1. Nove anos atrás: a festa

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O som alto fazia a cabeça de Louis latejar, como se seu cérebro estivesse aumentando, pressionando seu crânio até o limite e de repente voltando ao tamanho normal - tudo isso acontecendo repetidas vezes, sem parar. Sentado no jardim da casa daquela fraternidade, observando os diversos grupos de jovens cantando alto aquela música desconhecida, jogando jogos com bebida ou vomitando essas mesmas bebidas nos arbustos do outro lado, Louis só pensava em uma coisa: que porra ele estava fazendo com a sua vida?

Era apenas o segundo dia de aula. O segundo. Ele podia estar dormindo, relaxando enquanto os incontáveis trabalhos e as exaustivas provas não ocupavam todas as horas de todos os seus dias, assistindo algum filme, talvez lendo um pouco, quem sabe pegar no violão outra vez... mas não. Claro que não.

Ele estava naquela maldita festa de recepção de calouros, na casa de uma das fraternidades mais insuportáveis daquela Universidade, sentindo cheiro de vômito misturado com cerveja por todo lado, com fome e sobrevivendo apenas de um pacote de batatas que ele havia roubado de um casal que não parava de se beijar no sofá ao seu lado e que nem mesmo notou que haviam ficado sem comida (se é que ele podia chamar aquilo de comida). Para piorar, ele ainda estava bêbado - não estava bêbado como seus colegas de Universidade que estavam quase desmaiados naquele gramado, apenas um bêbado da pior espécie... a espécie que sabe que está bêbada e começa a repensar absolutamente todas as suas decisões de vida.

Inclusive a decisão de ter ido aquela festa. A decisão de ter aceitado o convite de Dylan, seu colega de quarto, sem questionar nem por um segundo se era uma boa ideia (observação: as ideias de Dylan nunca são boas ideias), de ter chegado aquela festa e aceitado a vodka que Zayn o ofereceu sem abrir a boca exceto para dizer "obrigado" - ao invés de dizer um "não" em alto e bom som e dar meia-volta na direção do seu dormitório.

Agora, ali estava ele: sentado sozinho em uma poltrona dura, encarando sem piscar um casal desconhecido que não parava de se beijar no sofá na sua frente, comendo batatas murchas, vendo tudo ao seu redor girar sem parar, com a cabeça latejando por conta daquela música terrivelmente alta, se questionando se iria vomitar em algum momento e repensando se ter nascido realmente havia sido a melhor opção (apesar disso ter acontecido quase 20 anos atrás e de não estar exatamente sob seu controle).

- Louis! - ele escutou seu nome sendo chamado, mas não se moveu - Louis, cara! - Zayn então apareceu no seu campo de visão, apenas de calça jeans e tênis; Louis se lembrava vagamente de ter visto o amigo usando uma camisa azul - Você está legal?

- Sim. - Louis respondeu, voltando à realidade; ele franziu o cenho - O que aconteceu com você?

- Por que?

- A sua camisa?

- Ah! Acidente de percurso. - Zayn deu de ombros e encarou o casal quase se engolindo no sofá - Ei. - ele cutucou o rapaz no ombro - Ei! - após alguns segundos os dois pararam de se beijar e encararam Zayn - Podem dar licença?

- O quê? - o garoto perguntou, parecendo desacreditado.

- É. Deem licença para a gente. - ele apontou para si mesmo e depois para Louis.

- Tem muitos lugares por aí para vocês se agarrarem. A gente chegou aqui primeiro. - a garota disse, já puxando o pescoço do menino para continuarem a sessão aparentemente infinita de beijos.

Zayn puxou o ombro do garoto para trás e o segurou, impedindo a boca dele de encostar na da menina.

- Por favor? - Malik insistiu, mostrando seu melhor sorriso. - Eu tenho a chave de um dos quartos lá de cima.

O casal se encarou. Depois de alguns segundos, a garota estendeu a mão e Zayn entregou a chave.

- Obrigado e não façam nada do que eu não faria! - Zayn disse, observando os dois se afastarem; o garoto mostrou o dedo do meio para ele e Zayn suspirou de modo dramático - Realmente não se fazem mais cavalheiros como antigamente.

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