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 Acordei sentindo um incomodo nas costas. Lugar estranho, paredes brancas e tudo muito iluminado. Vento correu pela janela e o sino dos ventos chacoalhou, eu estava na sua casa.

 Ao sentir que estava envolvido nos seus braços senti o meu corpo gelar. As minhas costas ardiam em linhas verticais imprecisas, feitas a mão. Meu corpo tinha pistas da nossa noite, como a dor em meu pescoço, braços e pernas. Esse é o nosso erro favorito? Prometi não repetir isso mil e uma vezes, mas sempre me rendo, nosso erro é o meu vício.

 Ainda colado em seu pescoço, seu corpo se fez casa pra mim. Um conforto maldito. Do jeito que estávamos apenas conseguia ver a sua mão e sua respiração quente no meu pescoço, me arrepiando o corpo. O conforto me faz esquecer quem eu sou, me faz pensar que, se dependesse de mim eu te veria a cada festa, feriados ou folgas, ocupado ou com tempo livre... Faria o possível para que sempre fôssemos apenas eu e você, em uma cama pequena, com os corpos colados, aquecidos pelo calor do outro.

 Se bem te conheço, sei que vai odiar quando eu não estiver aqui quando acordar. Me levantei e você se espalhou como um gato, mal pude ver o seu rosto uma última vez. Seus cachos cobriam seu rosto, o pijama cobria todo o corpo e você parecia confortável, de algum modo, aquilo era o resumo do meu desejo, mesmo eu não sendo corajoso o bastante para tê-lo.

 Minhas roupas estavam sobre o criado mudo, cuidadosamente dobradas, e o meu maço repousava acima de todas elas. Abri a porta do seu quarto com cuidado, lidei com o rangido da porta velha com os olhos fechados, com medo que acordasse. A caminho da saída vi na mesa da cozinha pães, frios e a cafeteira, posicionados a nossa espera. Eu amei o nosso momento, apreciei cada um de seus detalhes e o seu esforço que nos faria dar certo, eu apenas não pude ficar. 

Antes da parada de ônibus, um café. Parei em uma padaria que íamos muito na época da escola, eles me conhecem e sempre perguntam por ti, faz três anos que a minha resposta é a mesma: "Não sei", seguido de um sorriso sem graça, contido. A senhora me entrega o sanduiche e o café, me pergunta preocupada se estou me alimentando e comenta brevemente sobre o meu pai. Tudo semelhante as outras vezes, as perguntas e as respostas.

Um cigarro enquanto espero o ônibus e a sensação é de que o tempo insiste em me castigar, em se arrastar e me manter com você na cabeça. O celular enche de mensagens suas, você me liga, eu não atendo. Essa é a última vez que venho nessa rua, que te beijo nesse CEP, a última vez que me engano com nossos anseios. Desculpa, Vitória.  

Como Nero amou RomaOnde histórias criam vida. Descubra agora