Apartamento 602

Sigilo Absoluto

Taemu abriu a primeira gaveta da sua mesa, tirando os bonecos que havia ganhado no show do Melomance. Estava se tornando cada vez mais comum conversar com a versão de pano da Shin Hari ao invés da original, e ele não sabia mais o que fazer a respeito. Ele tamborilou os dedos sobre a mesa.

Havia prometido para o avô que iria pessoalmente no encontro as escuras e não enviaria Sung Hoo em seu lugar dessa vez, mas não estava minimamente disposto a deixar a empresa naquela tarde. Ele respirou fundo e então apoiou seu rosto em seu antebraço, tamborilando os dedos sobre a mesa. A Logo da empresa estava transitando na tela do computador, passando de efeito para efeito lentamente com uma música irritante. Os olhos escuros desviaram-se brevemente para os ponteiros do relógio digital e ele fez uma careta.

Estava na hora do encontro e o secretário Cha inventou uma desculpa esfarrapada...

Ele pegou seu celular e enviou uma mensagem para Hari. Ela não podia recusar, já que era assunto de trabalho.

Bem, tecnicamente era assunto de trabalho.

(Kang Taemu: Senhorita Shin, nós dois vamos almoçar fora hoje.)

(Shin Hari: Senhor Kang, como eu já cansei de dizer incansavelmente, não deve ficar me enviando mensagem. É inapropriado.)

(Kang Taemu: Senhorita Shin, eu sou seu chefe e você ainda está em horário de trabalho. Não se preocupe que eu não irei agir de maneira inapropriada. PS: Se quiser culpar alguém por isto, culpe exclusivamente o desgraçado do Cha Sung Hoo que me deixou na mão no último minuto. Encontro você na limusine. Por favor, seja discreta e pontual.)

E então ele se levantou da poltrona, deixando a sala. Assim que chegou ao corredor, sentiu seu celular vibrar dentro do bolso da calça e imediatamente pegou o aparelho. Como ele já desconfiava, era seu avô.

Taemu revirou os olhos. Ele deveria estar mesmo desesperado, mas não podia culpa-lo por isso, já que o CEO vinha fazendo tudo o que estava em seu alcance para fugir dos encontros as cegas. Infelizmente ele não se sentia confortável em aborrecer seu avô, mesmo sabendo que não deveria fazer as coisas que era obrigado a fazer.

—Sim, eu estou indo me encontrar com ela. Nós conversamos assim que eu chegar.

Era muito arriscado levar Shin Hari no lugar de Sung Hoo? Sem sombra de dúvidas. Mas Taemu tinha um plano e ela era peça fundamental para sua execução, além disso, era uma ótima oportunidade para ele vê-la sem parecer um stalker filho da puta.

Ele passou as mãos pelos cabelos, ajeitando a franja e então adentrou o elevador apertando o botão.

❥

O trajeto percorrido até o restaurante, numa parte mais sofisticada da cidade foi feito em absoluto silêncio. E assim que chegaram ao estabelecimento, Shin Hari arregalou os olhos e escancarou a boca completamente incrédula. Muito lentamente ela se virou para encarar Kang Taemu que continuava suspeitosamente sereno e firme. Ele andava ao seu lado com despreocupação.

—Você me trouxe aqui para te assistir tendo um encontro as cegas? O que você está tentando fazer, Kang Taemu? Isso é baixo até mesmo para você.

Ele apenas a fitou inexpressivamente e então andou até a mesa 27, onde a sua futura noiva estava os esperando.

—Você não vai falar nada? — Hari o observou visivelmente chocada com aquele fato. Ele era simplesmente inacreditável. — Taemu!

—Shhh. — Ele gesticulou para que ela ficasse quieta e ela abriu a boca para protestar, mas se calou ao notar que a pobre coitada da vez os encarava.

—Você deve ser o famoso Kang Taemu. — Uma mulher linda de cabelos longos se levantou para cumprimentá-lo e ele retribuiu ao cumprimento. Intrigada, ela fez uma careta para Hari que sorriu sem graça para ela. — Você trouxe a sua secretária?

—Na verdade... Shin Hari não é minha secretária.

Ok. Aquilo estava realmente começando a perturbá-la. O que ele estava planejando fazer? Ela estava com uma sensação esquisita e nada agradável e não conseguia deixar de encará-lo. Ele parecia tranquilo e sem qualquer traço de vergonha ou arrependimento.

Não podia ser um bom sinal.

E definitivamente não era, como ela pôde perceber, segundos depois.

—Ela é a mãe do meu filho.

A mulher arregalou os olhos e Shin Hari, sentindo o rosto esquentar furiosamente em uma mescla de surpresa com vergonha, escondeu-se atrás de Taemu.

Eu sabia, eu sabia que ele estava planejando alguma coisa. Youngseo tinha razão. Ele é uma raposa.

—Eu acho que não ouvi direito.

—Shin Hari está grávida esperando um filho meu. — Hari escancarou a boca, não fazia ideia de que ele tinha talento para dramatizar daquele jeito e ele agia de um jeito tão natural que era impossível perceber que era mentira. — Eu peço desculpas por tê-la feito perder seu tempo vindo aqui, Kyung-Hyo, mas eu precisava falar isso pessoalmente, achei que seria grosseria da minha parte contar por telefone.

Ela piscou os olhos, como um desenho animado, diversas vezes consecutivamente e muito lentamente meneou a cabeça afirmativamente.

—Sim, você tem razão. Eu... Acho que não haverá casamento.

—Não haverá casamento, mas fico muito lisonjeado com seu interesse por mim. Como a gravidez de Hari é de risco, eu gostaria de pedir educadamente que você não comente o motivo da minha dispensa com ninguém. É sigilo absoluto.

Ela assentiu, sorrindo empaticamente para ele e também para a suposta grávida.

Hari só queria um buraco para se enfiar dentro. Ela sorriu, ainda muito vermelha para a mulher, estendendo a mão amigavelmente para a cumprimentar.

—Muito obrigada pela sua compreensão e desculpe por você perder seu tempo vindo aqui.

—Não se preocupem com isso. Eu vou superar. De qualquer forma, meus parabéns para vocês dois. Eu tenho certeza de que o bebê será lindo como os pais.

—Ah, muito obrigada por isso. Você é muito gentil. — Ela sorriu, encarando a mulher que imediatamente se levantou do seu lugar.

Eles despediram-se e então a pretendente de Taemu foi embora, os deixando a sós. Shin Hari colocou as mãos na cintura, o encarando seriamente.

—Você me disse que era uma reunião de negócios. Eu sabia, eu sabia que você estava armando alguma coisa.

Taemu apenas piscou os olhos, contendo um sorriso enquanto puxava uma cadeira para Hari se sentar, e em seguida sentou-se de frente para ela.

—Eu já te fiz alguns favores antes, então achei que você não fosse se importar de me ajudar. — E então gesticulou para que um garçom se aproximasse. — Antes que você surte, isso é uma reunião de negócios, estou esperando um cliente muito importante chegar.

Ela estreitou os olhos, o encarando com muita desconfiança, mas não disse nada a respeito.

—Você não deveria ter dito para ela que eu estou grávida. Isso foi errado.

— É a única maneira de fazê-las desistir do casamento e garantir que nenhuma delas conte a imprensa ou ao meu avô a razão para os encontros não irem adiante.

Hari voltou a piscar os olhos e então eles se encararam por um demorado momento. Ela sorriu falsamente para ele, que retribuiu.