A cidade de Cokeworth

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A cidade de Cokeworth não era um lugar bonito de se ver nem fácil de se viver. Como uma cidade fundada em plena revolução industrial, a pacata cidade no sul da Inglaterra girava ao redor de sua famosa fábrica de brocas, uma economia não tão sustentável nos dias de hoje. A maioria dos moradores da cidade eram nada mais que trabalhadores da fábrica que viviam ao redor do recinto industrial da rua da fiação, na zona leste, um lugar perigoso onde a pobreza e o crime andavam soltos pelos becos e vielas.

Cokeworth, no entanto, apesar de seu alto índice de perigos, era uma cidade histórica e bem localizada entre duas grandes cidades o que fez com que um certo índice de moradores advindos delas se mudassem para a localidade em questão, criando uma desigualdade social visível. A pequena cidade industrial tornou-se maior e principalmente dividida entre dois extremos, o lado leste, onde a pobreza era alarmante e o lado oeste, onde viviam os homens cidadãos e, segundo os moradores mais antigos, os "frufruzentos".

É na parte oeste, onde a história da personagem principal desse livro começa, mais especificamente em uma casa de família unida na rua de Birminghton em 1968.

Mal raiava a manhã de domingo, quando um estrondo grande reverborou pela residência dos Evans, acordando seus proprietários de um sono tranquilo. Desesperada, Rose Evans se levantou rapidamente, sua aparência cansada substituida por seus olhos verdes brilhantes arregalados em preocupação e seus cabelos loiros soltando-se do coque desarrumado por dormir demais.

"Você ouviu isso?" - Perguntou Rose ao marido, Henry Evans, o qual apesar de acordado com o estrondo não parecia tão preocupado quanto a esposa.

"Obviamente" - Henry respondeu - "Petúnia provavelmente decidiu inventar uma de suas receitas mirabolantes pro café da manhã de novo, eu te disse que seria uma péssima ideia dar a ela aquele livro de culinária de aniversário"

A Sra.Evans mal podia acreditar na calma do marido nesse tipo de situação. Casada com o homem à 10 anos, ainda não conseguia se acostumar com tamanha indiferença. Colocara na cabeça que essa calma viria do treinamento profissional do marido, que era professor.

"Você precisa ir checar se está tudo bem! Alguém pode ter invadido a casa pelo que sabemos! Não se preocupa com suas filhas?" - exclamou Rose.

O Sr.Evans pareceu extremamente ofendido com a colocação da esposa mas revirou seus olhos, também verdes, e se retirou da cama com um olhar determinado.

"Acho que vou ter que expulsar as panquecas então" - disse o Sr.Evans em um tom sério obviamente falso - "Gotas de chocolate são muito prejudiciais para crianças"

Henry saiu disparado pela porta ignorando as reclamações de sua esposa, descendo as escadas até a cozinha, ouviu calmamente do que se tratava a comoção anterior.

"Eu te disse, Lily!" - exclamava Petúnia Evans da bancada da pia - "Você ainda é muito nova pra cozinhar como eu! Agora, se esse barulhão tiver acordado a mamãe e o papai você vai ter problemas."

Petunia Evans, de 10 anos, era a filha mais velha do casal. Seus cabelos loiros e longos, assim como sua fisionomia alta e esguia, puxavam sua mãe. Na verdade, seria quase uma cópia perfeita dela se não fosse pelos seus olhos que tinham um tom de verde mais claro como os de Henry.

O pai observava a interação de suas filhas curiosamente da escada. Petúnia, que reclamava com Lily, parecia divertida, diferentemente da irmã mais nova que parecia perder a paciência cada vez mais.

"Você é so 2 anos mais velha do que eu, Pet!" - reclamou a menina mais baixa - "Eu tinha certeza que ia conseguir pegar a panela se você não ficasse reclamando comigo!"

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