Demônio Interno

Salvador

  
  Uma coisa era certa: Naruto nunca teve dúvidas de que demônios existiam, mas vê-los frente a frente o assustou. Sua boca estava seca e seu coração batia descompassadamente; o sangue pulsava em seus ouvidos e a sensação de perigo iminente o deixava pálido e nervoso.

E mesmo depois de segundos em silêncio, a criatura não se mexeu. Parado na porta de seu quarto, observando-o com seus olhos vermelhos como sangue recém-escorrido. Passaram-se um ou dois minutos, Naruto não sabia dizer, perdeu a noção de tempo por conta do medo avassalador.

Com o rosto ainda marcado pelas lágrimas recentes, seus olhos azuis se inundaram novamente.

- Quem é você?... Por favor - o Uzumaki suplicou confuso, tão baixo que até mesmo o demônio teve que apurar os sentidos para ouvir - Eu... Não me machuque.

E finalmente, a sombra se movimentou. O que parecia ser um ataque foi apenas um levantar de mão, levando-a ao próprio rosto e secando as lágrimas que escorriam dos olhos vermelhos.

Com as sobrancelhas agora juntas em confusão, Naruto analisou a figura devagar. Ele está chorando? Foi a dúvida que ficou na cabeça de Naruto. Entre soluços, o loiro, agora com uma preocupação irracional crescendo dentro de si, perguntou:

- Você está chorando?.- a fala não saiu muito mais alta do que a anterior - Você está bem?

Ingênuo, Naruto achou que a criatura estivesse perdida, talvez precisando de ajuda. Sim, é isso, ele estava precisando de ajuda, e por isso entrou no chalé dele. Talvez Kushina estivesse certa e Naruto fosse muito puro para esse mundo, ou talvez toda proteção que seus pais lhe deram tenha surtido um efeito contrário. A fada não parou para pensar que estava isolado, que as barreiras que o guardavam eram tão fortes que tornavam-se quase impossíveis de atravessar. Agarrou-se à esperança cega de que aquela criatura estava lá pedindo ajuda.

- Você está machucado?  - o loiro agora começou a falar com mais firmeza, ainda sentindo um arrepio de medo - Como é o seu nome?

O loiro foi se desencolhendo aos poucos, limpando as lágrimas que ainda caíam. A criatura pendeu a cabeça para o lado, ainda meio confusa pela reação da fada.

- Naruto - e de novo o nome do loiro foi dito pela voz profunda, fazendo-o se arrepiar.

- Quem é você? E como você sabe o meu nome? - confuso e na defensiva, Naruto ficou de pé, afastando-se da cama, indo com as costas de encontro à parede.

- Por favor, vá embora ou eu vou gritar - ele soltou a única ameaça que lhe veio à mente - Se você estiver perdido ou precisando de ajuda, vá em direção ao reino; lá eles lhe fornecerão ajuda.

Ainda com as costas grudadas na parede, Naruto falava corajosamente, apontando para a saída, ainda com um fundo de esperança de que a criatura só estivesse precisando de ajuda.

- Você é ingênuo e tolo demais - foi a resposta que ele recebeu da figura que continuava parada, sem esboçar reação física - Como podes ter vivido por tanto tempo nessas condições?

A criatura olhou ao redor com cautela para não perder nenhum detalhe.

- Não sou tolo ou ingênuo. Como você entra na casa de alguém e o insulta dessa forma?_ - vermelho de raiva e vergonha pelos insultos, Naruto responde descolando as costas da parede e dando dois corajosos passos - Se eu sou tolo, você é mal educado.

- Mal educado? Sou realista. Que tipo de tolo pergunta se um demônio precisa de ajuda? - com desdém, a criatura cruza os braços.

- Estou tentando ser educado. Você entrou na minha casa sem permissão e ficou me encarando como um idiota. Eu deduzi que precisasse de algo - já totalmente corado de raiva, Naruto praticamente grita enquanto cruza os braços.

- Fadinha estúpida - o demônio diz entre dentes, olhando ainda com desdém.

- Você não tem vergonha?! - Naruto exclama fervilhando em ódio - Saia da minha casa, você não é bem-vindo - ele aponta seu dedo para a saída.

- É assim que você vai tratar seu salvador?- a criatura solta os braços ao lado do corpo, abrindo um sorriso irônico.

- Não preciso ser salvo, preciso que você saia do meu quarto - a fada diz firme, agora sem nenhum resquício de medo, talvez por imprudência ou pela estranha sensação de conforto.

- Sim, você precisa - o demônio afirma sem dar muitas explicações - Ou você é salvo por mim agora, ou você trate de morrer logo. Não irei continuar ouvindo súplicas e choros a noite. Você não é mais uma criança.

Naruto sentiu como um tapa em sua cara. Quem era aquele estranho falando sobre sua vida e seus lamentos? Ele ao menos o conhecia.

- Quem você pensa que é? Olha, você só pode estar maluco - Naruto deduz - Sinto muito, mas você está completamente louco.

E então o silêncio caiu novamente. A criatura olhava curiosa para Naruto, e o loiro começava a suavizar seu olhar. Descruzou os braços e suspirou.

- Senhor demônio, acho que você errou o chalé. Eu nunca o vi na minha vida, muito menos chorei pedindo sua ajuda. - E com a voz calma, Naruto parecia compreensivo com a criatura, talvez até mesmo arrependido por ter se irritado.

- Você é mesmo um tolo ingênuo.

O demônio deu passos devagar até ficar de frente para a pequena fada. Suas alturas eram notoriamente diferentes, o corpo alto e forte do demônio parecia muito ameaçador para a pobre fada.

- Quem é você?- a fada pergunta, agora muito mais confusa. O sentimento de medo se esvaziou, mas ainda tinha cautela - O que você quer?

- Te salvar.