Esse fruto eu já comi

Capítulo 4

Bem e quer mal me quer

Uma vez li :A dor é apenas a diferença entre o que é a realidade e o que gostaríamos que fosse. "Chico Anísio"

Jamais estaremos plenos em nossos desejos, somos neuróticos, egoístas e achamos que merecemos mais. Que damos mais que recebemos. Preferimos a fantasia de vítima, por isso os dramas, às novelas chorosas e os noticiários sensacionalistas têm conquistado cada vez mais espaço.

Camilo estava chateado com o desfecho do namoro as escondidas com Vera Lúcia Arcanjo. Mamãe sublimou ao menos aparentemente a falta de um bom amante. Eu sentia falta de aventura, paixão, algo que me arrebatasse, rompesse do casulo sem graça e solitário. Estava cheia daquelas situações bobas nas festinhas, das expectativas do parceiro ideal. Amava papos maduros, sem falsa moral, corajosos e honestos.

Só conseguia esses momentos com Inajá.

A partir do momento em que nos conhecemos e descobrimos que morávamos muito próximas, não ficamos mais sem nos ver.

Inajá estava muito triste com a morte do primo Fabrício; filho dos tios e também padrinhos dela. Mas confidenciou-me que estava numa angústia com uma situação inusitada que lhe acontecera causando forte impacto emocional. Naquela tarde morninha ela decidiu contar-me tudo, deitadas na rede segurando minhas mãos, minha amiga foi narrando seus mais íntimos desejos e anseios, seus relatos inundados de verdade e sentimentos revelaram sua alma, enterneceram meu coração fortaleceram e entrelaçaram nossos destinos ali, sob um céu alaranjado e verniz complacente, silencioso e gentil compondo o cenário.

Helena Santori Reis; amiga da Iná passou por um tratamento sério de desintoxicação que durou quase três anos, sofrendo recaídas, crises  de abstinência, urticárias e muita pressão da família sendo filha única de um Juiz famoso e sua mãe advogada reconhecida.

Helena passou de moça comportada e estudiosa à porra louca quando descobriu que era filha adotiva.

Tadeu, amigo dela quem lhe revelou a verdade após o comportamento preconceituoso, imaturo numa lanchonete em que Helena apesar da boa criação era inevitavelmente mimada, teria desprezado o amigo do Tadeu na frente das pessoas, deixando o rapaz sem graça e deslocado.

Esse comportamento que se repetia com frequência, deixou o moço irritado e envergonhado. Quando o amigo deixou o lugar todo chateado, Tadeu a pegou forte pelo pulso dizendo agora você vai me ouvir:

-Helena; Você é linda, inteligente, boa, mas é inaceitável sua conduta Nazista, você tem que respeitar mais os outros, meu amigo é filho de mecânico e sua mãe rala costurando o dia todo para assegurarem as mensalidades do Curso superior dele e do outro irmão. Marcelo será um arquiteto muito competente.

Conheço você desde criança, nossos pais são amigos de colégio, pertencemos à mesma classe, mesmo clube, porém, namoro a Val há dois anos, que mora numa república, vem de família humilde, de uma cidade minúscula, sabia que o pai dela é pedreiro?

Eu a amo quero me formar e me casar com ela, ter muitos filhinhos e ajudar os pais dela. Sei que seus Pais são severos, mas o moço só te fez um elogio. Não é a primeira vez que te vejo fazendo isso. Fazendo comentários ofensivos e irônicos.

Acho bom você rever seus conceitos, descer do salto e respeitar mais as pessoas porque se voce pretende continuar com esse comportamento mesquinho me avisa. Aliás, melhor ainda é você conversar com seus pais sobre sua origem.

Tadeu soltou o que não deveria dizer. Quis remediar o irremediável. Aquelas gafes grandonas, inesquecíveis, uma grosseria.

Helena então gritou: que história é essa sobre minha origem?