Capítulo 3

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Rhaenyra mal conseguia definir o que estava sentindo naquele momento. Era uma mistura de ansiedade sobre o que estava por vir e medo de ser pega, e, tudo isso se misturava dentro de sua mente como algo agradável. Toda essa mistura de sentimentos ainda fazia com que tudo se tornasse ainda melhor quanto mais a hora passava, aquela sensação do proibido.

A vida noturna de King's Landing era tão agitada quanto de dia, mas o comércio se fechava e dava início a um ambiente perigoso para uma pessoa como ela, mas mesmo assim excitante. Era mais divertido ainda quando ela passava pelas ruas e pelas pessoas e ninguém a reconhecia. Mas uma coisa ela não podia deixar de notar, as ruas fediam e aquele dia em questão estava insuportavelmente quente.

Naquele dia ela tratou de pôr uma roupa escura, uma confortável e com poucos adornos. Era perfeita para voar em Syrax, mas andando com ela pelas ruas, ela passaria por uma pessoa qualquer, ainda mais porque estava vestindo uma capa e capuz, que ajudava a esconder seus cabelos prateados, que também estavam penteados acima da cabeça em um coque alto.

Ela caminhou até um certo estabelecimento e quando chegou já notou rapidamente a figura alta e sólida de Daemon encostado ao lado da porta. Ele estava com a cabeça baixa, mas ela o reconheceria de qualquer maneira.

Como se pudesse sentir a presença dela mesmo de longe, ele levantou o olhar e os olhos dele alcançaram imediatamente os dela, dando um sorriso malicioso de canto característico.

A ligação que eles tinham era algo que Rhaenyra não observava na maioria das pessoas. Toda vez quando estavam em um ambiente era como se eles se procurassem na multidão e sempre encontravam o olhar um do outro. Ela também tinha a sensação de que eles praticamente compartilhavam seus pensamentos pelo olhar. Ela só viu esse tipo de cumplicidade uma única vez numa relação entre duas pessoas, que foi com seus próprios pais.

Ela foi se aproximando dele enquanto ele deixava sua posição relaxada do encosto da parede e seguiu para encontrá-la.

 Só você mesmo para me convencer a fazer isso — ela disse, arfando. Era nítido a ansiedade que ela estava sentido.

— Prometo que não haverá arrependimentos.

Ele pegou a mão dela e a conduziu por entre as ruas e pessoas até chegarem em um espaço mais aberto onde durante o dia ficava uma feira. Uma multidão se instalava ao redor, então ela presumiu que algo aconteceria ali.

Rhaenyra sabia que aquela noite tinha tudo para ser perfeita. Não só porque gostava da companhia do seu tio, mas também porque ali ela estava se sentindo livre.

Toda vez que chegava a noite, ela queria ouvir os murmúrios das pessoas nas ruas, as risadas e as músicas, mas até ela só chegava alguns sons abafados pelas espessas paredes de pedra da Fortaleza Vermelha. Odiava manter-se afastada das pessoas, do mundo. Ela queria viver além disso. Mas hoje, finalmente, ela poderia se libertar da gaiola que a realeza exige. Ela já visitou outras partes de Porto Real antes, mas somente quando era mais nova, porque odiava ter que sair com uma comitiva toda atrás de si. Agora, ela só anda livremente dentro dos muros da Fortaleza e mesmo quando ia ao jardim era acompanhada de algumas pessoas – o que a incomodava muito – então, raramente ela se sentia livre, apenas quando voava com Syrax.

Ela e seu tio pararam em meio a multidão que se aglomeravam no espaço naquela rua. Como ela era mais baixa, ele ficou atrás dela e a deixou na frente para que pudesse ter uma visão privilegiada. Pessoas também se dispunham em círculos ao seu lado. A música fluía sem parar, e tudo misturava-se ao som de risos, gracejos femininos, adolescentes.

Um grupo de jovens chamou a atenção dela, quando um deles gritou que faria uma apresentação especial. Um homem mascarado estava carregando círculos de ferro em ambas as mãos estava os acompanhando. Ele fez um número com fogo e depositou na rua outros artefatos que ela nunca tinha visto na vida, eles faziam um barulho ensurdecedor quando estouraram, proporcionando um show colorido que encantava os olhos. Todos assistiam com os olhos arregalados e aplaudiam toda vez que eram surpreendidos. E toda vez que ela olhava para o fogo era atingida com uma sensação reconfortante, como se estivesse em casa. Os jovens dançavam algo sinuoso perto do homem, lembrando muito os movimentos de uma cobra, e seus olhos eram pintados de preto. A música tinha um ritmo forte – épico, ela diria – muito marcante. Era uma noite que jamais esqueceria.

Indecoroso | Daemyra - TraduçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora