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Caitlyn piscou duas vezes, levemente surpresa. Ela olhou ao redor, até que soltou uma risadinha fraca e seca.

— Do que você está falando? — indagou a Kiramman, séria.

— Cupcakes. Ela é uma, uh... Streamer de um site pornô. — expliquei, um tanto envergonhada. Estava me sentindo uma garotinha de 15 anos contando para os pais que lia história para maiores de dezoito. — Eu... Ah, bem, ela tem um cenário muito parecido com seu quarto. Sem contar que, para gravar as lives, ela esconde o rosto uma máscara parecida com essa.

Entreguei a máscara para a mesma. Caitlyn ficou encarando a máscara, seu rosto pálido enquanto o silêncio permaneceu pelo quarto.

Ela então me olhou séria.

— Você não pode contar isso para ninguém. — disse a policial de repente. — A minha família... A minha mãe, principalmente... Ela enlouqueceria se soubesse.

Arregalei os olhos, e coloquei as mãos dentro dos bolsos da minha jaqueta.

— Wow, tipo, você é mesmo ela? — questionei, ainda surpresa. Mesmo relutante, Caitlyn revirou os olhos e fez que sim com a cabeça. — Nossa, caralho... Não tenha nada contra, sabe? Eu até vejo seus vídeos, mas é uma surpresa e tanto! Tipo, você é tão certinha, não dá para imaginar que uma... Bem, uma mulher de família como você, faça aquele tipo de live às escondidas.

— Mas Vi, isso é sério. — Caitlyn se aproximou de mim e agarrou firme meu pulso com sua mão levemente trêmula, acabei por me assustar um pouco. — Me prometa. Me prometa que não vai contar para ninguém. Minha reputação como Kiramman depende disso.

Fiquei quieta por um tempo, mas fiz que sim com a cabeça.

— Eu prometo. — foi tudo o que eu disse.

Caitlyn então soltou meu braço, seus olhos com um brilho que mostravam sua gratidão.

Ficamos em silêncio por um bom tempo.

— Melhor eu ir para casa.

— É, você tem razão. — a Kiramman afirmou, com a cabeça abaixa. — Vou te levar até a porta.

~~~

Descobrir que sua vizinha é a streamer que você fica vendo é literalmente a cura para o vício em pornografia.

Afinal, comecei a evitar o canal de Cupcakes com uma boa frequência. Sempre que eu olhava para aquela mulher sentada na cadeira gamer, usando aquela máscara e o vestidinho tomara-que-caia curto preto, eu me lembrava que ela fazia isso tudo num apartamento próximo ao meu.

Isso também acabou me fazendo evitar Caitlyn Kiramman também.

De qualquer forma, eu também não tinha tanto tempo para ficar dando toda a minha atenção a isso. Eu tinha o trabalho, meus treinos e sem contar com a Jinx.

Era bom que minha irmã mais nova estivesse passando mais tempo em minha casa, pelo menos agora havia outra voz ecoando pelas paredes do apartamento além da minha.

Claro, ela passava a maior parte de seu tempo falando sobre a faculdade, as festinhas que os colegas lhe levavam e também sobre Luxanna Stemmaguarda, mas eu realmente não me preocupava com isso. Afinal, ela até parava para arrumar a casa quando estava entediada, e isso era um favor enorme para mim e para a diarista que vinha limpar a casa pelo fim da tarde.

— Ei, Vi. — ela disse numa tarde, assim que chegou em meu apartamento, pela tarde, como sempre fazia quando terminava suas aulas na faculdade. — Chegou correspondência para você.

Eu estava sentada no sofá, assistindo televisão, apenas sorri para ela e peguei os papéis em suas mãos.

Era a conta de luz. No entanto, não demorou muito para eu perceber que não era a minha conta de luz.

Fiz uma cara emburrada.

— Carteiro filho da puta. — xinguei num resmungo.

— O que aconteceu? — questionou minha irmã, confusa com minha frase.

— Eles sempre confundem! — expliquei, me levantando do sofá contrariada. Honestamente, eu não queria olhar para Caitlyn depois de ter feito aquela gigantesca descoberta sobre ela. — Eles colocaram as contas da Caitlyn na minha caixa de novo!

— Caitlyn? Caitlyn Kiramman, aquela que mora aqui do lado? — Jinx questionou, e eu apenas fiz que sim com a cabeça. — Se quiser, eu posso ir lá, entregar para ela...

— Não, não será necessário. — interrompi. — Você acabou de chegar, passou o dia todo estudando e deve estar cansada. Deixa que eu levo.

Jinx acabou por sorrir involuntariamente, e deu de ombros.

— Certo, já que você insiste... — declarou a dos cabelos azuis, imediatamente se jogando no sofá e trocando de canal.

Ignorei ela, apenas coloquei meus sapatos.

Não tive que andar muito para ir até o apartamento de Caitlyn. Nem mesmo elevador era necessário, afinal, a porta dela era ao lado da minha — às vezes me pergunto como nunca consegui escutar nada em relação a tudo mesmo com tanta proximidade.

Fiquei um bom tempo apenas encarando a porta, pensando em todas as formas (fracassadas) que eu poderia entregar aquela correspondência sem precisar olhar para ela por mais de cinco segundos.

No entanto, só me veio a mente a ideia de jogar as contas pela fresta da porta quando eu já tinha desistido e tocado a campainha.

Caitlyn não demorou muito para atender. Ela ficou surpresa com minha presença, e também não parecia confortável com o nosso encontro repentino.

— Oh, Vi... — ela disse. — Que surpresa.

— ... É, eu sei. — foi então que finalmente olhei para as contas em minhas mãos. — Aqui, sua correspondência. Acho que você já deve imaginar o porquê...

— É, erraram de novo. — afirmou ela, soltando uma risada seca logo em seguida. Entreguei rapidamente as contas para ela, e a Caitlyn as jogou num canto próximo dela dentro de sua casa. — Enfim, obrigada, Violet.

— De nada.

Ficou um belo silêncio depois disso. Ficamos olhando uma para a outra, nossos olhos dizendo praticamente tudo que as bocas não conseguiam.

Não aguentando mais o peso daquele clima em minhas costas, comecei a me virar.

— Bem, melhor eu voltar para minha casa. — comentei. — Te vejo por aí, Caitlyn...

No entanto, quando eu já estava virando de costas, escutei a policial dizer:

— Espera!

Me virei de novo, confusa.

— O que foi?

A Kiramman olhou para baixo, mordendo o lábio relutante. Seu comportamento me deixou mais curiosa para saber sobre o que era.

— ... Será que eu poderia conversar com você rapidinho? — indagou ela, a mão apertando a batente da porta.

— Oh.

Não soube o que responder por alguns instantes, no entanto, minha curiosidade respondeu:

— Claro. Sobre o que seria?

— Bem, vamos dizer que eu tenho uma... Proposta. — disse ela, num murmúrio que demonstrava sua timidez.

Proposta? Isso não era coisa boa. foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça. Mas agora, eu já tinha confirmado.

— Ah... Ok. — foi tudo o que eu disse.

Caitlyn sorriu fraco para mim.

— Certo, venha, vamos entrando. — ela afirmou, me trazendo para dentro de sua casa.

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