Capítulo 1

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Madden Fairfax

Àquela hora, estava na beira da praia, os olhos vermelhos de tanto sal, garganta seca, corpo dolorido. Havia esperado muito pela melhor onda e, quando esta chegou, quase me arrastou consigo. Mas estava satisfeito. Agora a América conhecia Madden Fairfax.

— Isso é um acampamento de verão, Madden — repreendeu-me um monitor. — Não deveria se arriscar tanto.

— Os rapazes estão aqui pelas garotas e as garotas pela possibilidade de ficar na praia sem encheção de saco. Tem gente se pegando embaixo do seu nariz e está preocupado comigo e minha prancha, senhor Gwen? Ora, por favor. — arrisquei um tom satírico. Seu rosto tornou-se rubro rapidamente, talvez não estivesse preparado para ouvir aquilo. — Acho que tem problemas maiores do que esse.

— De fato, tenho. Mas se morresse naquela maldita onda, você estaria no topo deles — repreendeu-me novamente. — Se queria se exibir, era melhor...

— Me exibir? Para que? — interrompi-o. — Não sou americano, as ondas daqui são medíocres e vocês são todos caretas. Vou me exibir pra quem?

O olhar me fuzilou. Talvez eu não devesse brincar com o patriotismo alheio, mas, para mim, aquilo era uma grande piada.

— Sabe, deveria me deixar em paz — sugeri, empertigando-me.

Apesar de mais velho, o senhor Gwen era muito mais baixo do que eu.

— Ficará feliz se eu chegar em casa e pedir ao senhor Fairfax escrever uma carta recomendando essa droga — prossegui, abusando de um poder que eu sequer possuía. — Mas não vou fazer isso se o senhor tentar me atrapalhar da próxima vez que uma onda decente aparecer. Ah, e meu colega de quarto está fazendo uma "festinha" particular enquanto o senhor está aqui perdendo tempo comigo, deveria ir dar uma olhada.

Menti. Nunca deduraria um companheiro, ainda que fôssemos praticamente desconhecidos.

— Finalmente — resmunguei ao vê-lo sair.

A tarde já estava chegando ao fim, escorei as costas na areia, rendido pelo cansaço. Era o último dia, havia acabado o único frasco de vodca que escondi na mala e meu pai acabaria comigo se fosse pego fumando. Não tinha o que fazer além de... observar.

Nossa.

Aquilo parecia ter descido do céu. Não parecia filha de um homem, mas de algo imortal com certeza. Esfreguei os olhos, pensando ser coisa da minha cabeça. Não a vi nos outros dias, talvez estivesse delirando depois de engolir tanta água salgada. Sentei-me automaticamente, de repente meus olhos fixaram naquele ponto claro feito um grão de areia. E nada me faria mudar de foco. A visão parecia efêmera, quase uma miragem de tão delicada. Levantei-me. Mais rápido do que o saudável. Minha visão escureceu.

Droga.

Estava cambaleando em sua direção, meus passos quase automatizados se direcionavam a ela sem que eu pudesse raciocinar algo. Busquei quaisquer informações em minha mente, como não a vi antes? Estava certo de que me lembraria se a loura tivesse cruzado meu caminho alguma vez. No entanto, ela sequer me notou. Antes que pudesse alcançá-la um idiota passou os braços por sua cintura e a arrastou para o lado oposto.

Talvez fosse seu namorado.

E, se fosse, não seria educado prosseguir com a minha aproximação. Então, desisti da ideia.

Têm meninas bonitas no continente americano, afinal. Isso era... interessante.

Quando a noite terminou de escurecer o céu, todos se sentaram ao redor da fogueira. Os monitores agradeciam por finalmente conseguirem juntar todo mundo e evitavam que qualquer um se aproximasse do mar. Tinha gente tocando violão, marshmallow à vontade, suco fresco e sacos de dormir para quem quisesse ficar ao ar livre. Não fora um fim de semana ruim, ao menos não de todo modo.

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