Te amar(elo)

capítulo 1

Um dia você me perguntou se eu teria coragem de escrever essa historia. Eu permaneci muda. Não consegui te dar reaposta alguma. Eu sei que eu costumava ser boa em inventar historias e dizia que queria ser escritora, mas inventar estorias é mais confortavel que relatar fatos. Talvez eu nao seja tao boa assim em viver historias, não como sou em inventa-las. O mundo que funciona dentro da minha cabeça é bem mais incrível que eu na realidade.

Mas então voce me deixou. Algo que eu pensei que nunca fosse acontecer. Mesmo que supostamente eu sempre tenha sido realista o suficiente para me preparar para tal acontecimento. Sei que é incoerente eu viver sempre me preparando para isso, mas no fundo me surpreender quando de fato aconteceu.

Desde que você se foi tudo que me restaram foram dúvidas e culpas. Não há um dia que eu deite minha cabeça sobre o travesseiro e descanse sem pensar em tudo que aconteceu. Em tudo que eu não disse, em tudo que, por medo, eu não me permiti viver.
Você não merecia tanta covardia.

Mas, parando para fazer uma analise rigida das coisas, ser covarde em determinado monento foi o mais inteligente a se fazer, foi o que mais me permitiu viver coisas que eu jamais imaginaria. Paradoxalmente ser covarde foi um ato de coragem. Para te proteger, para nos proteger de quem pudesse nos impedir de viver o que acreditavamos.

Li uma vez em algum lugar que quando você tem um segredo, ele é seu prisioneiro e que quando você o conta a alguem, você é prisioneiro do seu segredo.

Essa frase ecoava na minha cabeça, fiz dela meu mantra. A formula para tudo isso dar certo e não sair do controle era manter sigilo e não gerar provas. Então quando você me perguntava se um dia eu seria capaz de escrever sobre isso, para mim soava o absurdo mais absurdo dentre os absurdos, pois seria a maior das confissões.

Porem, tudo mudou. Você se foi e eu senti que iria enlouquecer por ter que engolir a dor de 10 anos de uma vida secreta como se nao tivesse sido nada porque ninguem soube.

Foi ai que eu furei o sigilo. Eu nao me aguentei. Nao que tenha espalhado para Deus e o mundo. Tantas pessoas ainda nao sabem porque isso implicaria tantas coisas, mas a outras eu precisei falar ou senti que me sufocaria.

Eu pensei ter tudo sob controle, mas nao tinha. Me descobri mais vulneravel do que eu me julgava ser.

E hoje cá estou eu, prestes a fazer o impensavel: escrever sobre nós, sobre essa historia que ninguém nunca soube, mas sempre esteve ali, debaixo da vista de todos.

Eu ainda me recordo quando conheci você. O ano era 2007, eu recem tinha mudado de colegio porque a escola que eu frequentava só ia até o ensino fundamental 1.

Nessa época eu não passava de uma bebê dos pais com uma mochila da hello kitty que se apertasse na frente falava "I love you". Cabelo bem cacheadinho partido milimetricamente para o lado, uma completa criança entrando num universo de pré-adolescentes sem fazer ideia de como havia ido parar ali. Eu nem usava sutiã ainda.

Ja você, era alta usava uma bolsa de lado bem descolada, tiara de miçanga no cabelo e aparelho. Ja tinha seios enormes. Lembro que cheguei a pensar que você era aqueles alunos fora de faixa que estão na serie errada por repetir de ano.

O fato é: não ficamos proximas. Até porque nem tinhamos muito em comum. O que a gente ia conversar nessa epoca? Eu estava interessada em filmes do harry Potter e revista recreio enquanto você já era do tipo que andava com meninas mais velhas, frequentava festas e falava de garotos.  Eu nem tinha menstruado ainda!

Enfim. Era um abismo gigantesco que havia entre nós. Só uma coisa tinhamos em comum nessa epoca: você era um dos destaques de melhores notas da sala e eu me lembro de ter ficado obscecada por isso. Nao sosseguei até conseguir ser um dos destaques também. Para não dizer que não tivemos interação durante esse ano, essa foi a interação: eu me esforçando para ter notas tão boas quanto as suas. Lembro de que quando eu consegui nos encontramos na premiação. Eu estava super empolgada e para você nem parecia grande coisa.
De fato seus focos sempre foram em outras coisas.