focar no que tenho para fazer, no meu trabalho.
***
O fitting no ateliê do Oscar de la Renta não demora tanto quanto eu imagino. Sua equipe é ágil, suas mãos transitam rapidamente entre meus ombros, minha clavícula, meus braços. Eles tiram medidas, anotam em seus cadernos, não falam nada. Eu espremo meus lábios e tento permanecer quieta.
O vestido do Grammy precisava ser um original. Quer dizer que ninguém no mundo teria um igual, ele nem mesmo teria aparecido no fashion show. Ele seria meu, um modelo único, uma unidade desse vestido no mundo. Tree e Joseph insistiram que esse Grammy seria o mais importante da minha carreira, o styling precisava estar à altura, os detalhes perfeitamente alinhados. Eu poderia escolher a cor, mas o resto ficaria com a equipe do Oscar.
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big reputation.
RomanceNão há nada sobre a fama que Taylor Swift já não saiba: os namoros contratuais, as fotos encenadas, as amizades pautadas em relações públicas. Nada disso é novo. Mesmo tendo se preparado para isso desde que consegue se lembrar, o sentimento de soli...