capítulo 2 - estádio Arrowhead

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Para sair em público em momentos rotineiros não preciso de uma equipe. Já para sair em público com um soft lauch em andamento eu preciso sim de uma equipe.

Há uma pessoa para alisar meu cabelo, mecha por mecha. Há uma pessoa que vai coordenar as cores das minhas roupas. Há uma pessoa que traz as peças dos designers. Há uma pessoa que vai pintar meu rosto, desenhar uma linha na minha pálpebra, passar uma massa espessa vermelha nos meus lábios. Nada é feito por mim.

É escolhido shorts pretos Ksubi, combinando com um tank top branco. Meu cabelo é colocado para frente, liso e reto. Eles me entregam uma jaqueta do Chiefs e Tree me diz:

- É importante que você use em algum momento – ela sorri – Sem pressão, mas vai dar a ideia de que você está envolvida.

- Eu torço para o Eagles, sabe?

- Não pelos próximos três meses.

Eles me arrumam e fazem contas, anotam minhas roupas para mandar para os releases. Me recitam um briefing básico caso eu decida falar com a imprensa, o que eu raramente decido fazer (não espontaneamente pelo menos). E em um passo de mágica (3 horas) eu estou pronta para o meu futuro namorado que eu ainda não troquei nenhuma palavra:

- Eu falei com ele – disse Tree, três noites atrás – Ele é gentil, muito engraçado. Ele tem um podcast com o irmão, parece ser bem família. Acho que seria o seu tipo.

- Eu não gosto muito de jogadores. Tendem a não ter muita personalidade além de "mulheres, grana e glória" – eu disse.

- Não acho que seja o caso dele.

- Claramente é. Vi um vídeo dele. Ele sempre entra em campo cheio de marra, todo imponente. Não gosto muito do arquétipo machão.

- Eu acho que é exatamente o que você precisa agora – ela riu e eu fiquei quieta.

Eu entro na SUV que me espera na Cornelia Street e vamos para o JFK.

***

Os rastros do verão ainda são claros em Kansas City. As folhas parecem se esquecer que não há mais primavera, elas deviam estar começando a cair. Não há vestígio nenhum de fim de ano nas ruas, nas árvores. Há algo de reconfortante em estar numa cidade que parece fora da linha do tempo, como se tudo fosse possível ali. Como se aquela fosse uma cidade encantada sob um feitiço.

O Arrowhead me aguarda, assim como seus funcionários, seus seguranças, seus cozinheiros. Dentro da SUV, conto nos dedos quantas horas serão roubadas de mim em toda essa besteira. Quando finalmente vou poder voltar para NY, para o meu apartamento e para as minhas memórias sem interrupções. Sinto saudade até mesmo do meu caderno de composição, abandonado a tantas semanas.

Prometo mentalmente para mim mesma que vou escrever assim que pisar em casa.

Saio do carro e assim começa. Fotografias, cochichos, falatórios, gritos. Eu aceno e sorrio, coloco a máscara mais agradável que tenho no guarda-roupa e caminho pelos corredores do estágio até chegar nos camarotes. A partir de agora, as notícias vão pipocar. Já me viram, já me fotografaram, já tweetaram.

Eu me acalmo por dentro, dizendo que tudo tem um propósito e eu aceito o meu contente e consciente.

O camarote é límpido, cintilante. Há sofás confortáveis, uma mesa de buffet rica e pessoas que reconheço por puro network. O dono do Chiefs e seus filhos, namoradas e esposas de outros jogadores:

- Taylor, quero te apresentar a uma pessoa – diz Tree, me pegando pelo braço delicadamente – Essa é Donna Kelce, mãe do Travis.

Eu sou pega de surpresa. Eu fora avisada que ela possivelmente estaria ali, mas não achei que seria apresentada a ela de imediato. Esse é um dos lados mais sujos do entretenimento, quando a família é envolvida sem consentimento.

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