Capítulo 3

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De Psicóloga para Pedagoga

Quando terminei o cursinho estava com 19 anos. Ainda insegura quanto ao curso de psicologia. Eu não me via cursando nada.

Meu pai fez questão de nos formar. Aquele papo eu não estudei, mas meus filhos terão o que eu não tive. Discordo em gênero, número e grau. Os pais não deveriam pensar assim. É cruel com os ancestrais.

Então Inajá que se tornara minha amiga sugeriu-me essa área por afirmar que eu era boa ouvinte e pouco ansiosa. Também havia certo status na profissão. Ingressei sem muito entusiasmo e aproveitei muitas ideias freudianas, Comportamentais e Lacanianas. Mas minha turma era muito jovem, bagunceira, desinteressada e fiquei desestimulada.

No campus eu ficava com Inajá que estava terminando Ciências Sociais. No terceiro semestre cursei sem minha amiga.

Foi um período de conflitos próprios da idade de difícil assimilação para mim. Micos fazem parte, sem perceber comecei a analisar comportamentos e frases das pessoas, era como vício quanto mais eu evitava fazê-lo, pior era.

Aproveitei para pedir desculpas a minha prima Glória que durante o curso de enfermagem aporrinhava com suas explicações sobre procedimentos assépticos e funcionamento do corpo.

Uma tarde quando estávamos reunidos na festinha sem graça de aniversário na casa da tia Lleonora; mãe da Glória; perdi a paciência após um discurso longo sobre passagem de sonda, traqueostomia e primeiros socorros. Levantei-me pedindo licença a todos e argumentando que eu tinha ido para uma festa e não para sala de aula do corpo de bombeiros.

A coitada ficou perplexa e imediatamente parou com sua falação pedindo desculpas. Fui embora dali Nem foi para tanto, mas serviu de pretexto para eu cair fora. Quando me retratei soube dela que depois daquela tarde ela se policiou e ao tentar contar para as amigas dela, descobriu que exagerava mesmo, mas, não fazia por mal.

Em pouco tempo era eu quem repetia o que critiquei. Então confessei que estava sofrendo da mesma síndrome. Ficou tudo em paz.

Houve também uma fatalidade no segundo semestre em nossa turma. Num fim de semana alguns alunos alugaram uma chácara para uma festa e um carro com quatro jovens, um casal de namorados e duas amigas, bateu num animal durante a volta resultando em um óbito. Vânia sobreviveu, apesar de graves lesões e duas cirurgias nas pernas. O casal teve ferimentos na cabeça e o moço perdeu a arcada dentária superior. Norma faleceu algumas semanas do acidente, nessa época eu estava namorando Sobral.

Sobral: Rico, cabelos encaracolados, de poucas palavras, mas tinha o olhar mais bondoso e alegre uma boca bem feita com dentes brancos e certinhos.

Namoro comportado durante oito meses, quando os ânimos esquentavam ,eu improvisava alguma coisa que servia a nós dois de escapatória. Eram bem vindas minhas mentirinhas. Na verdade nenhum dos dois estava preparado para intimidade e nem éramos tão ligados. O namoro terminou após o acidente quando vi Sobral arrasado, em prantos, desconsolado, confessando sua paixão platônica por Norma. Senti um desconforto por sua omissão. Eu, Futura psicóloga tão emocionalmente imatura, incompleta, descontente e fragilizada.

Não o crucifiquei, pois nutria eu uma paixão por Inajá. Que também crescera no mais absoluto silêncio, tentando assim transformá-la em Amor fraterno, apoiando-me nas teorias que engolia nos livros e eram insuficientes para acalmar meu espírito.

O que sei é que não foi fácil.

Inajá por sua vez tinha a sabedoria inata, não fugia dos sentimentos, permitia-se experimentar e beber das múltiplas fontes sem extrapolar seus limites nem esgotar suas reservas. Sabia das coisas e foi muito gentil e paciente comigo, respeitando-me e deixando que o Tempo acalmasse meu coração.

Esse fruto eu já comiOnde histórias criam vida. Descubra agora