▪Recordações amargas▪

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1965

O ambiente era gelado e solitário, a fumaça que saia por meus pulmões contaminava o ambiente transformando-o quase que uma densa neblina no quarto onde estava hospedado. Estava acostumado com neblinas, e também com a sensação de estar sozinho. Era libertador se sentir sozinho, ao mesmo tempo agoniante, as vezes me pegava pesando que talvez, tudo seria melhor se eu estivesse sozinho, mas no fundo eu sabia que temia isso. Eu girei a cadeira de couro onde estava sentando todo esse tempo e meus olhos procuraram o toca disco que reproduzia uma musica suave e com sua estática leves, a melodia era calma porém era uma letra agressiva e havia um significado profundo por trás, mas não estava com cabeça para montar mas um quebra-cabeça com suas peças faltando. Nem tudo tem um motivo, mas tudo tem um significado, mesmo que seja confuso e sem sentindo.

Amanhã será mais um dia de trabalho árduo e cansativo. Mais um dia sem sentindo e repetitivo.

Mas ainda em minhas memórias vagas e rasas, ainda me lembro de me sentir realmente vivo por um tempo, aquele sentimento reconfortante e cheio de significado. Lembro dos seus olhos negros e foscos e seu sorriso largo e sarcásticos, mas me lembro claramente do seu sangue em minhas mãos e seus olhos se tornando brancos em segundos. Eu me recordo de segurar ela firme em meus braços enquanto a dor se espalhava por meu corpo resultando em um profundo e frio desespero.

Ela não é a única que partiu diante dos meus olhos, mas foi a ultima.

Em minha frente a mesma mulher de minhas lembranças com seus rosto borrado se mantinha em minha frente segurando suas próprias mãos. ㅡ Eu sempre achei você melancólico demais sabia?ㅡEla disse com sua voz sufocada, por conta do corte grande que tinha na garganta, manchando a carpete marrom do quarto do hotel.

A olhei com angústia e um sorriso mínimo em meu rosto. ㅡ E sempre achei você insistente demais, Abigail.

A mulher abaixou a cabeça após minha fala. ㅡ Você é preso ao passado, com dificuldade de seguir em frente. ㅡ Agora era possível ver seus olhos leitosos e seu rosto mas pálido do que o normalmente seria, ela me encarava fixamente com magoa enquanto me mantinha em total silêncio apenas escutando o som de estática do disco que girava do outro lado do cômodo.

Seus passos diante a sala eram barulhentos devido aos seus saltos de cor escuros, suas roupas eram iguais do que vi ela pela ultima vez, com sua camisa branca com um lenço em seu pescoço manchados com o sangue que saia de sua garganta, junto de uma calça preta feita de um tecido leve. A mulher caminhou até o vinil tocando na agulha e colocando no disco novamente assim voltando a tocar a música novamente. Abigail voltou a olhar para mim agora com sua maquiagem borrada. ㅡ Eu gosto dessa música. ㅡ Disse apreciando os ruídos sonoros.

ㅡ Eu sei. ㅡ Falei quase que em um sussurro têrmo-lo tinha remorso em lembrar disso.

A mulher no entanto pouco se importou com o que o albino tinha falado, ela se preocupava com a dança suave que fazia com suas pernas e braços, como se fosse uma coreografia praticada a muito tempo pela moça de belos ondulados. Ela se aproximou de mim com seu sorriso largo e olhos brancos densos, Abigail estendendo sua mão em minha direção.

ㅡ Quer dançar?

10 anos atrás

final de setembro de 1955

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