3. Sonho americano

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Agatha Ángel

Peguei a chave em minha bolsa e abri a porta do meu apartamento. Eram 9h e eu estava voltando da academia, minha primeira aula hoje começava às 13h então eu teria um tempo até precisar ir para a faculdade. O dia estava ensolarado, o verão nos Estado Unidos estava acabando e logo chegaria o outono, minha estação favorita. A Espanha teria mais um mês de verão, e as vezes me pegava pensando no que meus irmãos estavam fazendo para curti-lo. Entrei e joguei minha bolsa na mesa da cozinha, indo me sentar no sofá. Meu apartamento não era grande e como preferi não ficar nos alojamentos da faculdade procurei por um pequeno, perto de onde eu estudaria. Meu pai estava puto com tudo aquilo, então não quis pedir dinheiro para ele, eu tinha conseguido uma bolsa de estudos e estava pagando minhas contas com o que eu havia economizado durante o ensino médio.

Fazia um mês desde que me mudei para os Estados Unidos, não de maneira permanente, mas ainda assim tudo isso era muito estanho para mim. Estar longe dos meus irmãos, de minha mãe, não saber o que estava acontecendo e se eles precisavam de mim era realmente muito desconfortável. Eu me limitava ao máximo para não falar com meu pai, só quando era necessário, mas sempre estava ligando para Anthony e ele me atualizava de tudo. Pérola era diferente, tudo que eu sabia sobre ela chegava a mim através de meu irmão, nós estavámos brigadas desde o dia que eu peguei o avião para sair da Espanha. Tudo isso era muito difícil, mas necessário e se eu tivesse ficado mais um dia naquele inferno talvez eu enlouqueceria. Infelizmente Pérola não entendia isso.

-Acho melhor eu tomar um banho antes de ir e almoço na faculdade. - O ruim de morar sozinha era não ter alguém para ajudar nas tarefas, como eu sentia falta da comida da Dani.

Fui em direção ao banheiro e tirei minhas roupas suadas do treino, abri o chuveiro na água fria mesmo e entrei debaixo da água. Eu odiava tomar banho com água fria, porém o calor estava me matando e eu só queria me refrescar. Se eu estivesse na Espanha a essa hora provavelmente estaria dentro da piscina bebendo uma caipirinha feita pela maravilhosa Dani. "Por favor, eu não quero nenhuma surpresa hoje. Eu só queria um dia de uma garota normal." O bom de estar longe de casa era que ninguém sabia sobre a minha família, o sobrenome Ángel não significava nada, só que eu era estrangeira. É muito cansativo ser a filha mais velha do chefe de uma das maiores gangues espanholas e ningúem via isso, fugir dessa realidade estava me fazendo bem, porém em alguns momentos essa realidade não fugia de mim.

Lavei meus cabelos e em seguida o meu corpo, deixando a água escorrer pelo meu rosto. Terminei e fui em direção ao espelho, me sequei com a toalha e passei meus cremes, vitaminas e o protetor solar. Fui para o meu quarto, nua mesmo já que não tinha nem uma alma viva ali, e abri meu guarda roupa procurando algo fresco e bonito para vestir. Decidi por um macacão branco, larguinho e com detalhes azuis e fiz umas minis trancinhas em meu cabelo. Peguei minha mochila, meu capacete e já estava pronta para ir. Como levar um carro para outro país seria muito caro, consegui convencer o meu pai a pelo menos pagar o transporte da minha moto. Eu realmente não vivia sem o meu xodó, eu tinha um modelo da Kawasaki Ninja H2 SX SE na cor preta, amo as motos japonesas.

Sai do apartamento e fui para o elevador, já eram 11h. Meu plano era almoçar, passar na biblioteca e ir direto para a sala de aula. "Por favor, que nada estranho aconteça hoje." Ultimamente tem sido uma pedra no meu sapato. Eu pensei que por estar longe, na porra de outro continente, eu não iria me estressar, mas como sempre a vida olha pra mim e pensa "Ah, lá, está muito tranquila. Coitadinha, vou enviar um presente misterioso." Recebi flores na faculdade, entregas de comidas aleatórias em casa, a porra de uma bolsa da channel na portaria do meu apartamento. Eu simplesmente não queria aquilo e eu sei que se eu aceitasse passaria a impressão de estar de acordo. Meu objetivo era o oposto disso e o meu pai não fazia nada, não importava quantas vezes eu ligava para ele gritando, a resposta era sempre a mesma: "Não há nada que eu possa fazer, Agatha".

Las angelesWhere stories live. Discover now