O Breu

45 5 4
                                    

“Essa história… Espera, o que?!”

O dia estava sombrio, os campos estavam desertos e as únicas coisas que se moviam eram a grama alta e as folhas das árvores. Quando em um breve momento vejo uma criança correndo pelo vilarejo. Todas as casas estavam trancadas e as janelas fechadas.

Era meio dia e a tarde parecia ser noite. O menino me deu uma breve encarada como se tivesse visto um monstro na floresta, pensando bem como ele foi parar lá?

Fui atrás desse menino, preocupada, já que eu era a única do vilarejo que estava fora de casa. Queria saber quem era a criança e assim levá-lo para os pais, mas quando fui atrás dele não havia mais uma criança, ele instantaneamente virou cinzas diante dos meus olhos.

Fiquei por dois minutos vendo aquelas cinzas se desfazerem pelo o ar e me perguntando o que estava acontecendo: “É o fim do mundo?!” Pensei, não tinha explicação mais óbvia para o céu estar tão escuro e uma criança se desfazer na minha frente. 

Depois desse choque escutei um grito:

— AMÁLIA!! — disse uma voz rouca e grossa. 

Meus ossos estremeceram, me virei e vi meu pai, um homem alto e careca com a barba de um viking, ele dizia que éramos descendentes, seu corpo era forte e com a  barriguinha um pouco arredondada.

— Venha logo! A taberna está cheia de abrigados. Muitos estão falando que deve ser algo ligado ao coração da floresta …  

O coração da floresta era o único lugar dessa ilha que nunca foi explorado, os homens costumam pegar os seus barcos e navegar pelas redondezas. Já que uma parte da ilha era mais abundante em pesca e a outra tinha terras mais férteis para a  colheita. Só que nenhuma pessoa que foi para o coração da floresta retornou de lá, então com o passar do tempo, surgiram lendas de um ser maligno habitando aquela região. 

Eu nunca acreditei nessas histórias, sempre achei que isso não passava de contos que os adultos inventavam para manter as crianças na linha. Só que agora, devido às circunstâncias, eu não desacredito de mais nada.

Chegamos na taberna. Moradores que não encontraram seu lar devido a escuridão e crianças que se perderam dos seus pais estavam ali, sentados e com medo. 

Meu pai havia acendido uma tocha e colocado na porta para todos que estivessem perdidos se refugiassem ali.

— Encontrei ela — disse aos suspiros.

Uma mulher de cabelos longos e pretos, rosto abatido e com menos de um metro e sessenta me encarava aliviada, essa era minha mãe. Ela veio até mim para me dar um abraço forte e grudento.

— Me desculpe, não deveria ter pedido pra ir atrás de Thalia, não sabia que a escuridão ficaria tão densa assim…

Thalia é a minha irmã de criação. As nossas mães eram amigas de infância, engravidaram quase ao mesmo tempo, porém na hora de seu nascimento a mãe dela não resistiu e como forma de carinho, a minha a pegou para criar. 

Ela era apenas quatro meses mais velha que eu, cabelo curto e loiro, olhos esverdeados e pele parda, cheia de sardas no rosto e algumas marcas de tombos pelo corpo.

Assim que minha mãe me soltou a vi chorando no canto, estava em choque. Fui até ela e perguntei nervosa:

— Onde você estava?! - Suspirei e percebi que meu estresse não iria ajudar em nada. - Pensei que tinha te perdido… — Apertei ela em um forte abraço, foi quando senti a pele dela queimando em febre.

Nesse momento ninguém sabia o que estava acontecendo no vilarejo, estavam todos desesperados e em constante oração suplicando para os deuses que os perdoassem e que salvassem as suas almas.

A Ilha Katãn Onde histórias criam vida. Descubra agora