Capítulo 5 - Conversas e chá.

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A chegada em São Paulo foi como o esperado, tranquila. Soraya pediu para que um amigo próximo e de confiança as buscassem no aeroporto, aquela hora, sabia que estaria cheio e demorariam para arrumar carro para levá-las para casa. Não demorou para o mesmo chegar logo depois do desembarque, riram a ver a plaquinha que o homem fizera brincando com o nome das duas.

—  Senhoritas, o motorista particular de vocês chegou - Ele Brincou.

— Oi, Mário - Soraya o abraçou. - Simone, esse é o Mário e Mário, essa é Simone Tebet.

— Olá, é um prazer conhecê-la pessoalmente. O seu trabalho, eu acompanho regularmente - O homem de cabelos grisalhos não muito mais alto que ela, estendeu a mão lhe cumprimentando.

— Olá. Fico feliz que acompanhe, o prazer é todo meu. — Sorriu.

— Vamos. Simone tá sem segurança e daqui a pouco enche de gente quando perceber que é ela. — Soraya pediu, interrompendo o contato. — Ela vai ficar no meu apartamento.

Não demorou muito para chegarem ao apartamento da loira que ficava em uma área nobre do centro da cidade. Mário ajudou subir para o décimo andar do prédio algumas poucas malas que as duas levaram antes de se despedir deixando apenas as duas.

— Vou buscar um copo de água pra você, fique a vontade

Simone agradeceu antes de ver a mais nova sumir pelo corredor longo. Tomou a liberdade de andar um pouco pela sala ali, muito bem arrumada. A grande porta que dava para a sacada fazia com que a luz natural do dia entrasse com generosidade pelo ambiente trazendo vida. Havia algumas fotos de família como presumiu a morena, em uma mesinha de canto embaixo de um grande quadro de onça.

Uma das fotos chamou atenção da mulher que pegou o quadro pra ver melhor.

— Então quer dizer que você já esteve no lado ruim da força? — Simone perguntou em um tom brincalhão,  assim que Soraya voltou para o cômodo.

— Que foto é essa? —  Se aproximou.

A loira se aproximou entregando o copo de água para a outra mulher, que em troca entregou o quadro que estava segurando. Era uma foto de Soraya com uma camisa amarela e uma calça jeans branca, sorrindo. Claramente participando de alguma manifestação pró-Bolsonaro em Campo Grande.

— Podemos dizer que infelizmente sim. Na verdade, César, meu ex marido que começou e eu acabei indo no embalo. — Falou. — Quase fui candidata, viu?

— Como assim você joga isso do nada, dona Soraya? — Simone riu.

— Bolsonaro e a família dele, achavam uma ideia boa uma candidatura minha. Creio eu pela influência que tenho, tentaram me convencer mas esse meio não é comigo, não tão diretamente assim.

— O que te fez mudar? — Perguntou. — Digo, de ideias.

— Acho que o mesmo que todos. Queríamos mudanças e acreditávamos que ele poderia fazer isso mas óbvio, antes mesmo dele se eleger eu sai deste lado, logo em seguida césar também.

— Por essa eu realmente não esperava.

— Tem tantas coisas sobre mim que quando falo, é basicamente essa mesma reação de todos — A loira falou rindo. — Vou lhe mostrar o quarto, tem banheiro e você pode descansar se quiser.

[...]

Depois de ser deixada no quarto que ocuparia pelos próximos dias, Simone se desfez dos sapatos pra alegria de seus pés que não aguentavam mais. Tomou um banho antes de finalmente descansar por algumas horas, dispensou o almoço de forma educada mas não aguentava mais de tanto cansaço. Os dias estavam lhe consumindo, a rotina agitada não era um problema mas tinha que confessar que a idade estava lhe pegando agora mas ainda assim, era o que tanto amava fazer. A correria de uma agenda cheia, a correria de ir de um estado para o outro, subir em palcos e palanques para falar com o povo, abraçar, tirar fotos e era o que fazia ela pulsar.

Depois de longas horas dormidas, tirou um tempo para conversar com as filhas por vídeo. Combinaram de se encontrarem no dia seguinte para um almoço afim de matarem a saudade. Assim que desligou a ligação, saiu do quarto agora com uma roupa mais leve e foi a procura de Soraya, não demorando pra encontrá-la.

A loira estava na cozinha completamente concentrada enquanto lia algo no celular. Simone chegou devagar pra não assustar a outra mulher.

— Ei —  Chamou sua atenção. —  No que posso te ajudar?

— Oi, na verdade estou lendo uma receita ou tentando entender.

—  Deixa eu ver? — Perguntou. — Creio que não é seu forte, não é?

Soraya não pensou duas vezes antes de entregar o celular.

—Definitivamente não. Na verdade, meu forte é louça, arrumar as coisas, ajudar a mantê-las arrumadas.

— Risoto? Hum, eu faço.

— Você é minha convidada, não vou fazer você cozinhar.

—  Eu cozinho e você lava a louça, que tal? Trabalho em dupla e eu amo cozinhar. Só vamos trocar as funções, hein?

— É um bom acordo pra mim —  Sorriu.

A loira se ocupou em ajudar nas coisas que Simone lhe dava instruções para fazer e no que podia agilizar o preparo da janta e a louça, que estava por sua conta. A música que tocará antes quando a morena adentrou na cozinha, não havia sido desligada e vez ou outra era cantada pelas duas algumas das mais clássicas da MPB.

O tempo fluiu assim como conversas vagas sobre assuntos aleatórios, estavam se conhecendo melhor mas não como uma entrevista didata sobre as coisas, era tudo tão leve que fez com que o tempo passassem em um salto e quando deram por si, estavam coma janta pronta e a mesa posta.

— Eu quero sinceridade soraya, por favor.  — Simone pediu.

Soraya sorriu levando uma garfada a boca, experimentando a comida que acabara de ser feita.

— Quando eu posso lhe inscrever no masterchef? — Brincou.

— Não seja exagerada mas ficou bom mesmo, não? até eu me surpreendi — Riu.

[...]

— Já pensou em desistir da política? — Soraya questionou.

O relógio na parede da sala marcava meia noite em ponto, a segunda xícara de chá feito pela ministra havia sido cheia para ambas enquanto estavam sentadas na sacada. A noite estava estrelada e ainda, estava acompanhada de uma lua cheia maravilhosa que estava refletindo diretamente onde estavam.

— Mais fácil você me perguntar quando é que eu não pensei — Riu. — Depois que eu tive minhas filhas então, por muitas vezes eu pensei, principalmente nos momentos mais conturbados porém, é impossível.

— É o que te faz se sentir em casa? fora a sua família, é claro. — Perguntou?

— Com certeza. — Tomou um gole do seu chá. — Aprendi a fazer política com meu pai. Eu ouvia as conversas dos mais velhos atrás da porta, via os grandes nomes entrar e sair de casa e fazer política com coragem do lado de fora, nas ruas, em palanques, pra multidões. Era inevitável não estar aqui hoje, do lado que eu estou.

— Gosto da forma que você defende as coisas, suas visões, ideias e enfim, gosto da forma que você faz política.

— É realmente muito bom saber disso.




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⏰ Última atualização: Nov 21, 2023 ⏰

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